quarta-feira, 31 de outubro de 2018

DÊ-ME SEU PERDÃO (saber retratar-se á tempo)


DÊ-ME SEU PERDÃO...
Nada disto deveria ser tratado telepaticamente, e sim à maneira do dinheiro: clássica.
Como sempre, a atitude de Hamlet para com Laerte está marcada de ambiguidade. Quando, na cena anterior, lamenta diante de Horácio ter iniciado o conflito com Laerte, ele lembra, mesmo assim, que ficara repugnado com a ênfase do discurso de Laerte. Agora, se não há (strictu sensu) duplicidade, o discurso de Hamlet soa estranhamente artificial, lançando mão do argumento da ''loucura'' e da perda da identidade própria, que o teriam levado a cometer os crimes anteriores. A primeira questão é que espécie de loucura é a de Hamlet, pois não é a perda total da razão, a alucinação pura e simples que encontramos em Ofélia (NYT). Somente isso torna seu argumento falso em parte. Conhecemos bem a teatralidade de Hamlet, e eis aqui talvez mais um de seus momentos. O que é notável é seu estilo ''lógico'', desfiado por meio de frases condicionais e que, em certa medida, repete a lógica do ergo (logo) dos coveiros, um estilo que não traz nenhuma atenuante emocional, nenhuma palavra de piedade. Sua frieza é óbvia, beira o autismo, e não dá de modo algum a medida do pesar de Hamlet. Essa percepção, contudo, deve ser colocada num contexto em que Hamlet esteja talvez consciente da trama montada, o que faz de seu pedido um discurso fadado ao fracasso.

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RECOGNIZANCE...
Em termos jurídicos, a ''recognizance'' é um contrato que cientifica o reconhecimento de um débito, e o ''statute'' assegurava o débito incidindo sobre as terras do devedor.
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FINE...
''Fine'' é uma ação que leva a um acordo que se chamava ''Finalis Concordia''.
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RECOVERY...
A ''Recovery '', por sua vez, era um processo para obtenção da posse.
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FINAL...
Todos estes eram procedimentos necessários para efetivar a transferência de domínios. No fim da sequência, contudo, ''Fine'' passava a ter sentido de ''Final''.
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Nada disto deveria ser tratado telepaticamente, e sim à maneira do dinheiro: clássica.

Post Scriptum

Saber retratar-se á tempo...
Meister Eckhart e Mansur Al-Hallaj ¡O Cristo, o Jesus do Islã!, os dois durante uma etapa de suas vidas andaram com mulheres muito lúcidas e muito revolucionárias.
Mansur se apartou da revolução exterior e explicou porque e se entregou tanto á interior e se tornou tão perigoso e inflamado que acabou sendo esquartejado. Havia advertido e proclamava que era Deus. Dizem os muçulmanos que mesmo depois de esquartejado, seu sangue seguia borbulhando no chão e gritando:''Sou Deus!"'
Na Índia, antes que a democratizassem socialmente ou a socializmassem democraticamente, era comum te felicitarem por você advertir e proclamar sua própria divindade em público
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E como Meister Eckart andasse ''mansureando'' bastante nos seus bons tempos, mais de uma vez esteve perto de ser queimado na fogueira, mas sempre se retratava á tempo com êxito...
Postado por Matheus Dulci às 03:46

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O eleitor americano íntegro e honesto que me perdoe...

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Mercado financeiro americano ganhou muito em muito pouco tempo, e ''corrigiu'' muito em muito pouco tempo. Isso não tem nada a ver com a política econômica do governo. Rebanho eletrônico é expressão de algo mais ''amalgamado'' e complexo do que pretendem os reducionismos de ocasião, muitos dos quais buscando ''leituras'' eleitorais favoráveis aos seus interesses políticos, como no caso dos Democratas.

Rebanho tem seu próprio ''código de honra'', e sua própria ''omertá'', n´algumas vezes as ''mágoas políticas'' os conservam felizes, n´outras, penduram até no que há de mais santo uma ''pequena cauda de choradeira'', que nenhuma relação guarda com o bem estar do povo americano.Como é evidente, o BOI se pretende um ''espírito pesado'', um espírito que pesa um ''quintal'', e até conseguem simular um espírito de pesadume, quando estão sendo marcados a ferro pela dança das cadeiras no poder.

É preciso uma certa dose de egoísmo de investidor, para ver nos seus pretensos ''instintos caluniados'' uma causa política relevante nestas eleições. O eleitor americano íntegro e honesto que me perdoe, mas esse tipo de psicologia é um termômetro de ''maus motivos''. O eleitor deve buscar um olhar psicológico mais refinado, mais sábio e promissor sobre sua própria política, do que o oferecido por ''oscilações de Bolsas''.

K.M.

PARE TONÔMETRO


A sociologia política de Pareto é um escrutínio meticuloso da energia e das forças impulsoras que subjazem idéias e crenças políticas. De seu estudo, ele conclui que independentemente de sua aparente utilidade ou validade, idéias e crenças muitas vezes dissimulam comportamentos mórbidos. Alguns dos estudantes de Pareto chegaram ao ponto de traçar um paralelo entre ele e Freud, notando que enquanto Freud tentou descobrir um comportamento patológico entre indivíduos aparentemente normais, Pareto tentou desmascarar condutas sociais irracionais que jazem camufladas em ideologias e crenças políticas respeitáveis.
Em geral, Pareto afirma que os governos tentam preservar sua estrutura institucional e harmonia interna por uma justificativa a posteriori do comportamento de sua elite governante - um procedimento que está em contraste direto aos objetivos originais do governo. Isso significa que os governos devem "sanar" comportamentos violentos e às vezes criminosos pela adoção de rótulos auto-racionalizantes como "democracia", "necessidade democrática" e "luta pela paz", para nomear alguns. Seria errado, porém, assumir que comportamento inadequado é exclusivamente o resultado de conspiração governamental ou de políticos corruptos engajados em enganar o povo. Políticos e mesmo pessoas comuns tendem a perceber um fenômeno social como se ele estivesse refletido em um espelho convexo. Eles avaliam seu valor apenas após terem primeiro deformado sua realidade objetiva. Assim, alguns fenômenos sociais, como revoltas, golpes, ou atos terroristas, são vistos pelo prisma de convicções pessoais, e resultam em opiniões baseadas na força ou fraqueza relativas dessas convicções. Muito provavelmente, tal líder é uma vítima de auto-enganos, cujos atributos ele considera "cientificamente" e corretamente fundados, e que ele benevolamente deseja partilhar com seus súditos. Para ilustrar o poder da auto-enganação, Pareto aponta para o exemplo dos intelectuais socialistas. Ele observa que "muitas pessoas não são socialistas por terem sido persuadidos pela razão. Muito pelo contrário, essas pessoas aquiescem a tal raciocínio por elas (já) serem socialistas".
Em seu ensaio sobre Pareto, Guillaume Faye, um dos fundadores da "Nova Direita" Européia, nota que liberais e socialistas ficam escandalizados pela comparação de Pareto das ideologias modernas a neuroses: a manifestações latentes de efeitos irreais, ainda que essas ideologias - socialismo e liberalismo - afirmem apresentar descobertas racionais e "científicas". Na teoria de Freud, complexos psíquicos se manifestam em idéias de obsessão: nomeadamente, neuroses e paranóias. Na teoria de Pareto, em contraste, impulsos psíquicos - que são chamados resíduos - se manifestam em derivativos ideológicos. Retórica sobre necessidade histórica, verdades auto-evidentes, ou determinismo econômico e histórico são os meros derivativos que expressam impulsos psíquicos residuais e forças como a persistência de grupos uma vez formados e o instinto para combinação.
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Como muitos conservadores europeus antes da guerra, Pareto repudiava o mito moderno liberal e socialista de que a história demonstrava um progresso inevitável levando a paz social e prosperidade. Junto a seu contemporâneo alemão Oswald Spengler, Pareto acreditava que não importa quão sofisticada a aparência de alguma crença ou ideologia, ela quase certamente decairia, com o tempo. Não surpreendentemente, as tentativas de Pareto de denunciar a ilusão do progresso e revelar a natureza do socialismo e do liberalismo levou a que muitos teóricos contemporâneos se distanciassem de seu pensamento.
Pareto afirma que ideologias políticas raramente atraem por causa de seu caráter empírico ou científico - ainda que, é claro, toda ideologia reivindique tais qualidades - mas por causa de seu enorme poder sentimental sobre a população. Então veio Marx com o socialismo científico, seguidos pelos liberais modernos e sua "religião auto-evidente dos direitos humanos e da igualdade". Segundo Pareto, resíduos subjacentes são prováveis de se materializar em formas ou derivativos ideológicos diferentes, dependendo de cada época histórica. Já que as pessoas necessitam transcender a realidade e realizar incursões frequentes nas esferas do irreal e do imaginário, é natural que elas abracem justificativas religiosas e ideológicas, independentemente do quão intelectualmente indefensáveis esses recursos possam parecer para uma geração posterior. Ao analisar este fenômeno, Pareto toma o exemplo dos "crentes" marxistas e nota: "Esse é um esquema mental atual de alguns marxistas educados e inteligentes em relação à teoria do valor. Desde o ponto de vista lógico eles estão errados; do ponto de vista prático e da utilidade para sua causa, eles estão provavelmente corretos". Infelizmente, continua Pareto, esses crentes que clamam por mudanças sociais sabem apenas o que destruir e como destruir; eles estão plenos de ilusões sobre com o que eles devem substituir: "E se eles pudessem imaginar, um grande número entre eles seriam fulminados de horror e assombro".
Ideologia e História
Os resíduos de cada ideologia são tão poderosos que eles podem obscurecer completamente a razão e o senso de realidade; ademais, não é provável que desapareçam mesmo quando eles assumem uma "capa" diferente em um mito ou ideologia aparentemente mais respeitável. Para Pareto este é um processo histórico perturbador para o qual não há fim em vistas:
"Essencialmente, a fisiologia social e a patologia social estão ainda em sua infância. Se queremos compará-las à fisiologia e patologia humanas, não é a Hipócrates que temos que retornar, mas muito além dele. Governos se comportam como médicos ignorantes que aleatoriamente escolhem remédios em uma farmácia e os administram aos pacientes".
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", apto.

