DÊ-ME SEU PERDÃO...
Nada disto deveria ser tratado telepaticamente, e sim à maneira do dinheiro: clássica.
Como sempre, a atitude de Hamlet para com Laerte está marcada de ambiguidade. Quando, na cena anterior, lamenta diante de Horácio ter iniciado o conflito com Laerte, ele lembra, mesmo assim, que ficara repugnado com a ênfase do discurso de Laerte. Agora, se não há (strictu sensu) duplicidade, o discurso de Hamlet soa estranhamente artificial, lançando mão do argumento da ''loucura'' e da perda da identidade própria, que o teriam levado a cometer os crimes anteriores. A primeira questão é que espécie de loucura é a de Hamlet, pois não é a perda total da razão, a alucinação pura e simples que encontramos em Ofélia (NYT). Somente isso torna seu argumento falso em parte. Conhecemos bem a teatralidade de Hamlet, e eis aqui talvez mais um de seus momentos. O que é notável é seu estilo ''lógico'', desfiado por meio de frases condicionais e que, em certa medida, repete a lógica do ergo (logo) dos coveiros, um estilo que não traz nenhuma atenuante emocional, nenhuma palavra de piedade. Sua frieza é óbvia, beira o autismo, e não dá de modo algum a medida do pesar de Hamlet. Essa percepção, contudo, deve ser colocada num contexto em que Hamlet esteja talvez consciente da trama montada, o que faz de seu pedido um discurso fadado ao fracasso.
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RECOGNIZANCE...
Em termos jurídicos, a ''recognizance'' é um contrato que cientifica o reconhecimento de um débito, e o ''statute'' assegurava o débito incidindo sobre as terras do devedor.
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FINE...
''Fine'' é uma ação que leva a um acordo que se chamava ''Finalis Concordia''.
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RECOVERY...
A ''Recovery '', por sua vez, era um processo para obtenção da posse.
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FINAL...
Todos estes eram procedimentos necessários para efetivar a transferência de domínios. No fim da sequência, contudo, ''Fine'' passava a ter sentido de ''Final''.
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Nada disto deveria ser tratado telepaticamente, e sim à maneira do dinheiro: clássica.
Post Scriptum
Saber retratar-se á tempo...
Meister Eckhart e Mansur Al-Hallaj ¡O Cristo, o Jesus do Islã!, os dois durante uma etapa de suas vidas andaram com mulheres muito lúcidas e muito revolucionárias.
Mansur se apartou da revolução exterior e explicou porque e se entregou tanto á interior e se tornou tão perigoso e inflamado que acabou sendo esquartejado. Havia advertido e proclamava que era Deus. Dizem os muçulmanos que mesmo depois de esquartejado, seu sangue seguia borbulhando no chão e gritando:''Sou Deus!"'
Na Índia, antes que a democratizassem socialmente ou a socializmassem democraticamente, era comum te felicitarem por você advertir e proclamar sua própria divindade em público
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E como Meister Eckart andasse ''mansureando'' bastante nos seus bons tempos, mais de uma vez esteve perto de ser queimado na fogueira, mas sempre se retratava á tempo com êxito...
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E como Meister Eckart andasse ''mansureando'' bastante nos seus bons tempos, mais de uma vez esteve perto de ser queimado na fogueira, mas sempre se retratava á tempo com êxito...
Postado por Matheus Dulci às 03:46
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