sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Quem tem o poder?




GESTÃO DE CORPO ALHEIO

Tentava-se gerir um corpo alheio
na durasucessão de baques surdos
e na lava dos dias consumidos.
A perícia dos experts, ALI,
só servia para estrangular o nível de comparação.
A repetição das pequenas safras
no peito oferto da audiência
era um mostruário de fomes enredadas
dormindo em concha, agressivamente ávidas.
A blandícia errava em tormento atenuado,
avançando sobre as sombras das fêmeas
em busca de oxigenação extra
e bovinos subsídios
sob pedido urgente.
Onde era possível o avanço,
a teia de problemas que existia
na pele do existente, ia se agravando
ou era sugado por perguntas de bolso
e em ecos se desmembrava ----
seus prótons e electróns
com a maior dignidade
(a dignidade de um laboratório de Boston)
ante as esperanças terminais da magia
ou o trabalho festivo do Capital ---
fritando a Salamandra em chama fria,
por etapas, na aguda espostejação da travessia
da CARNE através do CONHECIMENTO,
sem muita convicção...

K.M.

ENCONTRO COM O COMENDADOR

O encontro com o Comendador
foi na casa do Presidente que
respira blindado contra seu muro:
as próprias palavras dele relatavam
que estávamos num ''espaço novo'',
fora do tempo, e do sangue nas paredes
de gente que corre fugindo de gente.
E é útil recordar aqui, que em seus cristias de gelo
o ''agora liberal da mídia'' estava
germinando no ''antes conservador da história'',
para poder quitar suas dívidas com a Justiça.
Pedaços de ''antes conservadores clássicos''
aprendendo seu ''morse'' de improviso
na tontura integral do ''agora''.
Viera da Rússia recentemente,
procurando não se enredar em fervores
de prazo fixo, ou naquelas tramas
em que se ignora a proverbial urgência.
Era de se esperar, ao menos
algum Dragão inquietado por isto?
Não: o olvido invadia tudo
nas soluções de continuidade, profetizando
tíbias contra-senhas ao longo do caminho.
O tempo todo, no ar enregelado do Casarão,
pairava um rumor incompreensível,
que nos advertia da gravidade da situação.
Eu escrevia poemas lascivos e ameaçadores
diante do espelho, na Galeria Kamerônaia,
em que meu sorriso de vítima
obrigava os Nove a virem rever-me
a todo minuto, para desmentir-me.
De fato, toda a imprensa estangeira
destacava meu rasgo sacrificial
IRONICAMENTE
dizendo que era possível encontrar um tal mártir
pontualmente às seis, instalado na cervejaria
com todas as suas vocações rentáveis
espionando as finanças do mundo
com uma sensibilidade expeditiva
absolutamente repugnante.

Inevitáveis zonas de presságio
que lambiam lealmente os restos de silêncio
em cada partícula de mundo
dispersa nos guardanapos.
Pairando, numa vertigem,
acima das torres de petróleo,
das missões de espionagem
e das mutações de onda curta
que vinham molestar
nosso triunfo em desordem.

K.M

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Auto-elogio funerário






CAUTELA SUICIDA

Marchamos para Kierkgaard ingenuamente
divididos pelo espólio da carcaça sangrenta
nos escombros da comunidade
de brancas recepcionistas do Atlântico Norte.
No escuro embolados, lutamos uns contra os outros
cegamente, derrubando até os pobres eskimós
que lutam pelas vísceras do último urso.
Nada mais se desprende dos dentes do nosso herói
além de uma cômica cautela suicida
já sem muita intensidade,
sorrindo da falta de socorro
na trêmula superfície da pressa geral.
Qualquer mudança aqui (no momento)
representa ainda mais aflição
para os mansos utópicos
com seus ''senões'' em nome de Deus.
Nada mais pode ser feito da massa comum
de toda essa agonia canibal,
que tudo assimila e reduz
à própria matéria caótica.
As cinzas voláteis correm na calçada
de Wall Street, onde são pisadas como coisas vivas
até desembarcarem numa garrafa de rum, onde
uma nova noite nasce
da última, arrastando consigo
suas possibilidades de ânsia promissora.
Enquanto isso o poeta trabalha
numa sopa chamada turbulência,
estrelando ovos de serpente no papel
como trastes espedaçados por um susto.
E o que todo esse expediente camufla,
mais tarde, ganhará para todos um novo interesse.
A urgência do relatório, como quem chega de longe
devastado por um incêndio, saúda a fala curta
da carcaça do Touro
com humildade repentina.
E era essa, talvez, a única concessão
disponível NO MOMENTO
à sua desgraça sado-masoquista.

K.M.

E aí em casa? A ceifa já acabou?



Em 1876, com 22 anos, alistou-se como voluntário no Exército Colonial Holandês indo para Java, na actual Indonésia. Desertou pouco depois, regressando a França clandestinamente num barco de carga. Em 1878 vamos encontrá-lo em Lanarca, na ilha de Chipre onde trabalhou como capataz numa pedreira. Adoeceu, contraindo uma febre tifóide, e voltou ao seu país. Em 1880, vemo-lo chegar a Aden, no actual Iémen, onde obteve um lugar de responsável pelo escritório da companhia Pierre Bardey. Em 1884, com 30 anos, demite-se da Bardey e torna-se mercador por conta própria em Harare, na Abissínia (Etiópia). Embora negoceie outras mercadorias, o fulcro do seu negócio é o tráfico de armas.

Alexandria , Dezembro de 1878


Cheguei aqui após uma travessia de dez dias e, depois de andar às voltas há duas semanas, eis que só agora as coisas começam a encaminhar-se! Vou ter em breve um emprego; já trabalho bastante para viver, pobremente, é verdade. Ou me ocuparei numa grande exploração agrícola a cerca de dez léguas daqui (já lá fui, mas não vai haver nada antes de algumas semanas); — ou entrarei proximamente nas alfândegas anglo-egípcias, com um bom venci­mento; - ou penso que partirei em breve, preferencialmente para Chipre, ilha inglesa, como intérprete de um grupo de trabalhadores. Em todo o caso, prometeram-me arranjar qualquer coisa; é com um engenheiro francês -homem prestável e talentoso - que terei de tratar. Só que me pedem o seguinte: uma palavrinha tua, Mamã, reconhecida pela mairie, constando do seguinte:


"Eu abaixo assinada, esposa de Rimbaud, proprietária em Roche, declaro que o meu filho Arthur Rimbaud deixou de trabalhar na minha propriedade, que saiu de Roche de livre vontade, no dia 20 de Outubro de 1878, que se comportou honrosamente quer aqui quer noutros lugares e que presentemente não se encontra sob a alçada da lei militar.


Assinatura"

Mont-Troodos (Chipre), domingo, 23 de Maio de 1880



(...) Não encontrei nada para fazer no Egipto e parti para Chipre já lá vai um mês. Ao chegar, deparei com os meus antigos patrões na falência. No entanto, ao fim de uma semana, arranjei o emprego em que estou presentemente. Sou fiscal no palácio que estão a construir para o governador-geral, no topo do Troodos, a montanha mais alta de Chipre (2100 m).


Até agora estava só com o engenheiro, numa das barracas de madeira que formam o acampamento. Ontem chegaram cinquenta operários e a obra vai para a frente. Sou o único fiscal, e por enquanto só recebo duzentos francos por mês. Pagam-me há quinze dias, mas faço muitos fretes: temos de viajar sempre a cavalo; os transportes são muito difíceis, as localidades muito distantes e a comida muito cara. Além disso, enquanto nas planuras se tem muito calor, nesta altitude faz, e vai fazer ainda durante mais um mês, um frio desagradável; chove, saraiva, e a ventania é de nos deitar abaixo. Foi-me preciso comprar colchão, cobertores, casacão, botas, etc., etc.

Aden, 17 de Agosto de 1880


Deixei Chipre com 400 francos, ao fim de quase dois meses, após altercações que tive com o caixa e com o meu engenheiro. Se tivesse ficado, teria atingido uma boa posição em poucos meses. No entanto, posso voltar para lá.


Procurei trabalho por todos os portos do Mar Vermelho, em Djedda, Suakim, Massauah, Hodeidah, etc. Vim para aqui depois de ter tentado encontrar qualquer coisa que fazer na Abissínia. Ao chegar, estive doente. Sou empre­gado na casa de um comerciante de café1, e ainda só ganho sete francos2. Quando tiver algumas centenas, vou para Zanzibar, onde, segundo dizem, há trabalho.


Dêem-me notícias.



*

Aden, 25 de Agosto de 1880



Parece-me que terei posto recentemente no correio uma carta para vocês a contar-vos como, por infelicidade, tive de abandonar Chipre e como aqui cheguei depois de ter andado às voltas pelo Mar Vermelho.


Aqui, estou no escritório de um comerciante de café. O agente da companhia é um general na reforma. Os negócios vão mais ou menos, mas havemos de fazer muito mais. Eu ganho pouco, não passa dos seis francos por dia; mas se ficar por cá, e bem necessito, porque isto está tão longe de tudo que são precisos vários meses até se ganharem umas escassas centenas de francos para, em caso de necessidade, se poder partir; se ficar, creio que me darão um cargo de confiança, talvez uma agência noutra cidade, e assim poderei ganhar algum dinheiro um pouco mais rapidamente.


Aden é um rochedo medonho, sem uma única pontinha de erva nem uma gota de água boa: bebe-se água do mar destilada. Aqui o calor é excessivo, sobretudo em Junho e Setembro, que são os dois meses de canícula. A temperatura constante, noite e dia, num escritório muito fresco e ventilado é de 35 graus. É tudo muito caro, e assim por diante. Mas não há nada a fazer: estou aqui como um prisioneiro e terei de cá ficar pelo menos três meses antes de me poder aguentar nas pernas ou ter um emprego melhor.


E aí em casa? A ceifa já acabou?


Dêem-me notícias.

O RANGER DE DENTES DA MÃO INVISÍVEL...