COMO em “ebulição”, a necessidade de reajustar o Estado às novas demandas globais e locais, nasce um novo paradigma que se caracteriza como um processo universal e sem precedentes, esse movimento fica conhecido como Reforma do Estado



É nesse contexto que Castells (1997) chama a atenção para o fato de que o Estado continua soberano, mas sem capacidade de ação, há produção de uma crise de legitimidade, onde, o Estado torna-se cada vez mais inoperante no sentido global e menos representativo no nacional. Segundo Azevedo (1999), o mundo passa a ser percebido em dois cenários que as agências públicas nacionais deverão se adequar: (a) “tragédia dos comuns” – onde todos os países inclusive os ricos, seriam prejudicados pela falta de regulamentação adequada ao novo mercado internacional; e (b) institucionalização incremental de base de negociações múltiplas, ou seja, adequação dos países a blocos supranacionais e, em um segundo momento, a consolidação de grupos regionais constituídos por dois ou mais países.
Segundo Azevedo a globalização em sua vertente econômica diz respeito somente à internacionalização do capital, não há relação à globalização da mão-de-obra, pelo contrário, para o autor, não se faz referência a uma cidadania universal. Um dos principais desafios é a formulação, por parte do Estado, de um novo marco de regulação que consiga dar conta dessas complexas transformações. É nesse sentido que se percebe surgir, como em “ebulição”, a necessidade de reajustar o Estado às novas demandas globais e locais, nasce um novo paradigma que se caracteriza como um processo universal e sem precedentes, esse movimento fica conhecido como Reforma do Estado (KETTL : 1999).
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Segundo Azevedo (1999), ao se considerar movimentos de reforma do setor público, torna-se importante estabelecer a distinção de reforma administrativa e reforma do Estado. Para esse autor, a reforma administrativa seria a adaptação de uma nova gestão à administração de um novo governo, ou seja, seria basicamente a troca de gestão administrativa. Por seu turno, a reforma do Estado teria um significado mais abrangente, o que o autor considera de cunho revolucionário, não na acepção marxista de transformações estruturais do chamado “modo de produção”, mas no sentido de ruptura do pacto social, ou seja, redefinição da distribuição e produção dos direitos civis e políticos, defesa externa, direito a educação, saúde, infra-estrutura, etc., assim sendo, ao que denomina de “bem público”. A idéia de reforma do Estado se relaciona a processo permanente que engloba dimensões políticas, econômicas, institucionais, jurídicas e, inclusive, culturais. Nesse sentido, esse conjunto de reformas que se percebe surgir, por ser universal e por se caracterizar como um “momento” histórico de mudança estrutural pode, aos olhos de Azevedo (1999), ser considerado como um momento revolucionário. Kettl (1999) demonstra que além das transformações no âmbito da política pública trata-se de uma revolução de idéias.
Desde o início dos anos 80 o tema reforma do setor público aparece como um fenômeno de caráter global. Em nenhum outro momento histórico esse movimento, caracterizado por tendências à modernização e agilidade na prestação de serviço público e redução do tamanho do Estado, foi percebido de forma tão universal. Mesmo em estados em que o setor governamental já é considerado reduzido, como o Reino Unido, essa tendência demonstrou-se verdadeira. Entretanto, Kettl (1999) demonstra que é importante aos reformadores do setor público se conscientizarem que a administração pública tem de ter senso público, tem que estar sensível ao interesse público, “uma reforma genuína deve procurar sempre o equilíbrio entre os novos mecanismos geradores de eficiência sem jamais perder de vista as eternas questões relativas à res publica.” (KETTL : 1999, pp. 105). Nesse sentido, em consonância ao pensamento de reforma do setor público, vimos surgir dilemas que por um lado, demonstram a complexidade de se realizar a reforma e por outro, acentuam demandas para a sua realização. Dentre esses dilemas Kettl destaca dois: o primeiro é a necessidade de se organizar governos que funcionem melhor a um custo mais baixo e o segundo é a definição do próprio papel que o governo deve desempenhar como um dos principais atores da reforma. Não obstante, os dois dilemas podem convergir a um mesmo objeto, ou seja, um governo mais eficiente e menos oneroso pode auxiliar na adequação e capacitação da Administração Pública em desempenhar melhor o seu papel de provedora de serviços públicos e, assim, dinamizar o atendimento ao cidadão. Nesse sentido, uma administração pública deve relacionar-se não com o que se denomina cliente ou consumidor, mas ter como beneficiário o cidadão. Deve-se pensar na administração pública não numa perspectiva de quem paga o serviço (cliente) e quem recebe por ele (o funcionário), mas quem tem o direito de receber (o cidadão) e quem tem o dever de fornecer (a administração), segundo Guidi (2001), nesse contexto passamos a falar de soberania e cidadania.
Segundo Kettl (1999) há um esforço global para compatibilizar redução do Estado e consolidação de formas de administração com o que irá sobrar desses cortes. "É provável que a história registre este como o primeiro efeito verdadeiro da era da informação: intelectuais e funcionários do Estado servindo-se uns das idéias dos outros para difundir a necessidade de reduzir as dimensões da administração pública" (KETTL: 1999, pp. 76). O que se pode observar em todo mundo é a consolidação de movimentos de nova gestão pública que convergem em direções similares, não idênticas, conforme argumenta Castells (1997): não pode-se falar da formação de um único governo mundial, essa idéia seria não só utópica, mas absurda, ela se fundamentaria na suposição de uma mítica sociedade mundial que negaria trajetórias históricas diferentes. No mundo inteiro é possível observar movimentos de descentralização das instituições do Estado que por um lado, caracterizamse como reflexo a reivindicações locais e regionais e por outro, como esforço consciente do Estado-nação de buscar meios alternativos que possam combater a sua crise e a rigidez da centralização. “El dinamismo de ciudades como Barcelona, Birmingham, Paris, Roma o Munich, se ha traducido en una capacidad de desarrollo economico, tecnologico y cultural que esta re-posicionando las sociedades europeas en la nueva economia global a partir de las iniciativas de sus gobiernos locales” (CASTELLS : 1997, pp. 10). A aproximação entre governos e cidadãos no âmbito local, torna possível um controle social mais transparente e deixa mais forte as oportunidades de participação popular, o que favorece a relegitimação do Estado. Nesse sentido torna-se importante pensar a redistribuição de atribuições e recursos acompanhada por mecanismos de coordenação entre os diversos níveis institucionais em que se desenvolve a ação dos agentes políticos. Nesse contexto, o Estado passaria a ser organizado a partir de uma nova forma de pensar as relações, que, por sua vez, não seriam mais demandas de um núcleo específico e central de poder, mas ao que Castells (1997) denomina de rede. Segundo esse autor, uma rede, por definição, não possui centros, mas nós com diferentes dimensões e as relações construídas dentro desses nós apresentam-se de forma assimétrica, a existência da rede estará sempre condicionada a existência de todos esses nós, dessa forma, o Estado passa a articular suas decisões, sejam no âmbito local, regional e/ou global, numa rede única de relações. Castells irá chamar esse Estado de Estado-rede, na era da informação, esse tipo de Estado parece ser o mais adequado para conseguir processar as complexas relações sejam essas políticas, econômicas ou sociais.
O bom funcionamento do Estado-rede ficará, no entanto, condicionado a capacidade das administrações estatais de diferentes hierarquias de processar as informações e garantir o processo de decisão compartilhada e descentralizada, o que implica em capacitação tecnológica, recursos humanos adequados e uma estrutura administrativa que consiga assimilar esse funcionamento flexível. É importante pensar no fato de que a sociedade civil não se constitui como inimiga do Estado, mas em torno dele, nesse contexto torna-se necessária à execução de uma ampla descentralização onde possa ser transferido poder e recursos aos níveis próximos aos cidadãos e aos seus problemas.

