terça-feira, 9 de outubro de 2018

Der in den Riss gebrachte und so in die Erde zurückgestellte und damit festgestellte Streit ist die Gestalt. Geschaffensein des Werkes heisst: Festgestelltsein der Wahrheit in die Gestalt

Terra e mundo funcionam no pensamento de Heidegger como ampliadores ou amplificadores ontológicos do papel que, na tradição estética, assumiram e ainda assumem as categorias da matéria e da forma como reguladoras da produção artística. A obra de arte não significa simplesmente uma operação subjetiva, operada pelo artista, que aplica conforme suas intenções e planos uma forma a uma matéria, mas é antes a mobilização da "natureza" como um todo (da terra como a physis dos gregos), bem como do mundo, sendo o mundo situado como uma espécie de condensação de todas as significações possíveis na projeção do homem como ser-no-mundo. A terra irrompe, ao modo da physis, na obra de arte, e é lançada no mundo, como um mundo, de modo que esse irromper e o ser lançado geram um combate.

Também essa noção de combate implica um remanejamento da estética tradicional, pois a obra é compreendida para além da concepção tradicional de harmonia e equilíbrio ou até mesmo da categoria kantiana e schilleriana de jogo. Tampouco o combate é a expressão de uma aparência, contudo, da verdade apreendida para além da estrutura do enunciado. A verdade é, em Heidegger, o descobrimento e o encobrimento, segundo o termo que os gregos empregaram para dizer a verdade: alétheia, antes do surgimento da metafísica como o discurso do ser do ente.

Esse posicionamento terreno e mundano da obra de arte se consolida na medida em que encontra uma Gestalt, uma forma como substantivação e acomodação do stellen que assumiu uma configuração sensível. Obviamente, o processo da figuração artística não será tranquilo, porque, como resultado de um combate, importa que a obra de arte mantenha viva a luta de terra e mundo, no interior de uma diferença ontológica. E isso somente poderá acontecer caso, nesse combate, pulse uma certa tensão entre contrários ou até mesmo uma "ruptura", que Heidegger exprime por meio do termo Riss, "rasgo" ou "traço", situado entre os dois posicionamentos.

Com isso, a obra de arte alcança um complexo processo de posicionamento. Reproduzo, em alemão, um trecho central do ensaio de Heidegger, que indica vários parentescos conceituais do stellen: "Der in den Riss gebrachte und so in die Erde zurückgestellte und damit festgestellte Streit ist die Gestalt. Geschaffensein des Werkes heisst: Festgestelltsein der Wahrheit in die Gestalt" (HEIDEGGER, 2003a, p. 51). Traduzindo, temos: "A forma é a luta conduzida para dentro do rasgo e assim reconduzida para a terra e solidamente estabelecida. Ser criada a obra significa: estar a verdade solidamente estabelecida na forma".

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