domingo, 28 de outubro de 2018
A DRAGONIZAÇÃO É TOTALMENTE ANDRÓGINA (só existe UM DRAGÃO, e é preciso matá-lo)
I
Antes de desmontar a anedocta da noite
e compreender minha euforia, nutri-me
de sugestões alimentíceas, e SÓ então
pensei N´ela, elegendo-a sem desespero
entre muitas outras, docilmente
inclinado à necessita-la. Na Câmara
da Fome, haviam-se acumulado
pequenos ossos, sujos demais e
pudins de terra arrasada e
gelatinas de nuvens cinematográficas
degradadas por pretensões políticas
cheias de cúmulos amedrontados: TUDO
bem guardado nas dobras do meu casaco.
Pois bem, conhecemos a importância
da comida para a criança-dragão
e o gosto que a CARNE tem para ela:
aquela arte sutil de transformar
um Karrão Maquiavélico
num humilde Matheus do V ato,
cuja inocência nos faria chorar...
Mais uma vez, testava ele os
nervos da vida boa, dragonizando cigarros
um após o outro, sulfurando cenas
nos lábios, enquanto fazia o RELATO:
''O mais belo Frango do mundo (já
o sabemos, dizia) não é protegido dos chineses e,
no entanto, não se quebra; há eletricidade
demais em seu aço, e adamantium
wolverinizado, auto-imuninzado
por leis de milícias inteiras
que protegem o Frango da degola. E
há aquela Fome insolúvel, sem sentido,
que se alimenta de si mesma, vinda
do Vento, de sua Voz glacial, onde
o sopro do Inferno baila, OLHA e
pousa em teu ombro uma mensagem
tão pálida que, mal a decifras,
já acordas apalpando as cicatrizes
deixada por ela em tua mirada.
Fatalmente, entre o Frango e a Fome ,
entre a Mão e a Fome, entre
o Dragão e Morte, o que vale é
a Lei das Éguas --- transformando
o Frango em Cavalo. Em cascos
que flutuam sobre fomes menores,
pisoteando chifres e preservativos,
cortando jatos de esperma
com coices de anfetaminas loucas,
galopando vácuos cósmicos inteiros
ATÉ O FIM, numa velocidade
de atropelamento fixo, eterno
como a CHAMA DA FOME ATÔMICA TOTAL.
K.M.
II
No festim solitário meus dons se aguçam,
e com eles as amadas se multiplicam.
Dons fluidos com fervor de diamantes
psicografados ''uretralmente'', pela
MÃO. A cabana do poeta se faz
lua de gramofones, urrando longe
''LOVER GO HOME!'', o gozo
de que participa, naquele
mundo fechado onde aprisiona
suas eleitas. O desejo arde
de tanta comunicação
BEM-SUCEDIDA
(e no hálito da Besta
vai lambendo o SONO DA NOITE
nas geleiras da ronda astral).
O Rito da festa engole até
a mentira do Orgulho Ferido,
sem raiva ou malícia,
refém da própria Casa
onde os corpos voam, correndo
sem alternativa ''plausível''
ou substituto à altura,
em meio ao assombro
e à ameaça da nulificação
total. Enquanto o espelho agride
o entorno subjugado, A MÃO
está agradecida, ENORME
sobre a Casa do Ventre,
demorando-se tiranicamente
em cada flanco em que se afunda
borbulhando frases em chinês
''maquinalmente'', à cada palmo de pele.
IDEOGRAFICAMENTE FALANDO, há
um índice de estratificação astral
tão depurado, que não sabemos dizer
a quem ele ama. Os olhos do Dragão
abrem-se mais lúcidos
(EM ÁLCOOL)
à cada vez, COMO
um cofre, onde a riqueza
cultivou-se sozinha
somente para si mesma.
Cultivou-se por meio de
arquejos poéticos
inimitáveis, inumanos e
por meio de telegramas
acadêmicos em série e
por meio de atrações psíquicas
absolutamente letais
que extrapolam toda precaução
alquímica recomendada,
extraindo segredos prometeicos
de uma fábrica de proibições volitivas
(tarifada pelo próprio Deus)
apenas para fundar sua Dinastia.
A RECORDAÇÃO guarda ainda o CAVALO
esporado pelo próprio delírio,
cavando ainda mais fundo
na carne, o abismo onde as imagens
copulam com os refletores de sua insônia.
K.M.
III
Agora que comecei o dia
voltando à tua mirada angélica
e me encontraste bem, e eu
a encontrei ainda mais linda
(agora que, enfim, o megafone
da noite, feito em pedaços,
ainda vibra nos nossos corpos)
o Lagarto Múltiplo
da Unidade Primordial
volta a se mascarar ---
volta arruinado
por tanta plenitude,
conforme as algas astrais
amalgamadas, operadas
por sua auto-confiança
na mesa de cirurgia tântrica.
MASCARADO (é o mesmo? --
homem? --- ISSO
é um homem???) DE:
aprendiz, bombeiro, caixeiro-viajante;
cordeiro, imigrante, ministro
das finanças; baleado
general do front, maquinista
de trem, trem, descarrilhado
noivo açougueiro, ID
soldado raso violinista
submarino, esquadra de
circo artista de Companhia SA
de Marquês, marinheiro, polvo
carregador de piano entregador
de pizzas empacotador de
supermercado cineasta-operador
de bolsa vendedor de lingerie
animador de plateia árbitro
encurralado furacão fenda
operádica cavalete mão
rosto invisível escuridão
golpe de água livro
aberto imagem credencial
espelho assassino luneta
de etcs. O ETC infinito
da fugacidade, completamente
devastada pela dúvida.
Mas, FAÇAMOS UM TRATO:
tu não mencionas com os olhos
meu ofício de matar, que eu
prometo-me meigo, e incapaz de
propriedade sobre vós. Na estrada
em que erramos o endereço
de todas as entregas, todas
as molas dessa geringonça astral
se unirão, em favor de mais alguns
frios privilégios meus
sobre vós. Dar-te-ei
um tempo de dianteira
(digamos: seis horas)
antes que o capricho,
a soberba, a cólera,
a luxúria, a gula, a
inveja, a detestável
imundície da Força
volte a explodir no meu peito
e apagar todas as nossas conversas
com um ódio tão apaixonado
que nenhum livro de Nietzsche
conseguiria reproduzir o estrondo
desse riso, tão louco
e premeditado, que até a Sombra
do mundo se assustará.
Mais tarde, o lápis secreto
voltará a salivar sob sua língua,
e palavras anônimas, zumbindo
através de uma nova máscara,
buscarão de novo a justa medida
de nossa reconciliação... COMO
se nada tivesse acontecido. COMO
se uma série de esperanças ditatoriais
tivesse acabado de nascer
(entre fezes e urina)
de entre vossas pernas,
numa estrada de pó e poemas.
K.M.
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