quarta-feira, 22 de agosto de 2018

CAIXA DE ANFETAMINAS LOUCAS

Os passos, amados ou odiados,
se calaram para desfilar na luz
apenas suas mais recônditas sombras.
Um aceno com a mão, de longe,
na penumbra do camarote, emudecia
o paraíso prometido com um riso de desdém.
Passados alguns dias, a Musa inconsciente
não se convertera em nada de valor.
Não passava agora de poeira nos dentes,
controle da máquina de outras namoradas
que apressavam na garganta a veloz golfada.
Eu havia renunciado à tudo, coando
café em horas estranhas, na casa que desaba.
Trocara a pior escoha pela falta de escolha,
escrevendo a palavra NÓS obliquamente
paa tentar poupar a Casa do Poeta.
Na palma da minha mão, agora se liam
os milagres que tiveram que ser adiados.
A mesma sanha de vazio cósmico cintilando
em todas as direções, e havia força nela.
A vontade de Allah a abençoava, radiosamente,
e a Rússia de Dostoiévski a cobria
e sepultava com carinho. SIGO EM FRENTE!,
em Baden-Baden, a roleta russa também rangia
cronometrando tudo com perfeita fluidez.
Dividira-me em tantos cursos diferentes
que os que me liam agora eram só, talvez,
variações de mim, que me aplaudiam
por só abaixar a cabeça (que pirraça!)
para amarrar os sapatos, ou abrir a caixa
de anfetaminas loucas das desgraças.

K.M.

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