A alegria conquistada, ele levava
ilesa dentro do peito sitiado
pelas armas da calúnia e da provocação.
Recrutava diretamente da LUZ
suas mais elegantes
formas de adeus e esquecimento.
Na queda ou na ascensão, sua confiança
era quase indestrutível. Apenas o remorso
de nao ter sofrido um pouquinho mais
''POR AMOR''
haviam diminuído sua luz na Argentina.
Doutor em crueldades de pequeno porte,
procurava não maldizer ninguém além da conta...
apertava nos dentes o próprio assombro
para conter seu ímpeto dionisíaco
dentro da cabeça ensanguentada.
Preferia juntar suas ousadias
aos bens de capital atacados
e mesclar-se às  contentes ciladas
do orgulho autodidata
em todos os simulacros afetivos do combate.
Eis a infâmia e sua justificação gloriosa
nos defeitos do chefe. Tema difícil
e ''engorroso'' de se encurralar
em apenas meia hora de péssimas notícias.
Mas a autoridade dos diretores
está à salvo dos sonhos de sabotagem
gentilmente disfarçados sob nosso riso.
Tudo isso é o Imperialismo
rebentando dos estercos da mídia
e das vantagens da sordidez confessa.
De certo modo, os fetos fermentados
nas Bolsas, por este tipo de medo,
esperam modestamente
por uma pureza de intenções
ainda mais suja que a sua.
Isso também é o Imperialismo.
Aqui nos atrevemos a atacar a questão
com uma máquina que late em delírio,
falando ruidosamente em seus subprodutos
IMEDIATOS
para envasar e rotular a a MÃO INVISÍVEL
com estratagemas de justiça
com prazo de validade vencido.
O gérmen misterioso
na nossa sociologia do mercado
é um tipo muito discreto,
e muito pouco bíblico,
de ranger de dentes.

Dentes acionados à distância
por painéis do mundo todo,
que todo dia, e à todo minuto,
combinam todos os enfoques teóricos do tema.
.

K.M.


quarta-feira, 29 de agosto de 2018

That this shall be or we will fall for it...




Sobre a mentira política moderna.




ÚLTIMA CEIA, NA LANCHONETE ''DITA'' ESTRELAS

Tua fêmea tornou-se apenas mais uma
fatia de melão descendo na garganta,
enquanto seu direito de estar nervoso
era dissecado com pinças pelo freguês ao lado.
O silêncio, à tua volta, era o dos que mexiam
na entranhas de um cadáver radioativo
cheirando à ódio alaranjado.
Outras mulheres, para vingar-se de ti,
mordiam obliquamente ocultas,
as hastes de teu corpo vencido
e o denunciavam em sua Última Ceia
na lanchonete ''dita'' ESTRELAS.
Depois da catástrofe, elas se recolhiam,
SEDENTAS, ao seu rancor milenar
sob as ameaças do auto-encontro.

K.M.

CHEFIA ANÔNIMA

Os motores da fábrica de cerveja
chefiavam anonimamente meu espírito,
diluído no tráfego das cinco.
Os condenados eram belos como Kafka
e a única opção coerente de desvio
era a morte certa na linha férrea.
Bela, também, era a paz da minha cerveja
na ALA NORTE, onde um passo a mais
para dentro do poço, revelaria a flora intestinal
de todos os abismos morais:
do povo da rua, sem dentes,
aos murros das mulheres abandonadas.
As notícias, sozinhas, não estavam
fazendo as crianças crescerem sadias?
Mas com essa queixa repugnante
a baba verbal lhes escorria no queixo,
usando estratégias como desculpas
até os jornais sobrarem na Terra
(às mesas limpas, de fato,
ninguém presta muita atenção:
as emergências políticas se tornam tão rotineiras
quanto as mínimas perturbações
no reino das coisas compradas).

ESQUERDA E DIREITA

A Direita radical pensa que o Liberal é de Esquerda só porque este flerta com a frouxidão dos costumes visando votos & lucros

LAWS

O ano de 1976 assinala  o início da colaboração regular de Bobbio no jornal La Stampa. A consequência foi sua inserção mais constante no debate público, como “observador participante”. São muitas as facetas dessa atuação, voltada para pensar os acontecimentos, à luz da teoria política e de sua capacidade de esclarecer assuntos tão variados como o mercado político, o governo dos honestos, a relação entre a praça e o palácio, a virtude dos fracos, o direito à fuga, o lucro e o poder. 

(.)

Bobbio foi o intelectual da mediação, por excelência .

Norberto Bobbio não se considerava um homem de ação, mas de contemplação. Registrou, no entanto, como de decisiva importância em sua vida a Resistência e os meses da guerra de libertação da Itália do fascismo e da ocupação nazista, de que participou ativamente. Trata-se de um tempo existencial, configurador de um “antes” e um “depois”. Esse breve tempo de vida ativa foi para ele uma oportunidade de se encontrar e de transcender a opacidade da vida privada dos anos de chumbo do fascismo. A experiência de vida ativa foi para Bobbio e seus companheiros tão relevante que a organização política à qual ele aderiu em 1942 denominava-se Partido de Ação. Era um partido de intelectuais, inspirado no socialismo liberal, que via na guerra de libertação não uma guerra de classes, mas a antecipação de uma revolução democrática.
>> Hannah Arendt: Uma mulher para tempos sombrios
Na Resistência, os intelectuais do Partido de Ação combateram lado a lado com os comunistas, neles reconhecendo, independentemente das divergências, uma grande força ideal. Pelo Partido de Ação, Bobbio concorreu sem sucesso às eleições para a Assembleia Constituinte italiana de 1946, mas, nos anos seguintes, não teve nem vontade nem encorajamento para buscar outra oportunidade de ser um ator político militante. Muito mais tarde, Bobbio passou a ter alguma atuação legislativa, quando foi nomeado senador vitalício, em 1984, já um homem de idade. No Senado, Bobbio sempre se viu mais como espectador curioso do que como protagonista. Ao longo da vida, portanto, Bobbio construiu sua autoridade, não como ator político, mas como intelectual, que faz uso público da razão para iluminar os assuntos de governo.

Nesse magistério intelectual, Bobbio teve, na Itália, dois eminentíssimos antecessores: o filósofo Benedetto Croce (1866-1952) e o economista Luigi Einaudi (1874-1961). Croce e Einaudi exprimem vertentes distintas do pluralismo que caracteriza a doutrina liberal. O primeiro emblematiza o liberalismo político; o segundo, a relação entre liberalismo econômico e político. Na presença política, Bobbio se diferencia de Einaudi e Croce porque estes tiveram mais ação política direta. Einaudi, no pós‑guerra, foi o primeiro presidente da República parlamentarista italiana. Croce foi chefe do Partido Liberal, ministro e senador. No plano das ideias, são expressivos os pontos que separam Bobbio de ambos. O que os une é a filiação comum ao campo liberal.

Bobbio acrescentou à tradição liberal algo significativo que o diferencia de Croce e Einaudi. Esse algo se expressa em suas obras de cultura militante e enraiza-se na experiência decisiva de sua vida ativa. Explico-me, a respeito desse algo que Bobbio acrescentou, com uma consideração sobre a tradição liberal. Esta, ao contrário da socialista, na qual o poderoso legado de Marx abafou outros pontos de referência, é pluralista. Kant e Adam Smith, Humboldt e Tocqueville, Benjamin Constant e John Stuart Mill, Raymond Aron e John Rawls, Popper e Isaiah Berlin, se têm afinidades que permitem integrá-los na doutrina liberal, caracterizam‑se também por diferenças muito apreciáveis. É por esse motivo que convém falar em liberalismos, no plural, e não em liberalismo, no singular, no trato de uma doutrina que contém tanto vertentes conservadoras quanto inovadoras. Bobbio é um expoente da vertente inovadora de esquerda, pois, para ele, liberalismo quer dizer mais liberdade e menos privilégios.
Pluralismo e reconhecimento do valor e importância da diversidade, que caracterizam a doutrina liberal, não significam relativismo de valores. Para Bobbio, não há equivalência entre fascismo e antifascismo. O fascismo opõe-se frontalmente ao valor da liberdade, o cerne da doutrina liberal. Além do mais, ainda que menos feroz que o nazismo, foi a primeira ditadura imposta no coração da Europa depois da Primeira Guerra Mundial e foi responsável, ainda que subordinado a seu poderoso comparsa do Eixo, por desencadear a Segunda Guerra Mundial. Era, portanto, o inimigo, ao contrário dos comunistas, que eram adversários.

Daí a postura de Bobbio de diálogo com, e não da prédica contra, a esquerda, em cujo campo ele sempre se situou, em função da experiência decisiva da resistência à opressão da direita. Na escolha dos temas desse diálogo com a esquerda, Bobbio revelou uma aguda percepção dos problemas concretos suscitados pela experiência da política do segundo pós-guerra e associou senso histórico e inspiração analítica. A fecundidade e a oportunidade desse diálogo foram o “algo” que ele agregou à tradição liberal.

Na primeira metade dos anos de 1950, seu diálogo foi com os comunistas italianos, que detinham expressiva hegemonia cultural no campo da esquerda. Teve como cerne a defesa dos direitos humanos, em especial os direitos de liberdade, derivados do legado do liberalismo. O objetivo foi realçar que esses direitos não eram uma conquista da burguesia, e sim um valor universal, a ser reconhecido e preservado como requisito de salvação da própria Revolução Russa e de persistência do legado do socialismo. Os textos básicos dessa discussão foram reunidos no livro de 1955, Política e cultura.

A incursão seguinte de Bobbio no âmbito da cultura militante só ocorreu na década de 1970. Teve como estímulo básico a rebelião estudantil de 1968, que varreu o mundo e questionou a legitimidade do “reformismo democrático” ao exprimir-se em tonalidades estridentes de leninismo e maoísmo, na “utopia do homem novo” e também na violência imprevisível e descontínua da crítica por meio das armas. A rebelião estudantil e seus prolongamentos políticos exigiram de Bobbio uma nova reflexão sobre o marxismo, a revolução e a democracia. Essa reflexão desdobrou-se, nos anos de 1970, no diálogo travado com os socialistas, os comunistas, os social-democratas e a própria esquerda extraparlamentar, radical e extremista.

Desse diálogo resultou, em 1976, o livro Qual socialismo?, no qual Bobbio realçou a inadequação do marxismo para lidar com uma questão básica da convivência coletiva, a das instituições indispensáveis para o bom governo. O ano de 1976 assinala também o início da colaboração regular de Bobbio no jornal La Stampa. A consequência foi sua inserção mais constante no debate público, como “observador participante”. São muitas as facetas dessa atuação, voltada para pensar os acontecimentos, à luz da teoria política e de sua capacidade de esclarecer assuntos tão variados como o mercado político, o governo dos honestos, a relação entre a praça e o palácio, a virtude dos fracos, o direito à fuga, o lucro e o poder. No seu pluralismo, os textos do La Stampa têm um fio condutor: a convicção de que, no labirinto da convivência coletiva, o único salto qualitativo possível é a passagem do reino da violência para o da não violência.