HERMENÊUTICA SEMÍTICA

A ordem do profano deve ser construída sobre a idéia de felicidade. Sua relação com o messiânico é um dos ensinamentos essenciais da filosofia da história. A partir dela se determina uma concepção mística da história, o que pode explicar o problema em uma imagem. Se representamos por uma seta o objetivo ao qual é exercido a dynamis do profano e, com outra seta, a direção da intensidade messiânica, certamente, a busca da felicidade da humanidade livre tende a desviar-se desta orientação messiânica? Falha na percepção da realidade?, mas também que outra força pode, em seu curso, favorecer a ação de outra força de uma trajetória oposta, portanto a ordem secular do profano? O que mais pode promover o advento do reino messiânico? Se o profano não se torna gradativamente uma categoria deste Reino, entretanto, é uma categoria dentre as mais relevantes, em sua aproximação do imperceptível. Na verdadeira felicidade tudo que é terreno busca sua fusão com o espiritual, e somente nesta fusão a ''dita'' felicidade é destinada à trabalhar com metas mais ambiciosas. – Embora seja verdade que a intensidade messiânica imediata do coração, de cada homem interior em cada indivíduo, adquira através do infortúnio o sentido do sofrimento, por outro lado, é a depuração de tal sentido que lhe permite reunir as energias necessárias à iniciação. Para a restitutio in integrum espiritual, que leva à imortalidade, corresponde um outra restitutio de ordem secular, que leva a uma eternidade mundana do cálculo, de brilho falso, e o ritmo dessa eterna existência mundana transitória, transitória em sua totalidade, porque não passa de fugacidade e etcetera infinito, tanto espacial quanto temporalmente, deve ser medida e compreendida com ceticismo.
Procurar diagnosticar corretamente essa transitoriedade, e surpreende-la em suas fraquezas estruturais, tal é a tarefa imediata da política mundial. O REMÉDIO SÓ DEUS SABE QUAL É!
K.M.

NOVAS FORMAS DE COMUNITARISMO



As novas formas de comunitarismo (nos quais estão incluídos o nacionalismo e até mesmo o ''novo populismo'', como vem sendo pejorativamente chamado por seus adversários de pacotilha), neste mundo onde o homem sonha com o prolongamento de sua vida, essas formas de comunitarismo são tentativas legítimas de combater os excessos de liberdade do grande capital, da falta de ética das elites financeiras, da invasão de um livre mercado internacional (onde os países desenvolvidos fazem as regras, mancomunados com os donos do dinheiro)? O mundo “pós-moderno” nos desafia a refletir sobre os benefícios da troca de segurança pela liberdade individual, pelo explícito desfrute da sensação da posse de nós mesmos. Mas é bom nos perguntarmos, até onde vai essa posse, qual o limite que ela atinge? (Shvoong)

(.)

De maneira ponderada, mas contundente, o sociólogo polonês mostra como políticas voltadas para o bem-estar e o amparo dos desafortunados financeiramente foram escamoteadas e esquecidas pelo poder público, o que gerou, não mais como na modernidade, “um exército de reserva de mão-de-obra”, e sim uma “população redundante”; um grupo de excluídos condenados por não serem consumidores. O ponto nevrálgico da “pós-modernidade” é o abandono de qualquer “interferência coletiva no destino individual, para desregulamentar e privatizar”, com diz o autor no capítulo I, “O Sonho da Pureza”.

(.)
  Agora, absurdo seria se eu, concordando com novos conceitos como desterritorialização, pós-fordismo, acumulação flexível, e escrevendo sobre a incerteza como marca fundamental de nosso tempoespaço, sobre globalização e o enfraquecimento do Estado-Nação, viesse a afirmar que o capitalismo nunca foi tão organizado como hoje, pois estas são questões características da pós-modernidade, resultantes de uma configuração desorganizada (tardia, ou multinacional) do capital.
   Saliento novamente que a expressão "turistas e vagabundos" é uma metáfora de Bauman para explicar as contradições da pós-modernidade, como tal nunca usei (e jamais usarei) a palavra vagabundos seguindo o entendimento de nosso Presidente-Sociólogo, ou então, daqueles que são turistas. Também não faço parte dos pessimistas, e acredito que esta mesma condição pós-moderna excludente pode possibilitar que a situação dos humilhados seja revertida, e a beleza seja algo mais comum e simples de ser vivida. O avanço das lutas e conquistas das micropolíticas provam que isto não é ingenuidade. (Holgonsi Siqueira - A Razão)

(.)
Para Freud, o homem moderno preferiu o conforto da segurança ao contínuo jogo das contradições: bem-estar com sofrimento, prazer com culpa, etc. No pensamento do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em particular no livro “O Mal-Estar da Pós-Modernidade”, publicado em 1997, encontraremos um mundo repleto de incertezas onde o ser humano troca à segurança, outrora desejada, pela liberdade, mas não uma liberdade qualquer: a liberdade individual engendrada por uma vontade suprema. Bauman classifica esse momento de “pós-modernidade”, um estado de insegurança, de medo generalizado (universal), de tecnologia excludente, de ameaças constantes e desemprego crescente. Tudo mudando repentinamente, em velocidade “galopante”, não há escalas, somente aceleração. Mudanças econômicas, políticas, culturais constroem (e afetam) um cotidiano ambivalente, onde o problema da identidade, ou seja, o sentimento de incompletude, de vazio é mais um a aturdir os humanos “pós-modernos”. 
(.)

