quinta-feira, 30 de agosto de 2018

CAUTELA SUICIDA

Marchamos para Kierkgaard ingenuamente
divididos pelo espólio da carcaça sangrenta
nos escombros da comunidade
de brancas recepcionistas do Atlântico Norte.
No escuro embolados, lutamos uns contra os outros
cegamente, derrubando até os pobres eskimós
que lutam pelas vísceras do último urso.
Nada mais se desprende dos dentes do nosso herói
além de uma cômica cautela suicida
já sem muita intensidade,
sorrindo da falta de socorro
na trêmula superfície da pressa geral.
Qualquer mudança aqui (no momento)
representa ainda mais aflição
para os mansos utópicos
com seus ''senões'' em nome de Deus.
Nada mais pode ser feito da massa comum
de toda essa agonia canibal,
que tudo assimila e reduz
à própria matéria caótica.
As cinzas voláteis correm na calçada
de Wall Street, onde são pisadas como coisas vivas
até desembarcarem numa garrafa de rum, onde
uma nova noite nasce
da última, arrastando consigo
suas possibilidades de ânsia promissora.
Enquanto isso o poeta trabalha
numa sopa chamada turbulência,
estrelando ovos de serpente no papel
como trastes espedaçados por um susto.
E o que todo esse expediente camufla,
mais tarde, ganhará para todos um novo interesse.
A urgência do relatório, como quem chega de longe
devastado por um incêndio, saúda a fala curta
da carcaça do Touro
com humildade repentina.
E era essa, talvez, a única concessão
disponível NO MOMENTO
à sua desgraça sado-masoquista.

K.M.

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