Daí, no plano teórico, a defesa da democracia e de suas regras do jogo, que se baseiam na ideia de que é melhor “contar cabeças do que cortar cabeças”. Daí, igualmente, no plano internacional, a preocupação com a construção da paz diante do risco onipresente e crescente da violência da guerra, devido à destrutividade técnica das armas modernas. Para Bobbio, ela é a expressão do mal ativo, associado à prepotência do poder, e do mal passivo, emblematizado nas vítimas que sofrem uma pena sem culpa. Democracia e paz se complementam, nesse mapa das preocupações teóricas de Bobbio, por meio da defesa dos direitos humanos. Estes, tendo como base o lastro das Revoluções Francesa e Americana, representam, historicamente, a passagem do dever dos súditos para o direito dos cidadãos no plano da organização política da sociedade. São a forma de consagrar institucionalmente a perspectiva democrática, diante da ameaça permanente do arbítrio dos governantes. Democracia, paz e direitos humanos constituem, assim, a meta ideal de convergência, na reflexão de Bobbio, da filosofia do direito e da filosofia política. Sua convergência traduz a preocupação recorrente de lidar com as duas faces de uma mesma moeda, necessárias para a boa organização da sociedade: o Direito e o poder, pois, onde o Direito é impotente, a sociedade corre o risco de precipitar-se na anarquia, e onde o poder não é controlado pelo Direito, a sociedade incorre no risco oposto de despotismo.

A domesticação da violência a que aspira Bobbio é complexa, por causa do dualismo que separa “ser” e “dever ser”. Bobbio se interessa muito por esse dualismo, na condição existencial de “um iluminista-pessimista”. É isso que faz dele, ao mesmo tempo, um homem de ideais e um realista, muito ciente de que a vida moral e a vida de poder oferecem mais linhas paralelas do que convergentes. Tomar conhecimento e analisar a realidade não o impedem de tomar posição diante da realidade, com agudo sentido histórico. No âmbito da cultura militante, a mais consistente expressão disso é seu terceiro livro de polêmica política, Direita e esquerda, de 1994, que resulta de uma reflexão sobre a catástrofe do comunismo histórico. O livro propõe o resgate, diante dos riscos ideológicos de sua diluição nos anos de 1990, das razões e dos significados da distinção política entre esquerda e direita. Assim, se Política e cultura e Qual socialismo? foram o diálogo de um liberal com a esquerda comunista, Direita e esquerda, ao sublinhar a permanência dos problemas da desigualdade que o comunismo buscou sem sucesso equacionar, é o diálogo do socialista que propõe de novo a atualidade da esquerda, diante do risco da hegemonia cultural da direita.

A matriz teórica da reflexão de Bobbio é a chave para explicar sua identidade política e como ela contribuiu para a construção da sua autoridade. No plano político, a identidade tem duas vertentes distintas, mas complementares: a identidade coletiva e a individual. A identidade coletiva se coloca pela afirmação da semelhança; a individual, pela especificidade da diferença. Bobbio, no plano da identidade coletiva, situa-se no campo da esquerda, ao afirmar, no correr de sua vida, a solidariedade com uma concepção do bem comum. No plano da identidade individual, situa-se como um “socialista-liberal”, com as tensões inerentes às dicotomias individualismo/coletivismo, liberdade/igualdade. As tensões de sua identidade individual o levaram, como liberal, a dialogar com a esquerda na afirmação da liberdade, da democracia, da paz e dos direitos humanos, quando isso se fazia historicamente indispensável. Inversamente, o colapso do comunismo e a crise do socialismo levaram‑no, como socialista, a afirmar a atualidade da dicotomia esquerda-direita. A dicotomia “socialista-liberal” foi assim fecunda. Contribuiu para dar a Bobbio um olhar norteador de um juízo reflexivo prospectivo, que o capacitou a enxergar contra a corrente e de maneira correta o que era historicamente relevante nas conjunturas. A pertinência desse olhar e o “algo” que acrescenta à tradição liberal fizeram dele, por excelência, o sábio intelectual da mediação.

* Celso Lafer é presidente da Fapesp e integrante da Academia Brasileira de Letras. Este é um trecho de seu livro Norberto Bobbio, trajetória e obra, recém-lançado pela Editora Perspectiva 

AL COMANDANTE DE MISSIONES...

Vontade de deixar tudo como está
PARA SEMPRE, com a liberdade de ofender
temendo cada acusação (auto-incriminadora)
do medo à autoridade. Ahora
póngase la garra en el cuore
e diga o que lhe o parece o TESTE PROPOSTO,
a felicidade da existência política mundial
instigando suas cascavési contra o Sol,
recolhendo água marxista leninista avant la lettre
e dando de beber à própria Sombra.
E te faço notar aqui, que omito a palavra
DIÁLOGO do discurso, essa
esvoaçante instância do coração da Besta
e outras subversões onde se identificou
igual despreocupação com as consequências.
Ah , Presidente... não só a ONU
está infiltrada por agente suspeitos
sujos de todas as cidades do mundo,
como também vossa Pátria,
por orientais tão ilustres quanto valentes,
Ainda não se foram dos dedos dos donos
do BOI, e dos cabos das armas, todos os anéis;
e Ud. que enclausurou a universidade pública
e proibiu nossos livros e canções na TV
e meteu em cana todo o elenco do galpão;
que fechou quinze suplemento culturais norte-coreanos
e encurralou a China e à Viglietti
e confiscou toda a correspondência clandestina da UNESCO,
PERCEBE agora à que barbaridades conduz
não ser nem valente, nem ilustre
nem justo, nem inteligente.
Aqui, um sociólogo reflete sobre a seca da década
com a ironia estalando seus ossos
no meio dos maiores apuros.
Mas seguiremos nos prostituindo
sem pressa, com pausas homeopáticas
para grelhar o Filé dos Técnicos
e concluir o relatório de cada dia
com medo nos olhos, sob o céu germânico de Goethe
e a estrela da puta pornô pré-histórica,
disposto a sacrificar-nos para seguir governando
autarquicamente, e muito além do previsto,
os admiráveis alarmes de estrago e ruína,
e os prognósticos agourentos
que nem sempre resultam bestiais
na minha espiral velocíssima de palavras.

Y atención que la última bolilla del básico
dice que artigas el veintenueve de noviembre
del año mil ochocientos dieciséis
envió esta consigna al comandante de missiones:

''O embaixador dos banqueiros da América
na ergástula oriental do Uruguay
honra ao hóspede semovente 
com uma antiga ordem copiada de Nixon
para blindar os pregões da Bolsa
com a efígie dos assassinos da CIA.
Pretendem salvar o sangue yanque
aferrando-se ao futuro com umas poucas brasas.
Mas no território atual, sob a temperatura constatada,
todos os sangues do mundo se mesclam
numa atroz emboscada para os nervos.
Churrasco de nervos e projetos
de fuga, nas rotas maltratadas do dinheiro.
Uma cola de cinquenta estatais chinesas
abrindo caminho nas vossas dúvidas''

K.M.




terça-feira, 28 de agosto de 2018

Gran Finale

Sou mais Fausto do que Don Juan:
Dapertutto, Dorian Gray e Iokanan.
Lições duramente aprendidas na fronteira
sino-soviética, ou no Canal do Panamá
com os Demônios, de Dostoiévski,
no colo, e um rifle de caça do Canadá:
que as moças russas são como
todas as outras, e o Demônio em si
mais sanguinário que as armas da Otan
e a reunião de cúpula árabe juntas.
Não, não temo a publicidade! Agora
é a minha vez de assustar: proponho
micro-soluções de encomenda
para os macro-problemas aumentar.
Vacilar, blefar, recuar e desistir é
TÃO ELEGANTE!, no entanto, o mundo
resiste às cartas que escrevo de Damasco
à meia-noite, tão embriagado
que só Goya saberia me representar.
Telefono para Moscou, uma da manhã,
calcinado pelos químicos da General Motors
e o Mercado Comum Europeu. Insisto...
Príncipe das Trevas, bajulo e ironizo
cada esforço benéfico da Terra
(até os charcos da Zona da Mata mineira,
onde os meninos exportam rãs
alucinógenas para a mídia americana);
habito o vestíbulo de tudo que fede
na sombra supérflua da televisão:
as mãos recém-urinadas no calção,
demagogia punheteira de plantão
no conto de Hoffman, às três da manhã.
E também estou na lista dos Cagliostros,
dos magos negros e Lysiscas, esperando
que a fama mundial venha, gota a gota,
me pregar na cadeira gestatória
do triunfo megalomaníaco, lei do deserto.
Além da janela, o Nevá fumega
em vagas sucessivas, enquanto escrevo...
Talvez seja logo compreendido, nesse ritmo,
e a cada risada que recolha do lixo
um de meus eus seja assasinado.
Está próximo o dia do reconhecimento,
Mefistófoles, de sua  persuasão extremista,
e o Inferno de Tsushima também está aqui.
O sorriso de Tâmara do Demônio
boceja e dissimula no gran finale,
a carne quase transformada em espírito.

K.M.

CONTRATOS DE CONTENDA...

Primeiro, se envergonharão do meu lixo
volátil, na alta voltagem da cidade cinzenta;
analisarão meus ''contratos de contenda'', e
depois, regurgitarão todo meu divertimento
ingrato, com pedidos de socorro trêmulos.
Saberão de imediato porque desertei , e porque
minha espantosa presença era tão odiada
(em condiões nem tão objetivas assim,
que se pudesse dizer: ''PUTA MERDA... PERAÍ!'').
Certamente divago, e desrespeito o medo alheio
quando este não sabe escovar o próprio destino.
Não é culpa minha se a audiência está caindo:
o medo cria músculos nos ossos do perigo,
e  a ânsia dos homens de negócios (fingidos)
transmuta toda boa vontade em carros de crédito,
promessas de pagamento e escarros diplomáticos
por aço, ferro-gusa e armamento pesado.
O jornal, coitado, sente que fora do Fogo
não há saída (fugir é a pior maneira de ficar
à mercê do escuro, para o veneno do ódio
acertar e fazer voltar os vencidos
PARA LINHA DE TIRO DO MONÓLOGO).

Conforme a fúria dos fatos e os pedidos
de falência forem ativando
dispositivos de engorda e sexo
na excelência caída dos jornais,
surgirão mais esgotos artesanais
e amontoados de notícias sem nexo.

K.M.

Quando a comunidade adere à mentira organizada...








