"El artista verdadero sólo conoce la tierra y el cielo; la ciencia, la moral y la política de los hombres le aburren y le matan". L. Louis Cattiaux
la politica consiste en gobernar ocultando cosas
Heidegger adverte - o que “termina e acaba se diz em grego telos” ou o que é responsável por aquilo que, enquanto matéria e também aquilo que enquanto aspecto, é coresponsável pelo cálice sacrificial”. Por fim, o cálice sacrificial é devedor do artesão, não por causa das operações pelas quais o artesão pro-duz a taça enquanto efeito de uma fabricação - mas enquanto causa efficiens . Nota Heidegger”: o artesão é o ser que considera e reúne (legein e logos) os três modos mencionados no fazer-aparecer a coisa (o cálice sacrificial). Ao reunir os três modos de co-responder pelo cálice sacrificial, o artesão, sendo a quarta figura, é o ser que faz aparecer e põe em jogo a reflexão e modo pelo qual a matéria, a forma e a finalidade aparecem na pro-dução.
Essa pro-dução, da matéria / forma / finalidade / eficiência ao artefato é um avançar e um deixar fazer-aparecer de algo que foi criado, pensado, imaginado que é conduzido à presença, aparecer que aparece conquanto avança na vinda. Heidegger diz que todo fazer-vir,pelo que passa e avança do não-presente para a presença é poiesis ou pro-dução. Produção é mais que “fabricação artesanal” e mais que “o ato poético e artístico que faz aparecer e se forma em imagem. A pro-dução de um cálice sacrificial de prata (matéria, forma, finalidade, artesanato) depende e é uma possibilidade contida em um outro, o artesão, que des-vela , desoculta o que foi pensado como telos e é materializado pela poiesis.
Esse desocultar/desvelar os gregos chamavam aletheia, o que foi traduzido pelos romanos como veritas, a verdade. Segundo Heidegger desvelamento, aletheia e técnica estão imbricados, pois “todo pro-duzir se fundamenta no desvelamento” que reúne as quatro causas ou os quatro modos de ation ou de co-responsabilidade pelo fazer-aparecer algo na sua vinda ou con-formação. Logo, a técnica não é apenas “um meio: ela é um modo de desvelamento, e a técnica, assim considerada em sua essência, abre um domínio diferente do desvelamento, da verdade, pois técnica é tecnikon, techné, que integra o pro-duzir, a poiesis. Aristóteles afirma que produzir obedece à capacidade de pensar, imaginar, raciocinar . A arte / techne é fruto do reto raciocínio e não trata das coisas geradas pela natureza, mas pro-dução como capacidade de presentificar o que não existia, segundo o reto raciocínio. 16
Mas a técnica moderna não é mais, segundo Heidegger, poiesis, mas uma outra episteme fundada não na pro-dução poética, mas no desvelamento decorrente da pro-vocação da natureza, chamada / con - vocada para entregar uma energia, entregar algo que se quer extrair para acumular, distribuir, comutar. A pro-vocação intimante é armadura, armação, modo de colocar de pé, adiante, colocar diante dos olhos, no sentido de poiesis, modo de chamar a natureza a falar, chamando-a à razão, arrazoamento. Essa pro-vocação intimante, arrazoamento, envolve e compromete, também, o próprio homem.
A técnica moderna pro-voca uma energia já existente na natureza, des-ocultando-a, mas comprometendo-a nesse desocultar com uma transformação já pensada, imaginada, concebida / projetada, de tal modo que é possível acumular o transformado e repartir, comutando, o que foi transformado e acumulado. Heidegger afirma que a natureza é obrigada a dar respostas segundo relações determinadas e é, por assim dizer “obrigada a manifestar-se numa objetividade calculável”.