Pós-Modernidade II. Turista e Vagabundos.
    TURISTAS E VAGABUNDOS

    Em suas obras sobre pós-modernidade, e sobre globalização, Bauman destaca esta metáfora para ilustrar quem são os heróis e as vítimas do capitalismo flexível, afirmando que "a oposição entre os turistas e os vagabundos é a maior, a principal divisão da sociedade pós-moderna", uma sociedade marcada por um tempoespaço flexível, em mutação constante, onde o que vale é a habilidade de se mover. Valem portanto os turistas, aqueles que recusam qualquer forma de fixação; movimentam-se porque assim o preferem; saem e chegam em qualquer tempo e a qualquer espaço para realizarem seus sonhos, suas fantasias, suas necessidades de consumo e seu estilo de vida. Já os vagabundos "são luas escuras que refletem o brilho de sóis brilhantes; são os restos do mundo que se dedicaram aos serviços dos turistas"(Bauman). Movimentam-se porque estão sendo empurrados pela necessidade de sobrevivência, e mesmo assim existem severas restrições nos tempoespaços em que eles perambulam. Seus sonhos e fantasias resumem-se a um emprego qualquer, geralmente tarefas consideradas humilhantes pelos turistas, mas que precisam ser feitas por alguém.
    a pós-modernidade é um contexto histórico no qual a exclusão a cada dia está aumentando mais. Colabora para isto as novas exigências/qualificações para o mundo do trabalho, e com as quais a estrutura educacional não está preparada para lidar, tornando-se então uma forte causa do desemprego. A exclusão total da condição de pós-modernidade está gerando o que W.Wilson chama de subclasse, e acontece quando os indivíduos não conseguem se vincular às estruturas de informação e comunicação, como produtores, consumidores, e nem como usuários.
    Ao afirmar que a pós-modernidade também é exclusiva, saliento que não há nenhum absurdo em minha afirmação. E não há, porque nunca tomei a pós-modernidade no sentido proposto por A.Giddens, como um movimento para além da modernidade, ou seja, uma ordem pós-capitalista sem poder totalitário, sem guerras de grande escala, sem colapsos econômicos ou desastres ecológicos (embora concorde que esta deve ser nossa utopia), e sem subclasses; portanto o prefixo "pós" para mim não tem sentido de superação ou ruptura. Trabalho a pós-modernidade com base nas análises de F.Jameson, e portanto entendo-a como a terceira fase do capitalismo, apresentada no esquema de E.Mandel como capitalismo tardio. Não limita-se às áreas de literatura, arquitetura e artes plásticas, mas é "uma realidade genuinamente histórica (e sócioeconômica)"(Jameson).Desnecessário seria então dizer que a pós-modernidade é uma formação histórica capitalista, e como tal, numa visão crítica e dialética, é permeada de contradições produtivas e não-produtivas. Se existe algum absurdo ou contradição, estes fazem parte deste contexto histórico, que se nega a canalizar os avanços da tecnociência para diminuir a polarização da condição humana, e continua dando liberdades aos turistas, e aumentando as privações dos vagabundos.
   Agora, absurdo seria se eu, concordando com novos conceitos como desterritorialização, pós-fordismo, acumulação flexível, e escrevendo sobre a incerteza como marca fundamental de nosso tempoespaço, sobre globalização e o enfraquecimento do Estado-Nação, viesse a afirmar que o capitalismo nunca foi tão organizado como hoje, pois estas são questões características da pós-modernidade, resultantes de uma configuração desorganizada (tardia, ou multinacional) do capital.
   Saliento novamente que a expressão "turistas e vagabundos" é uma metáfora de Bauman para explicar as contradições da pós-modernidade, como tal nunca usei (e jamais usarei) a palavra vagabundos seguindo o entendimento de nosso Presidente-Sociólogo, ou então, daqueles que são turistas. Também não faço parte dos pessimistas, e acredito que esta mesma condição pós-moderna excludente pode possibilitar que a situação dos humilhados seja revertida, e a beleza seja algo mais comum e simples de ser vivida. O avanço das lutas e conquistas das micropolíticas provam que isto não é ingenuidade. (Holgonsi Siqueira - A Razão)

       Em uma de suas obras clássicas, o “O Mal-Estar na Civilização”, o psicanalista Sigmund Freud concebeu um mundo futuro regido pela segurança no qual uma ordem social extrema daria incontestável forma a um desejo coletivo de controle e justeza. A estabilidade social romperia o fluxo ininterrupto do afloramento dos instintos; a sexualidade e a agressividade, e outras volições humanas na modernidade sofreriam com a renúncia que o processo civilizatório exige, mas os seres humanos a acatariam por um pouco de felicidade, para não perder a segurança iminente nesse arcabouço de perigos em um trajeto desconhecido. Para Freud, o homem moderno preferiu o conforto da segurança ao contínuo jogo das contradições: bem-estar com sofrimento, prazer com culpa, etc. No pensamento do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em particular no livro “O Mal-Estar da Pós-Modernidade”, publicado em 1997, encontraremos um mundo repleto de incertezas onde o ser humano troca à segurança, outrora desejada, pela liberdade, mas não uma liberdade qualquer: a liberdade individual engendrada por uma vontade suprema. Bauman classifica esse momento de “pós-modernidade”, um estado de insegurança, de medo generalizado (universal), de tecnologia excludente, de ameaças constantes e desemprego crescente. Tudo mudando repentinamente, em velocidade “galopante”, não há escalas, somente aceleração. Mudanças econômicas, políticas, culturais constroem (e afetam) um cotidiano ambivalente, onde o problema da identidade, ou seja, o sentimento de imcompletude, de vazio é mais um a aturdir os humanos “pós-modernos”. 
      Bauman divide seu livro em quatorze capítulos e um pósfacio. De maneira ponderada, mas contundente, o sociólogo polonês mostra como políticas voltadas para o bem-estar e o amparo dos desafortunados financeiramente foram escamoteadas e esquecidas pelo poder público, o que gerou, não mais como na modernidade, “um exército de reserva de mão-de-obra”, e sim uma “população redundante”; um grupo de excluídos condenados por não serem consumidores. O ponto nevrálgico da “pós-modernidade” é o abandono de qualquer “interferência coletiva no destino individual, para desregulamentar e privatizar”, com diz o autor no capítulo I, “O Sonho da Pureza”. 

    Bauman discute ainda temas precípuos para a atualidade como moralidade, justiça, criminalização da pobreza ou dos excluídos, arte, cultura, verdade, consumismo, sexualidade, religião, terrorismo, etc. As incertezas apontadas por Bauman contagiam todos os setores de atuação humana. Os tópicos que nos regem (e fomentam o ideal de liberdade totalizante) são o de mercado consumidor, competitividade, indiferença, verdades múltiplas (o que dá a experiência ou a sensação de pluralidade), que salientam diferenças, mas busca enquadrá-las, culturas que tentam se manter incólumes em meio à globalização, mas saturada de produtos para consumo rápido, liberdade de escolha que não alcança a satisfação prometida, plastifica-a, pois parece impossível o prazer absoluto nesta época de movimento, de oportunidades, de turista, como revela Bauman, os heróis da “pós-modernidade” em detrimento às suas vítimas, os vagabundos que têm como “função” lembrar ao turista como ele é afortunado; o vagabundo é uma inconveniência necessária, pois vítima, de sorte detestável, faz com que o poder aquisitivo, o poder de decisão, a propriedade sejam melhores saboreadas. 
    O complexo e instigante pensamento de Zygmunt Bauman formam um itinerário das catástrofes e das diferenças pungentes entre os homens. Num mundo de guerras preventivas e consumismo exarcebado, entender como o público e coletivo cederam um espaço abissal para o privado e individual requer a análise vibrante ao mesmo tempo serena que Bauman apresentaAs novas formas de comunitarismo (nos quais estão incluídos o nacionalismo e até mesmo o ''novo populismo'', como vem sendo pejorativamente chamado por seus adversários de pacotilha), neste mundo onde o homem sonha com o prolongamento de sua vida, essas formas de comunitarismo são tentativas legítimas de combater os excessos de liberdade do grande capital, da falta de ética das elites financeiras, da invasão de um livre mercado internacional (onde os países desenvolvidos fazem as regras, mancomunados com os donos do dinheiro)? O mundo “pós-moderno” nos desafia a refletir sobre os benefícios da troca de segurança pela liberdade individual, pelo explícito desfrute da sensação da posse de nós mesmos. Mas é bom nos perguntarmos, até onde vai essa posse, qual o limite que ela atinge? (Shvoong)
http://reginaldobatistasartes.blogspot.com/2010/10/blog-post.html

segunda-feira, 29 de outubro de 2018





Meu ''fuoco ''analítico está neste último campo.