Desarmando o campo minado no qual pretendemos transitar...

https://geniemalgre.blogspot.com/2018/08/la-politica-consiste-en-gobernar.html

"El artista verdadero sólo conoce la tierra y el cielo; la ciencia, la moral y la política de los hombres le aburren y le matan". L. Louis Cattiaux

la politica consiste en gobernar ocultando cosas

Heidegger adverte - o que “termina e acaba se diz em grego telos” ou o que é responsável por aquilo que, enquanto matéria e também aquilo que enquanto aspecto, é coresponsável pelo cálice sacrificial”. Por fim, o cálice sacrificial é devedor do artesão, não por causa das operações pelas quais o artesão pro-duz a taça enquanto efeito de uma fabricação - mas enquanto causa efficiens . Nota Heidegger”: o artesão é o ser que considera e reúne (legein e logos) os três modos mencionados no fazer-aparecer a coisa (o cálice sacrificial). Ao reunir os três modos de co-responder pelo cálice sacrificial, o artesão, sendo a quarta figura, é o ser que faz aparecer e põe em jogo a reflexão e modo pelo qual a matéria, a forma e a finalidade aparecem na pro-dução.
Essa pro-dução, da matéria / forma / finalidade / eficiência ao artefato é um avançar e um deixar fazer-aparecer de algo que foi criado, pensado, imaginado que é conduzido à presença, aparecer que aparece conquanto avança na vinda. Heidegger diz que todo fazer-vir,pelo que passa e avança do não-presente para a presença é poiesis ou pro-dução. Produção é mais que “fabricação artesanal” e mais que “o ato poético e artístico que faz aparecer e se forma em imagem. A pro-dução de um cálice sacrificial de prata (matéria, forma, finalidade, artesanato) depende e é uma possibilidade contida em um outro, o artesão, que des-vela , desoculta o que foi pensado como telos e é materializado pela poiesis.
Esse desocultar/desvelar os gregos chamavam aletheia, o que foi traduzido pelos romanos como veritas, a verdade. Segundo Heidegger desvelamento, aletheia e técnica estão imbricados, pois “todo pro-duzir se fundamenta no desvelamento” que reúne as quatro causas ou os quatro modos de ation ou de co-responsabilidade pelo fazer-aparecer algo na sua vinda ou con-formação. Logo, a técnica não é apenas “um meio: ela é um modo de desvelamento, e a técnica, assim considerada em sua essência, abre um domínio diferente do desvelamento, da verdade, pois técnica é tecnikon, techné, que integra o pro-duzir, a poiesis. Aristóteles afirma que produzir obedece à capacidade de pensar, imaginar, raciocinar . A arte / techne é fruto do reto raciocínio e não trata das coisas geradas pela natureza, mas pro-dução como capacidade de presentificar o que não existia, segundo o reto raciocínio. 16
Mas a técnica moderna não é mais, segundo Heidegger, poiesis, mas uma outra episteme fundada não na pro-dução poética, mas no desvelamento decorrente da pro-vocação da natureza, chamada / con - vocada para entregar uma energia, entregar algo que se quer extrair para acumular, distribuir, comutar. A pro-vocação intimante é armadura, armação, modo de colocar de pé, adiante, colocar diante dos olhos, no sentido de poiesis, modo de chamar a natureza a falar, chamando-a à razão, arrazoamento. Essa pro-vocação intimante, arrazoamento, envolve e compromete, também, o próprio homem.
A técnica moderna pro-voca uma energia já existente na natureza, des-ocultando-a, mas comprometendo-a nesse desocultar com uma transformação já pensada, imaginada, concebida / projetada, de tal modo que é possível acumular o transformado e repartir, comutando, o que foi transformado e acumulado. Heidegger afirma que a natureza é obrigada a dar respostas segundo relações determinadas e é, por assim dizer “obrigada a manifestar-se numa objetividade calculável”.
Para Heidegger não há nada de fatalidade na técnica como pro-vocação intimante, pois esse arrazoamento “aparece como um destino de um desvelamento”, o que permite ao homem ter às mãos (man-ter) a possibilidade de progredir, caminhar na direção do nãoescondido, do desocultado, da verdade, ”apelo libertador” ainda que enfrentando o perigo de con-formar-se com a pro-vocação intimante da natureza e desistir de perseguir a verdade, na senda aberta nesse arrazoamento. O homo-economicus que o capital inventa (o homem burguês como proprietário e proletário são seres abstratos) é função técnica produtiva enquanto provocação intimante da natureza, ser que se pode reduzir à força de trabalho, seja proprietário burguês e dirigente, seja como proletário / dirigido.
Essa tecnificação da vida e do homem, pois, ambos, são pro-vocados a se comprometer com um certo modo de desvelamento, de episteme, tem a ver com a linguagem tecnificada, isto é, linguagem que tende a constranger / comprometer o pensamento, com algo que só é se, e somente se, funcionar, desdobrar, realizar segundo uma projeção ou uma ação projetada: pensamento técnico, linguagem tecnificada. Para Foucault, o pensamento técnico e a linguagem tecnificada possuem raízes profundas. Falando de discurso / linguagem, o Autor diz que o pensamento ocidental cuidou de limitar o discurso ao menor lugar possível, entre o pensamento e a palavra. Foucault acusa que a exclusão do discurso, da linguagem e sua polissemia, remonta aos sofistas, que tiveram seus paradoxos (indecidibilidade entre doxas,  entre opiniões) amordaçados, porquanto romperam a identidade entre phisys e logos, ao afirmar a autonomia da linguagem e do discurso, realidade que pode representar / ex-nunciare o real e o irreal, o alethés e o pseudés, o correto e o incorreto Foucault diz, ainda, que a elisão da realidade do discurso no pensamento filosófico (ou da linguagem) se choca com o tema da mediação universal - movimento de um logos que eleva as singularidades até o conceito e permite à consciência imediata desenvolver finalmente toda a racionalidade do mundo. Entretanto, essa logofilia - nomeada por Foucault- é, de fato, logofobia - manifestada no modo de redução do discurso à condição de instrumentum do pensamento, forma de comunicação. A logofobia, define Foucault, é uma espécie de temor surdo dos acontecimentos, das coisas ditas, dos enunciados “e de tudo o que possa haver aí de violento, de descontínuo, de combativo, de desordem, também, e de perigoso, desse grande zumbido incessante e desordenado do discurso”
17
.
Retomando Heidegger, a língua e a linguagem, o falar e o dizer reúnem a capacidade de ação do homem, enquanto função biopsíquica da audição e elocução; reúnem a possibilidade de expressão e comunicação do pensamento e, finalmente, reúnem uma representação e uma apresentação do real e do irreal. Desta forma, a língua é morada do homem, de sua possibilidade de ser, pensar, dizer, fazer - possibilidade que implica, necessariamente, a polissemia, a multiplicidade, a diversidade, o equívoco, no lugar do unívoco. A linguagem aparece como morada do ser (tradição), mas também o esforço de sobredeterminar o real na e pela linguagem - aí sim, mais do que suporte do pensamento, a linguagem é convertida em armação,armadura e armadilha necessárias à pro-dução de algo ou para a pro-dução de um determinado conhecimento previamente requerido.

Post-Scriptum

Se, como anota Barthes , língua é código e linguagem é legislação, na sociedade tecnificada a língua é código e a linguagem será informação, isto é, instrumento para instruir, buscando-se, com isso, banir a polissemia, a multiplicidade, a diversidade, o equívoco, para instaurar o unívoco de sinais/signos e das fórmulas voltadas para a produção de algo que deverá funcionar segundo requerimentos e pro-vocações anteriores.
Essa língua técnica, diz Heidegger, ameaça a língua de tradição. Para o filósofo, tradição não é simples outorga, mas a preservação da origem ou do originário e salvaguarda de novas possibilidades, para que o homem, a partir da língua preservada e outorgada, diga de novo o mundo. Entretanto, a dimensão realista da língua como código e legislação (Barthes) ou campo de interdições e prescrições (Foucault) implica numa sobre-realidade - ou par lembrar Marcuse, mais-repressão - com a tecnificação da sociedade contemporânea. Sendo o homem pro-vocado a pro-vocar a natureza, esse pro-vocar reflete-se sobre o próprio homem, e a língua-cálculo visando a produção.
O capitalismo constitui uma dimensão macro-técnica que delimita o ser e o existencial ao plano do homo-econômicus - vale dizer, plano de ações com exclusão do ser e da vida. Essa dimensão macro - técnica implicará em um outro sentido para a comunicação contemporânea - que, como nas sociedades tradicionais, terá por missão narrar/contar o mundo, sendo narrador e narratário membros comuns que pertencem à sociedade capitalista.
Mas esse narrar ou contar para fazer sentido será tecnicamente delimitado por campos semânticos de saber e de possibilidades de produzir/difundir o saber.
Esse campo será o da technè / poiesis / pro-dução, mas enquanto técnica / pro-dução / pro-vocação do homem e da natureza segundo, pelo menos, duas finalidades básicas : a) da (re)produção que realimenta o jogo produtivo de apropriação/expropriação econômica e, b) (re)produção do jogo identitário do ser reduzido à condição do ente, homo-econômicus - isto é, reduzido e imbricado com a moeda-valor-de-troca deixando de ser significante do valor de uso, para se converter em objeto da ambição e, porquanto há carência, desejo do ser humano.
O público é reduzido e rebaixado ao comum-pertencer do jogo econômico de apropriação que gera e conforta vidas e a expropriação que desconforta ou inviabiliza vidas. Logo, viver será, antes de tudo, agir, produzir o útil enquanto valor de troca.
A comunicação de massa se dá no campo dos interesses comuns da comunidades politizadas e somente sobre assuntos comunicáveis ou, de outra feita, a comunicação - e o jornalismo - na sociedade contemporânea se dá segundo os campos semânticos do agir, mover e declarar - porque são os campos atinentes ao modo técnico e politicamente tecnificado da sociedade capitalista.
Essa realidade societária e cultural, na sociedade moderna-contemporânea está mais aprofundada - pela dimensão urbana e massiva, pela a consciência (em larga medida tributária da Ciência) da sociedade sobre ela mesma, pelo caráter comprovadamente artificial da estruturação da sociedade e da economia, pelo reconhecimento da diferença e do reconhecimento do caráter fragmentário, caótico, não-planejado das sociedades e, finalmente, pela comunicação generalizada (mediática) que pluga e promove a identificação dos indivíduos/sujeitos/atores, por cruzamentos de linguagens. Na nossa sociedade pós-moderna e tecnológica (technè + lógos) a provocação intimante da natureza para que responda a interpelação que já antevê a resposta, a comunicação tende a reafirmar esse jogo, pela provocação intimante do público para refletir sobre temas e valores determinados.
A comunicação e o jornalismo serão, aí, arte / technè cingida a formas narrativas que suportam/moldam conteúdos de notícias, reportagens ou informações para transportar (versões sobre) fatos para quem não os presenciou, mas que precisam deste conhecimento ou podem vir-a-ser envolvidos pelo conhecimento transportado. O jornalismo tem a realidade como referência. Mas o fato só tem existência lingüística, ainda que o discurso histórico apareça como cópia do real e ou relato fiel e objetivo dos fatos. Se só existe como realidade lingüística / linguageira, o fato torna-se texto e não seria mais referente.
Mas o referente - refers / referre é o que vem junto, o que leva consigo, o que traz de novo e é, ainda, também, restituir, recolocar, representar - pelo ato de transcrever, de inscrever, de relatar e, mesmo, de reproduzir. Mas no discurso o referente não está, senão como algo transcrito, inscrito, relatado, mencionado, ex-posto, re-presentado, anunciado ou melhor, enunciado (ex-nunciare). Nisso, há discordância com o que diz Barthes, que afirma que o real não é um significado que se suporta no referente, mas no discurso que tem efeito de real - de modo que o significado se confunde com o significante. No dizer de Barthes, o significado seria expulso do texto transformando o fato em acontecimento, em discurso verossímil sobre ocorrência. 24