Para Heidegger não há nada de fatalidade na técnica como pro-vocação intimante, pois esse arrazoamento “aparece como um destino de um desvelamento”, o que permite ao homem ter às mãos (man-ter) a possibilidade de progredir, caminhar na direção do nãoescondido, do desocultado, da verdade, ”apelo libertador” ainda que enfrentando o perigo de con-formar-se com a pro-vocação intimante da natureza e desistir de perseguir a verdade, na senda aberta nesse arrazoamento. O homo-economicus que o capital inventa (o homem burguês como proprietário e proletário são seres abstratos) é função técnica produtiva enquanto provocação intimante da natureza, ser que se pode reduzir à força de trabalho, seja proprietário burguês e dirigente, seja como proletário / dirigido.
Essa tecnificação da vida e do homem, pois, ambos, são pro-vocados a se comprometer com um certo modo de desvelamento, de episteme, tem a ver com a linguagem tecnificada, isto é, linguagem que tende a constranger / comprometer o pensamento, com algo que só é se, e somente se, funcionar, desdobrar, realizar segundo uma projeção ou uma ação projetada: pensamento técnico, linguagem tecnificada. Para Foucault, o pensamento técnico e a linguagem tecnificada possuem raízes profundas. Falando de discurso / linguagem, o Autor diz que o pensamento ocidental cuidou de limitar o discurso ao menor lugar possível, entre o pensamento e a palavra. Foucault acusa que a exclusão do discurso, da linguagem e sua polissemia, remonta aos sofistas, que tiveram seus paradoxos (indecidibilidade entre doxas, entre opiniões) amordaçados, porquanto romperam a identidade entre phisys e logos, ao afirmar a autonomia da linguagem e do discurso, realidade que pode representar / ex-nunciare o real e o irreal, o alethés e o pseudés, o correto e o incorreto Foucault diz, ainda, que a elisão da realidade do discurso no pensamento filosófico (ou da linguagem) se choca com o tema da mediação universal - movimento de um logos que eleva as singularidades até o conceito e permite à consciência imediata desenvolver finalmente toda a racionalidade do mundo. Entretanto, essa logofilia - nomeada por Foucault- é, de fato, logofobia - manifestada no modo de redução do discurso à condição de instrumentum do pensamento, forma de comunicação. A logofobia, define Foucault, é uma espécie de temor surdo dos acontecimentos, das coisas ditas, dos enunciados “e de tudo o que possa haver aí de violento, de descontínuo, de combativo, de desordem, também, e de perigoso, desse grande zumbido incessante e desordenado do discurso”
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Retomando Heidegger, a língua e a linguagem, o falar e o dizer reúnem a capacidade de ação do homem, enquanto função biopsíquica da audição e elocução; reúnem a possibilidade de expressão e comunicação do pensamento e, finalmente, reúnem uma representação e uma apresentação do real e do irreal. Desta forma, a língua é morada do homem, de sua possibilidade de ser, pensar, dizer, fazer - possibilidade que implica, necessariamente, a polissemia, a multiplicidade, a diversidade, o equívoco, no lugar do unívoco. A linguagem aparece como morada do ser (tradição), mas também o esforço de sobredeterminar o real na e pela linguagem - aí sim, mais do que suporte do pensamento, a linguagem é convertida em armação,armadura e armadilha necessárias à pro-dução de algo ou para a pro-dução de um determinado conhecimento previamente requerido.
Post-Scriptum
Se, como anota Barthes , língua é código e linguagem é legislação, na sociedade tecnificada a língua é código e a linguagem será informação, isto é, instrumento para instruir, buscando-se, com isso, banir a polissemia, a multiplicidade, a diversidade, o equívoco, para instaurar o unívoco de sinais/signos e das fórmulas voltadas para a produção de algo que deverá funcionar segundo requerimentos e pro-vocações anteriores.
Essa língua técnica, diz Heidegger, ameaça a língua de tradição. Para o filósofo, tradição não é simples outorga, mas a preservação da origem ou do originário e salvaguarda de novas possibilidades, para que o homem, a partir da língua preservada e outorgada, diga de novo o mundo. Entretanto, a dimensão realista da língua como código e legislação (Barthes) ou campo de interdições e prescrições (Foucault) implica numa sobre-realidade - ou par lembrar Marcuse, mais-repressão - com a tecnificação da sociedade contemporânea. Sendo o homem pro-vocado a pro-vocar a natureza, esse pro-vocar reflete-se sobre o próprio homem, e a língua-cálculo visando a produção.
