domingo, 19 de agosto de 2018

Resistência número 28.

O limão maduro que finges espremer
não pode regar com uma dose extra
de prestígio, teus órgãos de comer,
e beber água morna com ameixas secas
não contentará teu coração Veja:
é o que eu acho... Depois de dito isso,
resta o meu papo com a moça,
conversa ainda tensa e muscular.
Discuto com ela minha auto-programação:
latidos de cão, garras brutais e
muita ação rápida na frente fria,
e enxurradas de esperanças tardias
de lucro, suor escasso de calafrios.
No psicoteste da paixão, transito
sem rumo, aprisionado por retalhos
de insólitos afagos desalinhados.
Certamente, pouca coisa ali ia além
de um homem com fome de alguém.
Riscava minha ânsia de novos achados
com unhas faiscantes, achando que parado
conservaria uma certa possibilidade dela:
''Mesmo com minha sombra inclinada
na tua, só para vê-la, para onde pensas que fui?''
Defendia-me assim da sabotagem da sede
pressentida, como um nervo que rui
voluntariamente, só para tê-la
aqui no meu ramo, visitado só pela pedrada.
Resistência número 28. Difícil fazer ela
entrar no poema, e misturar-se à salada
do meu riso acumulado: 27 êxtases
e 18 ameaças de sublimações concentradas
lá fora, com suas máscaras de resgate
preparadas para um tempo sem ti. Mas
tentarei transformar-me no ciúme que preza
o perigo da supresa, a corda bamba
da fera desafiada em seu refúgio.
Amarrerei a tempestade dos instintos
castamente, no mato, sem subterfúgios,
contra o imenso mal estar do mundo.
Só para poder vê-la de passagem, sem rir,
nem que seja por um segundo.

K.M.

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