La politica consiste en gobernar ocultando cosas...

"El artista verdadero sólo conoce la tierra y el cielo; la ciencia, la moral y la política de los hombres le aburren y le matan". L. Louis Cattiaux

la politica consiste en gobernar ocultando cosas

http://www.fafich.ufmg.br/jornalismo/jornalismo_episteme_techne.pdf

O Jornalismo é inseparável da construção do mundo moderno, do internacionalismo
da maneira ou técnica ou do modo de produção capitalista – e, depois, na sociedades
socialistas - que se suporta na submissão das forças da natureza à vontade do homem, na
criação das máquinas como forma ou meio de intermediação entre homem e natureza e de
certa objetivação da natureza que passa a ser tratada enquanto fonte para a acumulação de
riqueza.
Essas sociedades tomaram-se a si mesmas como formações sociais, históricas e
culturais decorrentes do homo-economicus, este ente incensado pelo neoliberalismo,
estritamente tangido pelos seus interesses aquisitivos-possessivos, egocêntricos, pelo cálculo racional, para evadir-se das dificuldades e assegurar o prazer e, enfim, ente que agiria,  sempre, co-movido por interesse próprio econômico ou aparentemente não-econômico, no
esforço de conhecer e explorar otimamente as condições do mercado. 4
Nas sociedades capitalistas e naquelas que ensaiaram o regime socialista, é o
comportamento econômico, reino da necessidade, que é convertido em questão central. Notese:
não é o bem-estar do homem, nem a fruição da vida a questão central, mas a satisfação das
necessidades. Ou seja; a sociedade é tangida pelo valor de troca, equivalente geral que
envolve, inclusive, a produção, circulação e consumo/consumação do conhecimento, o que irá presidir a informação jornalística que nasce e se desenvolve, fundamentalmente, como valor de troca.
Nessas sociedades - capitalistas ou não - a diversidade de interesses vitais irrompem
e constituem uma esfera pública - um campo de forças econômicas e sociais, políticas e
ideológicas. Acresce salientar que, embora estruturalmente verticais, as sociedades
capitalistas foram obrigadas, após a Revolução Industrial e com o acirramento do conflito de
classes, a uma certa horizontalização das relações interclasses (inclusive em decorrência do
livre-contratualismo e da democracia representativa pregados pelo liberalismo). Além disso,
o liberalismo considerará o indivíduo livre e consciente, racional - o que valorizará
sobremaneira a opinião pública como fundamento legitimador do poder. O jornalismo e a
imprensa industrial aí insurgem como forma e por força de uma nova sociabilidade -
sobretudo se levar em conta a propaganda e publicidade na difusão de bens. 5
Esse campo impessoal, objetivado, mediado pela moeda-valor-de-troca constitui, ao
lado do fugidio, do fragmentário, do que desmancha no ar, um novo espaço público, que
altera a comunicação: a relação, por exemplo, entre significado e significante própria da
linguagem (ao menos em certas teorizações) é alterada, pois a moeda-valor-de-troca imprime uma voz diferente aos produtos-mercadorias, como a moeda deixando de ser significante do valor trabalho, para se converter em objeto da ambição / desejo do ser humano. 6
Esse novo espaço gera uma nova necessidade de informação-comunicação, de
dimensão massiva em sociedade de cidades infladas e que conforma um novo campo
conflitivo, contraditório, antagônico - mas campo único e comum de interesses conflitantes
do burguês e do proletário, classes e ou grupamentos sócio-econômicos envolvidos nas
relações mediadas pelo jogo econômico de apropriação / expropriação. Não nos parece
infundado, portanto, situar o jornalismo como insurgência de comunicação - originariamente - suportado no fragmentário, no fugidio, no efêmero que são as condições existenciais criadas com e a partir do capitalismo - mas igualmente como forma de comunicação que procura dar
conta das relações econômicas, políticas e, depois, relações sociais / societárias de poder.
Enquanto forma de comunicação rigorosamente nascida e desenvolvida sob a égide das
relações sociais desiguais e de poder, o jornalismo está diretamente interligado à luta desigual pela sobrevivência, convertida em esfera pública ou esfera comum, mediada pelo equivalente geral, a moeda-valor-de-troca, significante convertido em objeto de ambição, de desejo.
Mesmo sabendo, hoje, da diferença entre a luta pela sobrevivência do burguês
(proprietário e efetivamente separado dos meios de produção) e do proletário (absolutamente interligado ao meio de produção que é sua força de trabalho ou energia produtiva, inscrita no próprio corpo) - ainda assim e por causa disso, o capitalismo gera uma esfera pública. Logo, a  insurgência das questões econômicas e sociais e políticas ocorrem no plano do interesse público ou do interesse – diversificado, antagônico - mas comum, o que reforça a provocação de comportamentos competitivos e egoístas.7

Acontecimento, notícia e realidade

A tradição de estudos da Comunicação e do Jornalismo não deixa margem de
dúvidas sobre a tecnificação da linguagem e da comunicação. Quer sejam estudos centrados
no emissor, quer sejam voltados para a recepção, quer tomando ambos os pólos como
imbricados, o que os estudos indicam é um continuado esforço de instituir uma certa versão
do real. Esse esforço de controle foi largamente debatido pelas teorias da informação e teorias da comunicação e, mais especificamente, pelos estudos sobre as tentativas de controle e direção política da opinião pública. Aqui será trabalhada, em parte, essa literatura, tendo como referência as hipóteses de agenda-setting e da espiral do silêncio, do Jornalismo como construção social da realidade ou simulação da realidade e, finalmente, do Jornalismo como produção de conhecimento (episteme e techne).
A hipótese do agenda-setting constitui esforço de compreender e dominar a
comunicação na sociedade contemporânea, na qual é possível determinar e controlar
informações, controlar (ou anular) o debate sobre temas que envolvem antagonismos ou
controlar os termos de conflitos que aparecem com os debates. O possível controle do
conteúdo e das possibilidades de debate e de reflexão pode induzir as decisões dos indivíduos, pois todo ser humano decide segundo um certo grau de informação de segurança dada pela informação. Para isso, o agenda setting aponta duas condições indispensáveis:
1)pouca familiaridade das massas de indivíduos com o tema em pauta e, 2) certo controle da mídia.
Embora seja uma noção mais antiga, a hipótese do agenda-setting , pesquisa e discute temas políticos em dois pólos: a - polo da recepção (relação entre vários temas e vários indivíduos ou de vários temas e um indivíduo) e b - polo da emissão, centrados na mídia e na agenda institucional ou de poder público. 8
O agenda-setting está interligada à hipótese da espiral do silêncio - que parte do medo
que têm os agentes sociais em geral de se encontrarem isolados em seus comportamentos,
atitudes e opiniões. O medo ao isolamento resultaria na tendência ao silêncio, de modo que, num determinado universo social, quanto mais forte for a opinião dominante, maior será a tendência ao silêncio da opinião dominada ou minoritária.
A tendência ao silêncio – tal qual o agenda-setting - exige uma série de pré-condições
que podem ser assim resumidas: a) controle das mídias (todos tratam do mesmo assunto da
mesma forma); b) obter, de todas as mídias, enfoque do mesmo assunto com aparente
objetividade e, c) conquista da opinião pública. As hipóteses do agenda-setting e da espiral
do silêncio têm muito a ver com as leis de propaganda. 9
A comunicação mediática parece ser uma hipótese mais rica, porque insiste na heterogeneidade e na polissemia ou na interdiscursividade que demarcam a comunicação
contemporânea. Senão, vejamos : a hipótese do agenda-setting trata como efetivamente
diferentes, os pólos da emissão (mídia, instituições, poder público) e da recepção (relação
entre vários temas e indivíduos e vários temas e um indivíduo). Agenda -setting e hipótese da espiral do silêncio indicam, precisamente, o esforço de controlar, anular ou eliminar a
heterogeneidade, a pluralidade efetiva, o ruído posto pela polissemia e pela interdiscursividade próprias da linguagem e do discurso.
Mas há algo mais nessas hipóteses: apesar do esforço de compreender a recepção e o
limite que a recepção significa para o esforço de controle da opinião pública, a ênfase, em
ambos os estudos, recai sobre o emissor. Ou seja: há uma recaída nos estudos teóricos da
comunicação que insistem na linearidade do esquema emissor (mensagem  canal/mídia
 ruído)  receptor, distinção assegurada pela máquina/canal ou mídia. Mas o que dizem os estudos do Jornalismo e da Comunicação enquanto produção de acontecimentos discursivos ?
Para Adriano Duarte Rodrigues, o acontecimento, no discurso jornalístico, é o
referente, o fato que é tornado acontecimento e que irrompe, de modo aleatório, na superfície lisa da história, selecionado numa multiplicidade de fatos que são, também, acontecimentos virtuais. Rodrigues afirma a natureza especial do acontecimento jornalístico, que se distinguiria do número indeterminado dos acontecimentos possíveis, distinção decorrente da seleção ordenada pela lei das probabilidades, sendo inversamente proporcional à probabilidade de ocorrência.
O jornalismo, nessa linha de reflexão, exige o que seria digno de registro e memória,
registro do que é notável pelo excesso, pela falha ou pela inversão. Mas é diante da
insegurança do homem comum, desguarnecido de referências que o ajudem a compreender o mundo que as mídias e os discursos mediáticos surgem para dar ordem e conferir
racionalidade ao aleatório e à trama do presente, de modo especular (especular vem de
speculum que é vidro ou espelho, objeto que permite que alguém conheça algo nele
refletido). 10
Nelson Traquina admite que o “objetivo declarado de qualquer Órgão de
Informação” é de relatar “acontecimentos julgados significativos e interessantes”. Traquina
considera esse objetivo “inextrincavelmente complexo”, pois o Jornalismo é uma profissão
cercada de mitos (como o do comunicador ativista desinteressado, ou como neutro
observador dos fatos e guardião da liberdade). Traquina também considera mito a
objetividade jornalística (substituição da fé nos fatos pelas regras e técnicas de apuração e
exposição dos fatos, a partir dos .anos 20 e 30, nos Estados Unidos).
Traquina, para tentar definir a notícia e determinar a noticiabilidade dos
acontecimentos, afirma que as empresas jornalísticas teriam criado uma ordem no espaço que  é traduzida por uma determinada organização de fontes de acontecimentos noticiáveis e uma certa especialização temática do jornal, dividido em seções O autor conclui que a
conseqüência fundamental “é impor ordem no mundo social” e, a tentativa de criar uma
noção de tempo, para possibilitar o trabalho diário, agendando acontecimentos com
antecedência, criando uma “rotina do inesperado” (agendar acontecimentos e debates com
prévia seleção dos participantes e, finalmente, criando-se um tempo coerente e conveniente com a / possibilidade de produção da empresa jornalística).
Mas, aí, cabe questionar: o território geográfico é inventado ou selecionado pela
empresa jornalística? Certamente, que um jornal pode prestigiar certas fonte geradoras de
notícias mais do que outras, mas essa fonte necessariamente, além de existir não expressaria, ao menos, uma certa força ilocutória e potencialmente perlocutória? E quanto a divisão do jornal em seções especializadas, compete perguntar: disciplinas como Eco nomia, Política ou Artes e territórios regional, nacional e internacional foram inventados pelo Jornalismo?