O capitalismo constitui uma dimensão macro-técnica que delimita o ser e o existencial ao plano do homo-econômicus - vale dizer, plano de ações com exclusão do ser e da vida. Essa dimensão macro - técnica implicará em um outro sentido para a comunicação contemporânea - que, como nas sociedades tradicionais, terá por missão narrar/contar o mundo, sendo narrador e narratário membros comuns que pertencem à sociedade capitalista.
Mas esse narrar ou contar para fazer sentido será tecnicamente delimitado por campos semânticos de saber e de possibilidades de produzir/difundir o saber.
Esse campo será o da technè / poiesis / pro-dução, mas enquanto técnica / pro-dução / pro-vocação do homem e da natureza segundo, pelo menos, duas finalidades básicas : a) da (re)produção que realimenta o jogo produtivo de apropriação/expropriação econômica e, b) (re)produção do jogo identitário do ser reduzido à condição do ente, homo-econômicus - isto é, reduzido e imbricado com a moeda-valor-de-troca deixando de ser significante do valor de uso, para se converter em objeto da ambição e, porquanto há carência, desejo do ser humano.
O público é reduzido e rebaixado ao comum-pertencer do jogo econômico de apropriação que gera e conforta vidas e a expropriação que desconforta ou inviabiliza vidas. Logo, viver será, antes de tudo, agir, produzir o útil enquanto valor de troca.
A comunicação de massa se dá no campo dos interesses comuns da comunidades politizadas e somente sobre assuntos comunicáveis ou, de outra feita, a comunicação - e o jornalismo - na sociedade contemporânea se dá segundo os campos semânticos do agir, mover e declarar - porque são os campos atinentes ao modo técnico e politicamente tecnificado da sociedade capitalista.
Essa realidade societária e cultural, na sociedade moderna-contemporânea está mais aprofundada - pela dimensão urbana e massiva, pela a consciência (em larga medida tributária da Ciência) da sociedade sobre ela mesma, pelo caráter comprovadamente artificial da estruturação da sociedade e da economia, pelo reconhecimento da diferença e do reconhecimento do caráter fragmentário, caótico, não-planejado das sociedades e, finalmente, pela comunicação generalizada (mediática) que pluga e promove a identificação dos indivíduos/sujeitos/atores, por cruzamentos de linguagens. Na nossa sociedade pós-moderna e tecnológica (technè + lógos) a provocação intimante da natureza para que responda a interpelação que já antevê a resposta, a comunicação tende a reafirmar esse jogo, pela provocação intimante do público para refletir sobre temas e valores determinados.
A comunicação e o jornalismo serão, aí, arte / technè cingida a formas narrativas que suportam/moldam conteúdos de notícias, reportagens ou informações para transportar (versões sobre) fatos para quem não os presenciou, mas que precisam deste conhecimento ou podem vir-a-ser envolvidos pelo conhecimento transportado. O jornalismo tem a realidade como referência. Mas o fato só tem existência lingüística, ainda que o discurso histórico apareça como cópia do real e ou relato fiel e objetivo dos fatos. Se só existe como realidade lingüística / linguageira, o fato torna-se texto e não seria mais referente.
Mas o referente - refers / referre é o que vem junto, o que leva consigo, o que traz de novo e é, ainda, também, restituir, recolocar, representar - pelo ato de transcrever, de inscrever, de relatar e, mesmo, de reproduzir. Mas no discurso o referente não está, senão como algo transcrito, inscrito, relatado, mencionado, ex-posto, re-presentado, anunciado ou melhor, enunciado (ex-nunciare). Nisso, há discordância com o que diz Barthes, que afirma que o real não é um significado que se suporta no referente, mas no discurso que tem efeito de real - de modo que o significado se confunde com o significante. No dizer de Barthes, o significado seria expulso do texto transformando o fato em acontecimento, em discurso verossímil sobre ocorrência. 24
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