É o pensamento de Resende, quando afirma: “Inobstante os anseios de Stiglitz, não é o que se percebe na realidade mundial. Ao contrário: o conceito de soberania, que até então poderia se configurar como algo imune às influências, ilimitado e uno, poderá se confrontar com uma realidade em que o próprio Estado repassa parte de sua soberania para o exercício de Instituições privadas de caráter paraestatal. Segue à risca, assim, os programas traçados por elas, sob pena de graves sanções e repercussões pecuniárias. Esses novos fatores reais de poder, baseados em aspectos econômicos, superam as noções clássicas de soberania, minimizando o o Estado frente o capital
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Custos de tradução a todos os envolvidos, Comissão Européia, BCE, etc (???) Governo italiano exige uma fundamentação pós-convencional... que crie condições de aceitabilidade racional e não exclua de saída o pluralismo das convicções e visões de mundo em questão, no caso de novos ''entraves burocráticos'' (totalmente '''politiCados'' ) pelas autoridades competentes. 
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...os processos sociais têm sempre por motor propulsor os indivíduos aos quais estão relacionados, e jamais noções impessoais, como processos econômicos, políticos ou sociais, que nada acrescentam ao processo deVerstehen [“Entendimento”].
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Burocratização e modernização:
proposição de uma distinção teórico-analítica
Por CARLOS HENRIQUE ASSUNÇÃO PAIVA
Em minha experiência de pesquisa, encontrei muitas vezes uma visão de burocracia bastante reducionista, pois todo o processo é dimensionado segundo a dinâmica de funcionamento dos escritórios, repartições e instituições. Contudo, não conheço ninguém na literatura sobre o assunto que seriamente entenda um fenômeno social tão complexo exclusivamente nesses termos. No máximo, podemos encontrar trabalhos, como os de Joseph Lapalombara (1963, 1963A), Fred Riggs (1963) e outros que consideram ser o movimento rumo à burocratização fruto de certa orquestração das autoridades governamentais em situações históricas específicas. Por isso, neste artigo, quero apenas chamar atenção para a imensa variedade de significados do termo burocracia. Estes vão desde a noção que aponta a existência de regras muito rígidas - definição dos dicionários de língua portuguesa -, até visões mais sociológicas. Meu foco analítico está neste último campo.
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Segundo H.H. Gerth e C. Wright Mills, a passagem de Max Weber (1864-1920) pelos EUA, em 1904, foi essencial para que ele atentasse para o papel de certa máquina política no contexto da democracia de massas. A máquina política a que o intelectual alemão se referia era a administração da política por profissionais, visivelmente disciplinados e organizados, se comparados com outros padrões de comportamento profissional até então vigentes na Europa (Weber,1971:31). A partir daí, Weber serviu como peça para a eficiente máquina burocrática alemã durante a I Guerra Mundial (1914-1918), desenvolvendo noções fundamentais para se explorar e compreender o fenômeno burocrático, por ele identificado então analiticamente. A noção de racionalização, somada à idéia de carisma, constituem pontos fundamentais para o entendimento do processo de desencantamento que se operava e dava sentido ao mundo moderno.
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Um dos objetos do pensamento weberiano reside sem dúvida na ação humana que, segundo o intelectual, visaria sempre atingir determinadas metas e objetivos dentro da realidade social em que está inserida – uma ação elaborada, pensada por seu executor. Isso porque, em seu ponto de vista, os processos sociais têm sempre por motor propulsor os indivíduos aos quais estão relacionados, e jamais noções impessoais, como processos econômicos, políticos ou sociais, que nada acrescentam ao processo deVerstehen [“Entendimento”], fundamental para o que o pensador considerou ser a grande missão da sociologia moderna. Em suas palavras:
“para a interpretação compreensiva da sociologia (...), essas formações [sociais, tais como o Estado, cooperativas, fundações etc.] não são outra coisa senão desenvolvimento e interações de ações específicas de pessoas individuais” (Weber,1944:12; tradução minha).
O importante, para Habermas, é que não se pode extrair desse conteúdo normativo dos pressupostos da argumentação regras morais deontológicas do tipo "dever de tratar a todos como iguais" ou "o dever da franqueza". Os pressupostos da argumentação possuem um sentido performático, "[...] são normativos num sentido transcendental" (HABERMAS, 2007, p. 92), e não podem ser confundidos com obrigações morais, pelo fato de que não podem ser transgredidos sistematicamente sem que o próprio jogo da argumentação seja destruído: são condições de possibilidade para a justificação de regras morais (entre outras). O conteúdo normativo do jogo da argumentação representa um potencial de racionalidade o qual pode ser atualizado no uso público da razão, no exame crítico-reflexivo de diferentes pretensões de validade, sem estabelecer diretamente normas de ação, "[...] mas critérios para um processo de aprendizagem que se corrige a si mesmo" (HABERMAS, 2007, p. 99). A única coerção é a obrigação de assumir o "ônus de julgar" (burdens of judgment, na linguagem de Rawls). Esse potencial de racionalidade desenvolve-se em diferentes direções, dependendo do tipo de pretensão de validade que é tematizada e do correspondente tipo de discurso. O princípio do discurso, enquanto procedimento de teste intersubjetivo de fundamentação pós-convencional de normas de ação em geral, ainda não especifica quais tipos de razões são convincentes e capazes de gerar acordos ou consensos. Tal como o imperativo categórico de Kant, expressa apenas um procedimento de justificação imparcial de normas e valores, que possibilita aos próprios indivíduos resolver suas controvérsias, fazendo uso da razão prática em toda sua extensão: para fundamentar regras do agir instrumental que têm a ver com a escolha racional de meios e fins; orientações valorativas e éticas que se referem à vida boa; normas e juízos morais sob a perspectiva da justiça.
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Para Habermas, isso é o máximo que uma filosofia social crítica pode oferecer para as democracias constitucionais marcadas pelo pluralismo legítimo: a reconstrução de um procedimento pelo qual os próprios indivíduos podem chegar a uma avaliação imparcial das questões práticas fundamentais. E esse procedimento é formalizado por Habermas no princípio do discurso. Do ponto de vista cognitivo, o princípio do discurso coloca em evidência o sentido das exigências de uma fundamentação pós-convencional e das condições de aceitabilidade racional, enquanto, do ponto de vista normativo, explicita o sentido da imparcialidade dos juízos práticos. Nada vem antes da prática de autodeterminação dos cidadãos, a não ser o princípio do discurso, o qual está inscrito nas condições de socialização comunicativa em geral e no próprio sistema de direitos fundamentais, constitutivo do Estado democrático de direito. O ponto de vista imparcial operacionalizado no princípio do discurso constitui um procedimento de teste, o "[...] procedimento aberto de uma práxis argumentativa que se encontra sob os pressupostos exigentes do 'uso público da razão' e que não exclui de saída o pluralismo das convicções e visões de mundo" (HABERMAS, 1998, p. 54).

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-31732013000400010

PÉRDIDA DEL FOCO, NO DEL ''FUOCO''.



PERDI COMPLETAMENTE O FOCO.
NÃO SEI LIDAR COM A SITUAÇÃO.

PÉRDIDA DEL FOCO, NO DEL ''FUOCO''.


Estou sendo sincero, quando digo que perdi o foco e não sei lidar com a situação. É algo que me atrapalha muito . Isso é devido ao fato de eu não possuir mão direita. Ela foi comida por uma máquina de processar massa de pão, quando eu trabalhava como padeiro numa padaria da região da Pampulha, na grande BH, aos 16 anos de idade. Desde então, fiquei reduzido à uma homem magro de pau grande, sem recursos financeiros para me locomover, aderido às paredes do próprio crânio, cuja psique foi totalmente desintegrada e reabsorvida pelos mil e um golpes da Mãe Natureza Canibal.

Mas em caso de alguma necessidade irresistível, há uns ótimos hotéis aqui nas redondezas do bairro.

A VIGILÂNCIA É TREMENDA, mas absolutamente permissiva em matéria de sexo.