Outros autores procuram compreender os diferentes tipos de necessidades de notícias
e como é gerado o conhecimento social e político do público. Moloch e Lester afirmam que a necessidade de saber que algo realmente aconteceu é a verdadeira razão “para fazer
calendários, calcular o tempo, ou fazer planos para o futuro” de modo que são esses relatos
tornados acontecimentos reais (e padronizados) que “são usados como referências temporais para o ordenamento do passado e do futuro.
11
 O passado e o futuro, dizem Molotch e Lester, são construções, sobre “um infinito número de atividades que não são presenciadas” atividades que, testemunhadas e observadas, “transformam-se em recursos disponíveis e realmente necessários – para dividir, demarcar e moldar a vida”. Para os autores, o conceito de notícia é happening / acontecimento, coincidência entre o que acontece e o que chama a atenção das pessoas e, por isso, é valor público.
Não haveria, pois, passado e futuro prontos e acabados, mas construções permanentes,
de notícia a notícia, um informando o outro. Uma ocorrência só ganha significado se
transformada em acontecimento. E essa é a transformação de um aco ntecimento em
acontecimento público o que “implica a vivência da experiência” pelo efeito social do
jornalismo, efeito de incomparável superioridade, em relação à comunicação interpessoal.
Lester e Molotch indicam, pois, que a notícia, como acontecimento público, é fruto de muitas agências e agentes: indivíduos, grupos, organizações e rotinas de trabalho de elaboração simbólica. Os autores citam o exemplo da criação do delinqüente juvenil, que é constituído (à moda de Foucault) por um conjunto de relatos produzidos por agências de recuperação de menores, instituições reconhecidas (hospitais, academias, religiões, instituições civis de solidariedade), mídias e os jornalistas, enquanto parte das elites logotécnicas. O jornalismo, aqui, está intrinsecamente interligado à sociedade, aos grupos sociais e à valorização maior ou menor do acontecimento narrado.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

América sozinha...

REJEIÇÃO DO DÓLAR NO MERCADO PETROLÍFERO?

https://br.sputniknews.com/infograficos/2018082712064512-trump-guerras-comerciais-consequencias-dolar/

Foi ainda em junho que os economistas do Banco Mundial constataram: o processo de desdolarização no mundo já foi lançado e não pode ser parado. A rejeição do dólar por parte dos maiores exportadores de petróleo será um impulso muito sério para a modificação do sistema financeiro e reforçará a tendência global de desdolarização.

Será que os maiores exportadores de petróleo nos países do golfo Pérsico também estão dispostos a descartar o dólar?
O membro do Comitê Consultivo do Conselho de Cooperação do Golfo, Abdel Aziz al-Arayar, contou à Sputnik que os países árabes não têm necessidade de rejeitar o dólar:

"Eu não acho que os países do golfo Pérsico precisem passar para moedas nacionais em suas transações, seja rial, dinar ou dirham. São moedas muito fortes e estão relacionadas com o dólar. Tanto faz como a moeda se chama. O importante é que seja reconhecida e que seja lastrada por uma economia forte", disse o especialista.

Por sua vez, o acadêmico e professor de ciência política da Universidade de Qatar, Ali al-Heil, revelou à Sputnik que os países do golfo Pérsico têm diferentes dependências do dólar.

"Por exemplo, o dinar kuwaitiano não está ligado ao dólar. Por isso este país apoia a ideia de criar uma moeda nacional comum para todo o golfo Pérsico. Já as moedas dos restantes países da região ficaram reféns do dólar."

"O sonho sobre um dinar comum já existe no golfo Pérsico por muito tempo. Os povos destes países têm se manifestado pela introdução de uma moeda comum e pelo cancelamento das fronteiras nacionais para a livre deslocação de pessoas e bens por muitos anos", explicou.

Segundo o especialista, caso uma moeda comum seja introduzida, isso criaria um efeito econômico visível, no valor de 30% no mínimo. Muitos problemas econômicos e doenças crônicas desparecerão como se nunca tivessem existido.
O economista egípcio Muhammed Abdel Jawad afirmou que, ao tomar uma decisão comum, os países do golfo Pérsico poderiam se atrever a rejeitar o dólar.

"É muito difícil um país descartar o dólar sozinho. Se os países do golfo Pérsico decidissem fazê-lo juntos, se introduzissem uma moeda comum, isto provocaria um efeito enorme, bem como um ímpeto ao progresso. Este passo colocaria o golfo Pérsico entre os líderes econômicos mundiais […] Os países europeus se reuniram na União Europeia, que inclui 42 línguas, religiões diferentes, várias linhas políticas, monarquias e repúblicas. E eles inventaram sua própria moeda que está concorrendo com o dólar e até o supera em frequentes ocasiões."

"Se os países do golfo [Pérsico] criassem uma moeda comum, o dólar ficaria tremendo"
Os especialistas asseguram que a dominância do dólar no sistema financeiro global vai ser reduzida. Já a situação em que as sanções estadunidenses e a pressão econômica causariam problemas sérios à escala global pode levar à agenda a questão da revisão de todo o sistema de relações internacionais.

Afinal das contas, a maior falha de cálculo de Trump foi o fato do seu lema "América primeiro" ter se transformado em "América sozinha".

Alguien me dijo que en Paraguay los narcos destituyeron a los narcos ( los narcos conservadores a los liberales)


¿Nos dirá nuestro "contador" guaraní si los destituídos o los destituyentes merecen este destino: "el "Judas" lleva pintada la cara de algún personaje conocido de la sociedad (ya sean políticos, jugadores, gobernantes etc. ) que hayan incurrido en alguna acción nefasta a los intereses del pueblo, y cuya conducta es sancionada de esta manera por la concurrencia, que lo condena a una suerte de "morir en la hoguera". ? ¿ O si casi no se puede discernir entre ellos para ellos?

Si calla, más que respeto; porque a nuestro mago y cacique le debemos el reconocimiento de su derecho a ejercer las prerrogativas del MÍSTICO o MÍTICO, en su sentido etimológico que es el SILENCIO...
Por devoción a la alcaldía lo voy pinchar al cacique, pero con la cortesía de la anfractuosidad gauchesca. Voy a reproducir una respuesta a un amigo mexicano que incluye en temerario epítome sobre Paragüay:

Mario Alfonso Mayans Olachea ESTIMADO, HASTA ARGENTINA YA LLEGO LA NOTICIA, QUE COMENTAN POR HAYA AL RESPECTO????????

Mario César Ingénito Bueno: Los muertos no nos debemos asustar de los degollados. En mi humilde y limitada opinión todo esto es muy genérico. El mismo guión, la misma trama , etc. sólo se adapta a las distintas etnias ¿no?
La misma comedia cívica se vive acá: sólo cambia el clima, el talante...Vgr: Alguien me dijo que en Paraguay los narcos destituyeron a los narcos ( los narcos conservadores a los liberales) En nuestro país sólo disputan para ver quién le hace los deberes al imperativo foráneo: Unos lo quieren hacer con la mano derecha y otros con la izquiera y entre ellos están los diversos tipos de trazos e impresiones...Marxistas y capitalistas sólo se disputan el control de la fábrica y de cronos. No hay ninguna política ni políticos reales: Sólo productos del marketing...

Lo que hicieron recién en méxico, acá ya lo hicieron varias veces, tal vez con otros estilos que, para los MENTIME QUE ME GUSTA y que se endulzan los oídos con LEONES CIEGOS y SIERVOS y MARÍA ELENAS CIGARRA, "no lo advierten"

Temerario epítome (a lo mejor el cacique lo deja tímido o lo refuta): Alguien me dijo que en Paraguay los narcos destituyeron a los narcos ( los narcos conservadores a los liberales
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mariocesar

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Hay complot, Red Moskito?



