quarta-feira, 31 de outubro de 2018

PARE TONÔMETRO


A sociologia política de Pareto é um escrutínio meticuloso da energia e das forças impulsoras que subjazem idéias e crenças políticas. De seu estudo, ele conclui que independentemente de sua aparente utilidade ou validade, idéias e crenças muitas vezes dissimulam comportamentos mórbidos. Alguns dos estudantes de Pareto chegaram ao ponto de traçar um paralelo entre ele e Freud, notando que enquanto Freud tentou descobrir um comportamento patológico entre indivíduos aparentemente normais, Pareto tentou desmascarar condutas sociais irracionais que jazem camufladas em ideologias e crenças políticas respeitáveis.
Em geral, Pareto afirma que os governos tentam preservar sua estrutura institucional e harmonia interna por uma justificativa a posteriori do comportamento de sua elite governante - um procedimento que está em contraste direto aos objetivos originais do governo. Isso significa que os governos devem "sanar" comportamentos violentos e às vezes criminosos pela adoção de rótulos auto-racionalizantes como "democracia", "necessidade democrática" e "luta pela paz", para nomear alguns. Seria errado, porém, assumir que comportamento inadequado é exclusivamente o resultado de conspiração governamental ou de políticos corruptos engajados em enganar o povo. Políticos e mesmo pessoas comuns tendem a perceber um fenômeno social como se ele estivesse refletido em um espelho convexo. Eles avaliam seu valor apenas após terem primeiro deformado sua realidade objetiva. Assim, alguns fenômenos sociais, como revoltas, golpes, ou atos terroristas, são vistos pelo prisma de convicções pessoais, e resultam em opiniões baseadas na força ou fraqueza relativas dessas convicções. Muito provavelmente, tal líder é uma vítima de auto-enganos, cujos atributos ele considera "cientificamente" e corretamente fundados, e que ele benevolamente deseja partilhar com seus súditos. Para ilustrar o poder da auto-enganação, Pareto aponta para o exemplo dos intelectuais socialistas. Ele observa que "muitas pessoas não são socialistas por terem sido persuadidos pela razão. Muito pelo contrário, essas pessoas aquiescem a tal raciocínio por elas (já) serem socialistas".
Em seu ensaio sobre Pareto, Guillaume Faye, um dos fundadores da "Nova Direita" Européia, nota que liberais e socialistas ficam escandalizados pela comparação de Pareto das ideologias modernas a neuroses: a manifestações latentes de efeitos irreais, ainda que essas ideologias - socialismo e liberalismo - afirmem apresentar descobertas racionais e "científicas". Na teoria de Freud, complexos psíquicos se manifestam em idéias de obsessão: nomeadamente, neuroses e paranóias. Na teoria de Pareto, em contraste, impulsos psíquicos - que são chamados resíduos - se manifestam em derivativos ideológicos. Retórica sobre necessidade histórica, verdades auto-evidentes, ou determinismo econômico e histórico são os meros derivativos que expressam impulsos psíquicos residuais e forças como a persistência de grupos uma vez formados e o instinto para combinação.
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Como muitos conservadores europeus antes da guerra, Pareto repudiava o mito moderno liberal e socialista de que a história demonstrava um progresso inevitável levando a paz social e prosperidade. Junto a seu contemporâneo alemão Oswald Spengler, Pareto acreditava que não importa quão sofisticada a aparência de alguma crença ou ideologia, ela quase certamente decairia, com o tempo. Não surpreendentemente, as tentativas de Pareto de denunciar a ilusão do progresso e revelar a natureza do socialismo e do liberalismo levou a que muitos teóricos contemporâneos se distanciassem de seu pensamento.
Pareto afirma que ideologias políticas raramente atraem por causa de seu caráter empírico ou científico - ainda que, é claro, toda ideologia reivindique tais qualidades - mas por causa de seu enorme poder sentimental sobre a população. Então veio Marx com o socialismo científico, seguidos pelos liberais modernos e sua "religião auto-evidente dos direitos humanos e da igualdade". Segundo Pareto, resíduos subjacentes são prováveis de se materializar em formas ou derivativos ideológicos diferentes, dependendo de cada época histórica. Já que as pessoas necessitam transcender a realidade e realizar incursões frequentes nas esferas do irreal e do imaginário, é natural que elas abracem justificativas religiosas e ideológicas, independentemente do quão intelectualmente indefensáveis esses recursos possam parecer para uma geração posterior. Ao analisar este fenômeno, Pareto toma o exemplo dos "crentes" marxistas e nota: "Esse é um esquema mental atual de alguns marxistas educados e inteligentes em relação à teoria do valor. Desde o ponto de vista lógico eles estão errados; do ponto de vista prático e da utilidade para sua causa, eles estão provavelmente corretos". Infelizmente, continua Pareto, esses crentes que clamam por mudanças sociais sabem apenas o que destruir e como destruir; eles estão plenos de ilusões sobre com o que eles devem substituir: "E se eles pudessem imaginar, um grande número entre eles seriam fulminados de horror e assombro".
Ideologia e História
Os resíduos de cada ideologia são tão poderosos que eles podem obscurecer completamente a razão e o senso de realidade; ademais, não é provável que desapareçam mesmo quando eles assumem uma "capa" diferente em um mito ou ideologia aparentemente mais respeitável. Para Pareto este é um processo histórico perturbador para o qual não há fim em vistas:
"Essencialmente, a fisiologia social e a patologia social estão ainda em sua infância. Se queremos compará-las à fisiologia e patologia humanas, não é a Hipócrates que temos que retornar, mas muito além dele. Governos se comportam como médicos ignorantes que aleatoriamente escolhem remédios em uma farmácia e os administram aos pacientes".
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", apto.

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