K.M.


Si ambos sentidos de la hospitalidad permanecen irreductibles uno al otro, siempre es preciso, en nombre de la hospitalidad pura e hiperbólica, para hacerla lo más efectiva posible, inventar las mejores disposiciones, las condiciones menos malas, la legislación más justa. Esto es preciso para evitar los efectos perversos de una hospitalidad ilimitada cuyos riesgos he intentado definir. Calcular los riesgos, sí, pero no cerrar la puerta a lo incalculable, es decir, al porvenir y al extranjero, he aquí la doble ley de la hospitalidad. Esta define el lugar inestable de la estrategia y de la decisión. Tanto de la perfectibilidad como del progreso.

La misma comedia cívica se vive acá: sólo cambia el clima, el talante.

Cuanto más para atrás vamos con las palabras más maravillas develamos y mentiras e imposturas desenmascaramos. Mil años para atrás MIRADA es MILAGRO y 4000 MIRROR es SONRISA o RISA ESTUPEFACTA. La POESÍA era la arcaica FÁBRICA de las auras y las barakas, y el POETIZAR el FABRICAR. Con la REVOLUCIÓN INDUSTRIAL, tanto los capitalistas como los marxistas, sustituyeron la FÁBRICA ARTESANAL, en la que pese a las milenarias fijaciones del SUEÑO COLECTIVO.
"La destitucion de los mismos por otros mismos, para quedar en lo mismo...o peor." (Charlie B.)

El Nessy

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A persistência da oralidade nas sociedades modernas não se deve tanto ao fato de ainda falarmos, quanto à forma pela qual nossas representações e maneiras de ser continuam a transmitir-se independentemente dos circuitos da escrita e dos meios de comunicação virtuais. A maior parte dos conhecimentos em uso atualmente, assim como os de que nos servimos em nossa comunicação cotidiana, nos foram transmitidos sob a forma de narrativa (histórias de pessoas, sentimentos, famílias ou empresas). Dominamos a maior parte de nossas habilidades observando, imitando, fazendo tudo por nós mesmos, e não estudando teorias nas escolas e universidades ou princípios dos livros. Rumores, tradições e conhecimentos empíricos em grande parte ainda passam por outros canais que não os oficiais, impressos, ou os meios de comunicação eletrônicos. Além disso, a oralidade sobreviveu paradoxalmente enquanto ''mídia da escrita'''. Antes da Renascença, os textos religiosos, filosóficos ou jurídicos eram quase que obrigatoriamente acompanhados de comentários e interpretações orais, sob pena de não serem compreendidos. A transmissão do texto era indissociável de uma cadeia ininterrupta de relações diretas e pessoais. Alguns aspectos da antiga oralidade sobreviveram nos próprios textos. Platão, Galileu, Hume e outros compuseram muitos diálogos. São Tomás de Aquino organizou sua suma teológica sob a forma de perguntas, respostas e objeções, estilizando assim as discussões orais do seu tempo . Finalmente, a literatura, pela qual a oralidade primária desapareceu, hoje tem como vocação paradoxal a de reencontrar a força ativa e a magia perdida da palavra, essa eficiência que ela possuía quando as palavras ainda não eram as pequenas etiquetas vazias sobre as coisas e as idéias que a literatura contemporânea pregou nelas, mas sim poderes ligados à tal presença viva, tal sopro divino... Literatura de restituição da linguagem para além de seus usos prosaicos inferiores, trabalho da voz sob o texto, origem da palavra, de um grande falar desaparecido e no entanto ainda insinuante quando os verbos emergem de um trabalho correto de alquimia poética, brilhando repentinamente como acontecimentos do mundo ,emitidos por alguma potência imemorial e anônima dentro de nós.
K.M


Post Scriptum

LINHA DE FUGA DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS.
Para Deleuze e Guattari, os indivíduos ou grupos são atravessados por verdadeiras linhas, fusos e meridianos distintos. Nossa existência é uma espécie de geografia. Somos corpos cartográficos. Assim como os mapas geográficos delimitam e registram territórios políticos, econômicos e culturais, os indivíduos também são registrados e cruzados por linhas. Algumas dessas são traçadas do exterior e não se cruzam, ao contrário, separam-se e demarcam os seus próprios territórios. Outras são produtos do acaso; mas há outras que devemos inventá-las, traçá-las efetivamente na vida. Devemos criar nossas próprias linhas de fuga.

ACREDITO TER ENCONTRADO O REFÚGIO IDEAL

Post Scriptum

Estou sendo sincero, quando digo que perdi o foco e não sei lidar com a situação. É algo que me atrapalha muito . Isso é devido ao fato de eu não possuir mão direita. Ela foi comida por uma máquina de processar massa de pão, quando eu trabalhava como padeiro numa padaria da região da Pampulha, na grande BH, aos 16 anos de idade. Desde então, fiquei reduzido à uma homem magro de pau grande, sem recursos financeiros para me locomover, aderido às paredes do próprio crânio, cuja psique foi totalmente desintegrada e reabsorvida pelos mil e um golpes da Mãe Natureza Canibal.
Mas em caso de alguma necessidade irresistível, há uns ótimos hotéis aqui nas redondezas do bairro.
A VIGILÂNCIA É TREMENDA, mas absolutamente permissiva em matéria de sexo.
K.M.

O poema se faz por sedimentação...
de A Caça Virtual e outros poemas
Ivo Barroso,
tradutor de Rimbaud no Brasil
E divertido e ponto...
A Primeira Visão é a visão do despertar. Contemplamos nossa vida e percebemos que existem mais coisas acontecendo do que imaginávamos. Além das nossas rotinas e desafios do dia-a-dia, podemos detectar a influência do Divino: coincidências significativas que parecem estar nos enviando mensagens e nos conduzindo a uma direção particular. No início apenas vislumbramos essas coincidências enquanto passamos rapidamente por elas, praticamente sem notá-las. Finalmente, porém, começamos a diminuir a velocidade e examinar mais de perto esses eventos. Receptivos e alertas, somos mais capazes de detectar o evento sincronístico seguinte. As coincidências parecem fluir e refluir, algumas vezes avançando rapidamente numa rápida sucessão, outras nos deixando quietos. Contudo, sabemos que descobrimos o processo da alma que guia nossa vida para frente. As Visões remanescentes mostram como aumentar a freqüência dessa misteriosa sincronicidade e descobrir o destino final em direção ao qual estamos sendo levados.
uma criança tagarela no playground
uma formiga escala o himalaia de um vaso
a espinheira espalha a perplexidade de suas folhas bífidas
o mármore da janela espera outro milhão de anos
eu escrevo.
*
amo as restaurações pacientes, o poema
se faz por sedimentação, não pela rasa
redução à ruína.
*
A espátula. o livro. por que feres
a pele da surpresa. as palavras
que fiquem na represa da página.
podes ler assim o que quiseres.

Sobre Fotografia - Susan Sontag

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Grupo G: Ana Elizabeth Oliveira, Anna Carolina Lemos, Jéssica Souza, Nara Tavares e Rafaela Morais