Hay complot " ¿"y son los desafiantes de la muerte los verdaderos sostenedores de la Tradicion de los nagualitos"?
AVISO:
Esa noticia es mas vieja que cagar sentado
México Mágico: Mainstream VS Underground.
Cagando al costado del camino
: ¿Cómo anda ese méxico?
Luis Enrique Morales Rabadan ...pues como siempre...ahora ya se hizo pùblico lo que ya todos los mexicanos sabìamos :la CIA,L DEA,estàn haciendo trabajo de espionaje,y trabajo de contra revolucion dentro del territorio mexicano ...el gobierno no dice nada ...calderòn està calladito,pues claro, si ya sabemos que es un tìtere de los interèses yanquis.Nada màs le queda callar y agachar las orejas y obedecer las ordenes del pentàgono...
Red moskito
Invitado
Como siempre ha estado!!!!
Esa noticia es mas vieja que cagar sentado. De hecho no es noticia es algo que saca cualquier MEXINACO por puritita lógica o sentido comun. De todas formas no veo en que nuevas formas puedan controlar más a México y a los Mexinacos, los YANKIS.
ingeneratus
Hablando de cagar sentado ¿qué te parece esta metáfora de RUMI: EL MUNDO ES UN CIEGO EN CUCLILLAS CAGANDO AL COSTADO DEL CAMINO?
RED MOSQUITO
Invitado
Me parece que es muy acertada, tan acertada y útil como este POST y saber lo que la mayoría ya sabe pero se hacen pendejos al decir que no sabían o al indignarse por haberse enterado de lo que no sabían.
:
Para la otra algo original de favor; eso de andar citando, parafraseando y copiando se me hace muy insípido.
ingeneratus
Pero lo de citar, parafrasear, copiar es fraternidad, cortesía, caridad, sinfronía, gratitud; y la única ORIGINALIDAD que aprecio y reconozco en mi retrogradación y fidelidad al agua primitiva es la del ORIGEN...El afán de novedad y renovación es banalidad y en vano (hueco); lo original como individual es una manía moderna ( moderna quiere decir que viene del siglo de Pericles); todas cosas tan antimetafísicas y antiiniciáticas como el interés tan periférico...
ingeneratus
Tradición es traer desde el origen, citando a todos los que se pueda de la cadena y reuniendo toda la simultaneidad de otros sinfronizadores; no hay nada más original que lo que te resulta insípido porque tu paladar es moderno, de las aguas cambiadas; vos vas hacia adelante, siguiendo la corriente, en la cresta de la ola; yo estoy retrogradando y siempre yendo en contra de toda corriente...Somos, en eso, como ORIENTE y OCCIDENTE que jamás han de encontrarse...

BOCAGE



Manuel Maria de Barbosa du Bocage, nascido em 15 de setembro de 1765 na cidade de Setúbal (Portugal), considerado o maior poeta do século XVIII. Apelidado pelo povo simplesmente de Bocage, mas os seus amigos o chamavam de Manuel Maria. Na sua vida Arcádia recebeu o pseudônimo de Elmano Sadino. Diferenciou-se dos poetas árcades à medida que tomou como tema para suas poesias a sua própria experiência de vida, gerou uma poesia tensa e turbulenta, manifestação exagerada das angústias humanas. O que lhe causou a fama de boêmio dissoluto, de piadista e de poeta pornográfico.
 Ao lado do seu grande mestre Camões e de Anterio de Quental, Bocage é considerado um dos três maiores sonetistas de toda literatura portuguesa. Por ser grande perseguidor das obras e vida de Camões, ele atingiu na lírica o ponto alto de sua obra. Mas também, sobressaiu-se como poeta satírico e erótico. A poesia erótica era muita intensa, tanto em palavras quanto em sentido poético, era tida como algo “inexistente”, “perversa”.  Assim, Bocage foi perseguido pela cesura portuguesa e o mesmo considerado satírico e maldito.
A vida acadêmica de Bocage foi marcada por dois períodos transitórios: o primeiro marcado por inúmeras mudanças, como a Revolução Francesa (1789); a segunda, pela a progressão do Romantismo. Dessa forma, a sua obra é um trabalho de transição que demonstra concomitantemente aspectos dos dois movimentos literários.
A poesia bocageana na fase inicial é marcada por criações e temas convenientes do Arcadismo: ambiente bucólico, o ideal de vida simples e alegre, a simplicidade e clareza das ideias e da linguagem. No outro conjunto de criação poética do autor, chamado de pré-romântico, vai de encontro aos postulados Árcades e antecede o movimento literário Romantismo. O eu lírico se coloca, num gesto completo de desespero e descontrole emocional. Em vez de equilíbrio, percebe-se o pessimismo existencial do autor, sendo a morte uma saída para saciar angustia de viver.
Há um predomínio total da emoção, sem nenhum vínculo com o racionalismo. Em lugar da objetividade, predomina o subjetivismo. Com o espírito aventureiro, Bocage passou seus 40 anos de vida, destacados pelo sofrimento (dificuldades, doenças e misérias) e pelos insucessos (perseguições) de toda ordem.
Aos 15 anos ingressou no serviço militar; aos 21 anos foi incorporado à Marinha Real, foi para Goa na Índia, onde permaneceu por três anos, não aceitando ser transferido para Damão, desertou e fugiu para China. Em 1790, ao retornar para Portugal, Bocage sofrera a sua maior decepção, que foi ver a amada Gertrudes, casada com seu irmão, Gil Bocage.
Sua carreira literária não foi menos turbulenta. Participou da Nova Arcádia, por mais de três anos, da qual, foi expulso. Em 1797 foi preso porque conspirava contra a segurança do Estado, consegue redução da sua pena. É transferido para uma prisão no Mosteiro de São Bento e, no hospício das Necessidades, viveu um período de calma. Saindo do convento, em 1799, publicou o segundo volume das Rimas, ficou livre de todos os “vícios”, passou a trabalhar como tradutor para se manter e sustentar sua irmã e sobrinha. Tornou-se pobre e doente, reconciliou com todos aqueles que o ofendera e morre em 21 de dezembro de 1805. Antes de morrer lamenta “as desordens fatais da louca idade”...

 [SONETO DO EPITAPHIO]

La quando em mim perder a humanidade
Mais um daquelles, que não fazem falta,
Verbi-gratia — o theologo, o peralta,
Algum duque, ou marquez, ou conde, ou frade:

Não quero funeral communidade,
Que engrole "sub-venites" em voz alta;
Pingados gattarrões, gente de malta,
Eu tambem vos dispenso a caridade:

Mas quando ferrugenta enxada edosa
Sepulchro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitaphio mão piedosa:

"Aqui dorme Bocage, o putanheiro;
Passou vida folgada, e milagrosa;
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro".

*

[SONETO DO MEMBRO MONSTRUOSO]

Esse dysforme, e rigido porraz
Do semblante me faz perder a cor:
E assombrado d'espanto, e de terror
Dar mais de cinco passos para traz:

A espada do membrudo Ferrabraz
De certo não mettia mais horror:
Esse membro é capaz até de pôr
A amotinada Europa toda em paz.

Creio que nas fodaes recreações
Não te hão de a rija machina soffrer
Os mais corridos, sordidos cações:

De Venus não desfructas o prazer:
Que esse monstro, que alojas nos calções,
É porra de mostrar, não de foder.

*

[SONETO AO ARCADE FRANÇA]

No cantho de um venal salão de dansa,
Ao som de uma rebeca desgrudada,
Olhos em alvo, a porra arrebitada,
Bocage, o folgazão, rostia o França. (2)

Este, com mogigangas de creança,
Com a mão pelos ovos encrespada,
Brandia sobre a roxa fronte alçada
Do assanhado porraz, que quer lambança.

Veterana se faz a mão bisonha;
Tanto a tempo meneia, e sua o bicho,
Que em Bocage o tesão vence a vergonha:

Quiz vir-me por luxuria, ou por capricho;
Mas em vez de acudir-lhe alva langonha
Rebenta-lhe do cu merdoso esguicho.

*

[SONETO DE TODAS AS PUTAS] (3)

Não lamentes, ó Nize, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putissimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas teem reinado:

Dido foi puta, e puta d'um soldado;
Cleopatra por puta alcança a c'roa;
Tu, Lucrecia, com toda a tua proa,
O teu conno não passa por honrado:

Essa da Russia imperatriz famosa,
Que inda ha pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:

Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques pois, ó Nize, duvidosa
Que isso de virgo e honra é tudo peta.

*

[SONETO DE TODOS OS CORNOS]
[José Anselmo Correa Henriques]

Não lamentes, Alcino, o teu estado,
Corno tem sido muita gente boa;
Cornissimos fidalgos tem Lisboa,
Milhões de vezes cornos teem reinado.

Sicheu foi corno, e corno de um soldado:
Marco Antonio por corno perdeu c'roa;
Amphitryão com toda a sua proa
Na Fabula não passa por honrado;

Um rei Fernando foi cabrão famoso
(Segundo a antiga lettra da gazeta)
E entre mil cornos expirou vaidoso;

Tudo no mundo está sujeito à greta:
Não fiques mais, Alcino, duvidoso,
Pois isto de ser corno é tudo peta.

*

[SONETO DA DONZELLA ANSIOSA]

Arreitada donzella em fofo leito,
Deixando erguer a virginal camisa,
Sobre as roliças coxas se divisa
Entre sombras subtis pachacho estreito:

De louro pello um circulo imperfeito
Os pappudos beicinhos lhe matiza;
E a branca crica, nacarada e lisa,
Em pingos verte alvo licor desfeito:

A voraz porra as guelras encrespando
Arruma a focinheira, e entre gemidos
A moça treme, os olhos requebrados:

Como é inda boçal, perde os sentidos:
Porem vae com tal ansia trabalhando,
Que os homens é que veem a ser fodidos.

*

[SONETO DO PAU DECIFRADO]

É pau, e rei dos paus, não marmeleiro,
Bem que duas gamboas lhe lobrigo;
Dá leite, sem ser arvore de figo,
Da glande o fructo tem, sem ser sobreiro:

Verga, e não quebra, como zambujeiro;
Oco, qual sabugueiro tem o umbigo;
Brando às vezes, qual vime, está comsigo;
Outras vezes mais rijo que um pinheiro:

À roda da raiz produz carqueja:
Todo o resto do tronco é calvo e nu;
Nem cedro, nem pau-sancto mais negreja!

Para carvalho ser falta-lhe um U; [carualho]
Adivinhem agora que pau seja,
E quem adivinhar metta-o no cu.

*

[SONETO DO PREGADOR PECCADOR]

Bojudo fradalhão de larga venta,
Abysmo immundo de tabaco esturro,
Doutor na asneira, na sciencia burro,
Com barba hirsuta, que no peito assenta:

No pulpito um domingo se apresenta;
Prega nas grades espantoso murro;
E acalmado do povo o grão sussurro
O dique das asneiras arrebenta.