O livro que nós apresentamos foi Sobre Fotografia da escritora americana Susan Sontag. A autora desenvolve, na publicação, a história da fotografia de um ponto de vista reflexivo e extremamente subjetivo do que significa e qual é a importância da foto cotidianamente. Ela nos mostra e faz pensar como a fotografia está inserida corriqueiramente em nossas vidas, a partir de questionamentos filosófico-fotográficos, entre o que é o belo e o feio, sobre qual é o objeto e os temas que fotografados. No livro, Susan Sontag parte da analise crítica da fotografia americana e aborda os fotógrafos e suas obras marcantes que compõem a história da fotografia americana e um pouco da européia.
O primeiro capítulo do livro, denominado Na Caverna de Platão, a autora faz uma analogia entre o recorte da realidade, que é a vista da caverna, descrita pelo filósofo Platão e a fotografia. Para ela, “ao nos ensinar um novo código visual, as fotos modificam e ampliam nossas idéias sobre o que vale a pena olhar e sobre o que temos o direito de observar”. Nessa parte, Susan nos faz refletir a respeito da fotografia em nosso cotidiano. Através dela, nos podemos “reter o mundo em nossa cabeça”, e ter aquilo que queremos em nossas mãos, a fotografia é uma “miniatura da realidade”, que se encontra em todos os lugares, nas revistas, nos jornais, nos portas retratos, em livros... E nos faz reportar a tudo àquilo que queremos e não podemos ter fisicamente, por já se encontrar no passado, porque “A foto é tanto uma pseudopresença quanto uma prova de ausência”. Assim, ela coloca que as fotos podem gerar uma interpretação do mundo, dependendo do olhar do fotógrafo e do tema escolhido por ele.
Ela toca também nas questões sociais que envolvem a fotografia, como os famosos álbuns de família, de formatura, e de casamento, nas “fotos-troféus”, que marcam acontecimentos culturais e sociais presentes na vida das pessoas, como uma viagem. Deste modo, é como se as fotos fossem um testemunho de algo que ouvimos falar, mas que duvidamos, é uma prova incontestável.
No segundo capítulo, a reflexão é feita sobre quais os objetos que devem ser fotografados, pois fazer fotos do pôr-do-sol, ou da natureza são sinônimo do belo. Mas para a autora, “não existem temas que não possam ser embelezados”, a partir disso, ela faz uma análise da obra fotográfica de Diane Arbus.
A fotógrafa americana escolhia temas, para o nosso olhar, estranhos e incomuns. Diane preferia fotografar anomalias, travestis, anãos e demais temas que não fossem a mesmice. Para Susan, “Arbus tirou fotos para mostrar algo simples, que existe outro mundo”, é como se a fotógrafa tivesse licença para entrar na vida das pessoas e se escondendo atrás da câmera, conseguir mostrar aquelas histórias que ficavam escondidas e escanteadas em Nova Iorque.
Nessa parte, a autora questiona o conceito de beleza, de estranho, feio, e principalmente sobre os temas que podem e devem ser fotografados. Para ela, a fotografia faz pensar, já que as imagens paralisam, ao mesmo tempo em que estimulam as pessoas.
A definição da autora de que “As fotografias transitam simultaneamente com o prestigio da arte e a magia do real. São nuvens de fantasia e cápsulas de informação” é o ponto de partida da análise da fotografia como arte mimética.
Antes de tudo, a autora associa a fotografia ao Surrealismo, cuja idéia seria apagar os limites entre a arte e o que se chama vida, entre o intencional e afortunado. O surrealismo opta pelos desvalidos, pelo direitos de uma realidade separada e não oficial. Se consolidou na ficção, no teatro e na fotografia. Segundo Sontag, nenhuma atividade está melhor abastecida para exercer a maneira de olhar surrealista que a fotografia, e todas as fotografias se vêem de maneira surrealista. O surrealismo se encontra na medula da empresa fotográfica: na criação da duplicação do mundo, mais reduzida e mais dramática que aquela percebida pela visão natural. O mundo fotografado tem uma relação inexata com o mundo real. A vida não consiste em detalhes significativos, iluminados, fixados para sempre. As fotografias, sim.
Ao crer que as imagens que os surrealistas buscavam vinham do inconsciente, cujos conteúdos consideravam atemporais e universais, os surrealistas não compreenderam o mais comovedor e irracional: o próprio tempo. O que faz uma fotografia ser surreal é sua característica de mensagem de um tempo passado e a concretização das suas alusões às classes sociais. O erro dos militantes surrealistas teria sido imaginar que o surreal era algo universal, isto é, da psicologia, quando resulta ser algo mais local, racial, classista e temporal. As primeiras fotografias surreais são de 1850, quando os fotógrafos saíram pelas ruas atrás de um recorte de vida espontâneo. Estas fotografias, concretas, nos parecem, agora, muito mais surreais que toda a fotografia abstrata e poética.
A pintura sofria da desvantagem de ser uma das belas artes e cada objeto seu um original único e artesanal. Assim, se distanciava da combativa idéia surrealista. A prática cada vez mais freqüente de colocar fotografias em paredes de salas e quartos, onde antes estavam reproduções de pinturas, é um indício da vasta difusão do gosto surrealista. Uma pintura se encomenda ou se compra, uma fotografia se encontra, se recorta ou se faz sem dificuldade, e os objetos que são fotografados se proliferam de um modo impossível para as pinturas. As fotografias, quando se sujam, mancham ou empalidecem, conservam um bom aspecto, por vezes, melhoram.
O retrato fotográfico corresponde a uma fase particular da evolução social: a ascensão de novas classes sociais tinha um significado político e social. A fotografia idealizada como documento social foi um instrumento dessa atitude própria da classe média, para a qual os bairros baixos eram os mais sedutores. A justificativa continua a mesma: que a fotografia sirva a um propósito enaltecido: descobrir uma verdade oculta, preservar um passado em extinção.
Segundo Sontag, alguns fotógrafos se insurgem científicos, outros, moralistas. Os científicos fazem um levantamento do mundo, os moralistas se concentram em casos concretos. Na Alemanha, a fotografia foi vista como ciência. Sander fez um catálogo fotográfico do povo alemão – as pessoas encaram sua câmera, mas o olhar não é intimo, revelador. Não estava buscando segredos, mas observando o típico (cinco anos mais tarde, os nazistas confiscaram o trabalho e destruíram as matrizes). Nas fotos de Sander, os pobres não precisavam de dignidade, não havia nenhum propósito solidário. A fotografia européia, em geral, se regeu pela noção do pitoresco (os pobres, o estrangeiro, o deteriorado pelo tempo), o importante (os ricos, famosos) e o belo. Pendiam ao elogio e à tentativa de neutralidade. Tomar, como Sander, uma personagem atrás de outra, em busca de um inventário idealmente completo, pressupõe que a sociedade pode imaginar-se como uma totalidade compreensível. Os fotógrafos europeus deram certo que a sociedade era algo de algum modo estável, como a natureza.
Já nos EUA, a fotografia quase nunca foi tão distante. Segundo a autora, é difícil imaginar um americano tentando uma catalogação como a de Sander. As fotos americanas são propagandísticas. O ponto de vista ficava implícito: que as pessoas da classe media precisavam ser convencidas que os pobres eram pobres de verdade, e que os pobres eram dignos. Os americanos, convencidos do caráter inevitável da mudança, cultivaram a fotografia partidista. Fizeram imagens não só para mostrar o que se havia que admirar, mas para revelar que insuficiências precisavam-se afrontar. O propósito é registrar antes que mude, porque há a substituição incessante pelo novo. O uso das fotografias era para despertar consciências. Luis Hine, com sua fotografia de uma criança trabalhando em uma fiação de algodão, passou a fazer parte do comitê nacional de trabalho infantil. Fotografar algo se transformou em uma fase rotineira do procedimento para alterá-lo, como o bairro de Mullberry Bend, fotografado por Riis, que foi demolido e os habitantes relocados.
Sontag defende que olhar um retrato antigo próprio, de um conhecido ou personagem publico é sentir antes de tudo o quão mais jovem era na época. A fotografia seria o inventário da mortalidade, uma recordação da morte e um convite ao sentimentalismo, transformando o passado em um objeto de terna contemplação de tempos idos.
A autora estabelece, ainda, que, exceto nas situações nas quais se utiliza a câmera para documentar, o que leva as pessoas a fazerem fotografia é a descoberta de algo belo. É comum entre aqueles que vislumbraram algo belo a expressão de pesar por não o haver fotografado. As fotografias se converteriam, então, na medida do belo. Muitas pessoas se inquietam quando estão por ser fotografadas, temem a reprovação da câmera.
Quando surgiu a primeira técnica para retocar o negativo, a notícia de que a câmera poderia mentir popularizou muito mais o afã por ser fotografado. As conseqüências da mentira são mais importantes para a fotografia do que jamais foram para a pintura, pois as imagens das fotografias ostentam uma pretensão de verdade que as pinturas jamais assumiram. Uma pintura fraudulenta falsifica a historia da arte; uma fotografia fraudulenta falsifica a realidade.
A fotografia precisou, então, conciliar as exigências da verdade com a necessidade de encontrar o belo no mundo. A câmera terminou promovendo energicamente o valor das aparências. O fotógrafo, por sua vez, era tido como um observador imparcial, um escrivão e não um poeta. Mas quando as pessoas descobriram que ninguém retrata o mesmo da mesma maneira, a suposição de que as câmeras procuram uma imagem objetiva e impessoal cedeu diante do fato de que as fotografias não só evidenciam o que está aí, mas também o que um indivíduo vê, não sendo apenas um registro, mas uma avaliação do mundo.
A visão fotográfica pedia uma aptidão para a beleza no que todos vêem mas desestimam por ser muito comum. Se supunha que os fotógrafos não se limitavam a ver o mundo tal como ele é, mas deviam criar um interesse mediante novas decisões visuais. Um heroísmo se propaga desde a invenção da câmera: o heroísmo da visão, que permitia a cada um demonstrar uma sensibilidade única. A função do fotógrafo era esperar o momento oportuno, quando se pudessem ver as coisas que todas já viram de um modo novo.
Na fotografia, a visão do tema sempre prevalece na percepção. As qualidades formais do estilo tem importância secundaria na fotografia, enquanto sempre é de fundamental importância o que é fotografado. Costuma-se considerar a fotografia um instrumento para conhecer as coisas. Com cada fotografia, ocorre que seu significado é seu uso. A fotografia é sempre um objeto em um contexto. A fotografia teria liberado a pintura para a sua grande vocação moderna: a abstração.
Um dos êxitos da fotografia tem sido sua estratégia de transformar seres humanos em coisas e coisas em seres humanos. Ainda que não tenham cessado de buscar a beleza, já não se pensa que a fotografia propicie uma revelação sob o imperativo do belo. A fotografia, ainda assim, embeleza. De fato, o triunfo que mais perdura da fotografia é sua aptidão para descobrir a beleza no humilde, no decrepto. No pior dos casos, o real tem sentimento. E esse sentimento é belo.
Uma foto funcional, sem pretensões, pode ser visualmente tão interessante quanto as fotografias artísticas mais aclamadas. Para os fotógrafos não há diferença alguma entre o esforço para embelezar o mundo e o esforço para arrancar-lhe a máscara. Até os fotógrafos que desdenhavam retocar seus retratos tendiam a proteger o modelo, de alguma maneira, do olhar revelador demais da câmera.
As fotografias podem angustiar, mas a tendência “estetizante” da fotografia é tal que o meio que transmite a angústia termina por neutralizá-la. As câmeras reduzem a experiência a miniaturas, transformam a história em espetáculo. Seu efeito principal é converter o mundo em um armazém, ou em um museu sem paredes, onde qualquer tema é rebaixado a artigo de consumo, promovido a objeto de apreciação estética. Pela câmera, as pessoas se transformam em consumidores ou turistas da realidade. Segundo Sontag, a fotografia não é menos reducionista quando quer ser informativa que quando revela formas belas.
Postado por Fotojornalismo UNICAP às 08:45