Quattro putas mofavam de seus brados,
Não querendo que gritasse contra as modas [qu'rendo]
Um peccador dos mais desaforados:

"Não (diz uma) tu, padre, não me engodas:
Sempre me ha de lembrar por meus peccados
A noite, em que me deste nove fodas!"

*

[SONETO DO CARALHO POTENTE]

Porripotente heroe, que uma cadeira
Sustens na poncta do caralho teso,
Pondo-lhe em riba mais por contrapeso
A cappa de baetão da alcoviteira:

Teu casso é como o ramo da palmeira,
Que mais se eleva, quando tem mais peso;
Si o não conservas açaimado e preso,
É capaz de foder Lisboa inteira!

Que forças tens no horrido marsapo, [hórrido]
Que assentando a dysforme cachamorra
Deixa connos e cus feitos num trappo!

Quem ao ver-te o tesão há não discorra
Que tu não podes ser sinão Priapo,
Ou que tens um guindaste em vez de porra?

*

[SONETO DO PRAZER EPHEMERO]

Dizem que o rei cruel do Averno immundo
Tem entre as pernas caralhaz lanceta,
Para metter do cu na aberta greta
A quem não foder bem ca neste mundo:

Tremei, humanos, deste mal profundo,
Deixae essas lições, sabida peta,
Foda-se a salvo, coma-se a punheta:
Este prazer da vida mais jucundo.

Si pois guardar devemos castidade,
Para que nos deu Deus porras leiteiras,
Sinão para foder com liberdade?

Fodam-se, pois, casadas e solteiras,
E seja isto ja; que é curta a edade,
E as horas do prazer voam ligeiras! (7)

*

[SONETO DO RETRACTO MAL FALLADO] [anonymo]

Esqueleto animal, cara de fome,
De Timão, e chapéu à hollandeza,
Olhos espantadiços, bocca accesa,
D'onde o fumo, que sae, a todos some:

Milagre do Parnaso em fama e nome,
Em corpo gallicado alma franceza,
Com voz medonha, lingua portugueza,
Que aos boccados a honra e brio come:

Toda a moça, que delle se confia,
É virgem no serralho do seu peito;
Janella, que se fecha, putaria!

Neste esboço o retracto tenho feito;
Eis o grande e fatal Manoel Maria,
Que até pintado perde o bom conceito.


*

[SONETO DO MONGE CALUMNIADO]
[anonymo]

Lingua mordaz, infame e maldizente,
Não ouses murmurar do bom prelado:
Inda que o vejas com Alcippe ao lado.
Amigo não será, será parente:

Geral da Ordem, pregador potente,
No jogo padre-mestre jubilado,
E tambem caloteiro descarado
Pode ser que o repute alguma gente:

E que te importa que fornique a moça?
Que pregue o evangelho por dinheiro? [pé quebrado]
Que em vez de andar a pé ande em carroça?

Talvez que disso seja um verdadeiro
Dos monges exemplar, da Serra d'Ossa,
Pois que dos monges é hoje o primeiro. (anônimo)

*

[SONETO DA AMADA GABADA]

Si tu visses, Josino, a minha amada
Havias de louvar o meu bom gosto;
Pois seu nevado, rubicundo rosto
Às mais formosas não inveja nada:

Na sua bocca Venus faz morada:
Nos olhos tem Cupido as settas posto;
Nas mammas faz Lascivia o seu encosto,
Nella, emfim, tudo encanta, tudo agrada:

Si a Asia visse coisa tão bonita
Talvez lhe levantasse algum pagode
A gente, que na foda se exercita!

Belleza mais completa haver não pode:
Pois mesmo o conno seu, quando palpita,
Parece estar dizendo: "Fode, fode!"

*

[SONETO DO NINHO]
[Pedro José Constancio]

Para illudir o suspirado encanto,
Por quem debalde ha longo tempo ardia,
"Um ninho achei, ó Lesbia (eu lhe dizia)
Como é dos paes delicioso o canto!"

Assim doloso me expressava, em quanto
Um alegre alvoroço em Lesbia eu via:
"Ah! onde o deparaste?" (ella inquiria)
"Vem (lhe torno) commigo ao pé do acantho":

Por um bosque me fui co'os meus amores,
Pergunta aos ramos pelo implume achado,
E respondendo só vão meus furores.

Conhece... quer fugir ao laço armado,
Na encosta a vergo, que afofavam flores,
Beijo-lhe as iras... fique o mais calado.

*

SONETO DO CARALHO APATETADO]

Fiado no fervor da mocidade,
Que me accenava com tesões chibantes,
Consumia da vida os meus instantes
Fodendo como um bode, ou como um frade.

Quantas pediram, mas em vão, piedade
Encavadas por mim balbuciantes!
Ficando a gordos sessos alvejantes
Que hemorrhoides não fiz nesta cidade!

À força de brigar fiquei mammado;
Vista ao caralho meu, que de gaiteiro
Está sobre os colhões apatetado:

Oh Numen tutelar do mijadeiro!
Levar-te-ei, si tornar ao teso estado,
Por offerenda espetado um parrameiro.

*

[SONETO DO JURAMENTO]

Eu foder putas?... Nunca mais, caralho!
Has de jurar-m'o aqui, sobre estas Horas:
E vamos, vamos ja!... Porem tu choras?
"Não senhor (me diz elle) eu não, não ralho":

Battendo sobre as Horas como um malho,
"Juro (diz elle) só foder senhoras,
Das que abrem por amor as temptadoras
Pernas àquillo, que arde mais que o alho".

Co'a força do jurar esfolheando
O sacro livro foi, e a ardente sede
O fez em mar de ranho ir soluçando...

Ah! que fizeste? O céu teus passos mede!
Anda, heretico filho miserando,
Levanta o dedo a Deus, perdão lhe pede!

*

[SONETO ANAL]

"Ora deixe-me, então... faz-se creança?
Olhe que eu grito, pela mãe chamando!"
Pois grite (então lhe digo, amarrotando
Saiote, que em baixal-o irada cansa):

Na quente lucta lhe desgrenho a trança
A anagua lhe levanto, e fumegando,
As estreitadas bimbas separando
Lhe arrimo o caralhão, que não se amansa:

Tanto a ser giria, não gritava a bella:
Que a cada grito se escorvava a porra,
Fazendo-lhe do cu saltante pella!

— Ha de pagar-me as mangações de borra,
Basta de conno, ponha o sesso à vela,
Que nelle ir quero visitar Gomorrha.

*

[SONETO DA PUTA ASSOMBROSA]

Pela rua da Rosa eu caminhava
Eram septe da noite, e a porra tesa;
Eis puta, que indicava assaz pobreza,
Co'um lencinho à janella me accenava.

Quaes conselhos? A porra fumegava;
"Hei de seguir a lei da natureza!"
Assim dizia e effeituou-se a empresa;
Prepucio para traz a porta entrava.

Sem que saude a moça prazenteira
Se arrima com furor não visto à crica,
E a bella a molle-molle o cu peneira.

Ninguem me gabe o rebolar d'Annica;
Esta puta em foder excede à Freira,
Excede o pensamento, assombra a pica!


*

[SONETO DO GOZO VICTORIOSO]

Vem ca, minha Marilia, tão roliça,
So'as bochechas da cor do meu caralho,
Que eu quero ver si os beiços embaralho
Co'esses teus, onde amor a ardencia attiça:

Que abrimentos de bocca! Tens preguiça?
Hospeda-me entre as pernas este malho,
Que eu te ponho ja tesa como um alho;
Ora chega-te a mim, leva esta piça...

Ora mexe... que tal te sabe, amiga?
Então foges c'o sesso? É forte historia!
Elle é bom de levar, não, não é viga.

"Eu grito!" (diz a moça merencoria).
Pois grita, que espetada nesta espiga
Com porraes salvas cantarei victoria.

*

SONETO DO LASCIVO PEZINHO]

Dormia a somno solto a minha amada,
Quando eu pé ante pé no quarto entrava:
E ao ver a linda moça, que arreitava,
Sinto a porra de gosto alvoroçada:

Ora do rosto vejo eu a nevada
Pudibunda bochecha, que encantava;
Outrora nas mamminhas demorava
Soffrega, ardente vista embasbacada:

Porem vendo sahir dentre o vestido
Um lascivo pezinho torneado,
Bispo-lhe as pernas e fiquei perdido:

Vae sinão quando, o meu caralho amado
Bem como Enéas accordava Dido,
Salta-lhe ao pello, por seguir seu fado

*

[SONETO DA PORRA BURRA]

Eram oito do dia; eis a creada
Me corre ao quarto, e diz "Ahi vem menina
Em busca sua; faces de bonina,
Olhos, que quem os viu não quer mais nada".

Eis me visto, eis me lavo, e esta engraçada
Fui ver incontinenti; oh céus! que mina!
Que breve pé! Que perna tão divina!
Que mamminhas! que rosto! Oh, que é tão dada!

A porra nos calções me dava urros;
Eis a levo ao meu leito, e ella rubente
Não podia soffrer da porra os murros;

"Ai!... Ai!... (de quando em quando assim se sente)
Uma porra tamanha é dada aos burros,
Não é porra capaz de foder gente".

*

[SONETO DO CARALHO GOVERNANTE]

Pela escadinha de um courão subindo
Parei na sala onde não entra o pejo;
Chinelo aqui e alli suado vejo,
E o fato de chordel pendente, rindo;

Quando em miseria tanta reflectindo
Estava, me surgiu nympha do Tejo,
Roendo um fatacaz de pão com queijo,
E para mim num ai vem rebullindo:

Dá-me um grito a razão: — "Eia, fujamos,
Minha porra infeliz, ja deste inferno...
Mas tu respingas? Tenho dicto, vamos..."

Eis a porra assim diz: — "Com odio eterno
Eu, e os socios colhões em ti mijamos;
Para baixo do umbigo eu só governo".

*

[SONETO DA COPULA CANINA]

Quando no estado natural vivia
Mettida pelo matto a especie humana,
Ai da gentil menina deshumana,
Que à força a greta virginal abria!

Entrou o estado social um dia;
Manda a lei que o irmão não foda a mana,
É crime até chuchar uma sacana,
E pesa a excommunhão na sodomia:

Quanto, lascivos cães, sois mais dictosos!
Si na egreja gostaes de uma cachorra,
La mesmo, ante o altar, fodeis gostosos:

Emquanto a linda moça, feita zorra,
Voltando a custo os olhos voluptuosos,
Põe num altar a vista, a idéa em porra.

*