domingo, 28 de outubro de 2018

Linhas, fusos e meridianos distintos.


. Para Deleuze e Guattari, os indivíduos ou grupos são atravessados por verdadeiras linhas, fusos e meridianos distintos. Nossa existência é uma espécie de geografia. Somos corpos cartográficos. Assim como os mapas geográficos delimitam e registram territórios políticos, econômicos e culturais, os indivíduos também são registrados e cruzados por linhas. Algumas dessas são traçadas do exterior e não se cruzam, ao contrário, separam-se e demarcam os seus próprios territórios. Outras são produtos do acaso; mas há outras que devemos inventá-las, traçá-las efetivamente na vida. Devemos criar nossas próprias linhas de fuga. Mesmo que para alguns indivíduos ou grupos nunca seja possível construí-las. Outros já as perderam. As linhas de fuga são "uma questão de cartografia. Elas nos compõem, assim como compõem nosso mapa. Elas se transformam e podem mesmo penetrar uma na outra. Rizoma"346 . O desejo escorre para agenciamentos e não há agenciamentos solitários. “Desejar é construir um agenciamento, construir um conjunto, conjunto de uma saia, de um raio de sol (...)”347 . Desejar é desterritorializar para construir sempre outras paisagens. Guattari declara que “torna-se imperativo refundar os eixos de valores, as finalidades fundamentais humanas e das atividades produtivas”348 . É a possibilidade de um engajamento ético, estético e analítico. Para Guattari, uma ecosofia “consistirá, portanto, em desenvolver práticas específicas que tendam a modificar e reinventar maneiras de ser no seio do casal, da família, do contexto urbano, do trabalho”


4 comentários:


  1. No entanto, Guattari procura mostrar que há uma política que se dirige tanto ao desejo do indivíduo quanto ao que se manifesta no campo social mais abrangente. E isso se dá sob duas formas: seja uma micropolítica que vise tanto aos problemas individuais quanto aos problemas sociais, seja uma macropolítica que vise aos mesmos campos (indivíduo, família, problemas de partido, de Estado, etc.). O despotismo que, freqüentemente, reina nas relações conjugais ou familiares, provém do mesmo tipo de agenciamento libidinal daquele existente no campo social. 


  2. Para Guattari, a questão não é construir ligações entre campos já constituídos e separados uns dos outros, mas o problema passa pela criação de novas máquinas teóricas e práticas, capazes de varrer as estratificações e estabelecer condições para um novo exercício do desejo. Ele defende que a expressão do homem no mundo se dá a partir do momento em que ele se singulariza. Nesse processo de singularização, já não há uma hierarquização de sociedade e indivíduo, mas sim a forma e o sentido que este dá a tudo o que lhe rodeia. A expressão do sentido, que o homem dá aos acontecimentos e aos códigos, deve ser, permanentemente, construída. Sendo assim, as


  3. construções e desconstruções são agenciamentos de enunciação que se realizam na coletividade, pois o processo de singularização precisa de interventores. O agenciamento coletivo de enunciação é o conjunto das condições que torna possível que instâncias individuais e/ou coletivas estejam em posição de emergir como território existencial autoreferencial, em adjacência ou em relação de delimitação como uma alteridade e/ou mesma subjetiva”353

  4.  Os agenciamentos coletivos de enunciação produzem seus próprios meios de expressão. Eles trabalham os fluxos do desejo, materiais, sociais, semióticos, entre outros, da mesma forma. Para Guattari, “não mais se tem (...) um sujeito e um objeto e, em terceira posição um meio de expressão (...). O que se tem é um agenciamento coletivo que é, ao mesmo tempo, sujeito, objeto e expressão”354 . Uma outra possibilidade de fazer política, no seio das organizações e das instituições. Guattari não acredita que esses movimentos “revolucionários” partam das instituições, mas defende que é do interior das organizações que podem surgir os movimentos moleculares. Uma igreja não tem interesse em revolução, mas dentro dela podem se iniciar produções de enunciados que não tenham relação com a identidade teológica. Experimentar novas sensibilidades, tudo que é do domínio da ruptura, da surpresa e da angústia, mas também do desejo, da vontade de amar e criar. Escapar dos registros de referência dominantes. Ser vigilante aos arranjos que tentam prever tudo o que possa ser de natureza de uma dissidência do pensamento e do desejo

  5. Primeiramente, é verdade que não se opera a própria criação a partir da ilha deserta, mas a re-criação, não
    o começo, mas o re-começo. Ela é a origem, mas origem segunda. A partir dela tudo recomeça. A ilha é o mínimo necessário para esse recomeço, o material sobrevivente da primeira origem, o núcleo ou o ovo irradiante que deve bastar para re-produzir tudo. (...) A idéia de uma segunda origem dá todo seu sentido à ilha deserta, sobrevivência da ilha santa num mundo que tarda para recomeçar. No ideal do recomeço há algo que precede o próprio começo, que o retoma para aprofundá-lo e recuá-lo no tempo. A ilha deserta é a matéria desse inmemorial ou desse mais profundo