mas só eu continuo falando sozinho
com minhas quatro bocas dentadas:
Fogueira, curtume, carniça e balas
vazando a madrugada do atirador.
Não volto o rosto ao primeiro clamor
quando nenhum lado resta para ferir;
e quando recebo em cheio o tiro na cara,
aumento em três laudas meu relatório:
me arrasto no chão, entre mortos e feridos,
murmurando a letargia que reduz a produção
de veneno. Minha saliva ensanguentada
sai no rastro pestilento das bactérias
que o Demônio deve ao povo cansado.
''Ah, esses apressados! Precipício das artérias
que mataram o ascensorista no trabalho''.
O Demônio ri, enquanto a mais devassa puta
escancara a buceta à sombra do Capitólio.
Lá fora as coisas inspiram mais cuidado:
atrás de mim, as cinzas deste imbróglio
catártico, hipnotizam o riso envenenado.
O jornal borbulha, com vontade de ser pântano
e um desabrido risco de gastura, tântrico,
rearma os dentes com balas até a boca.
A última hora da tocaia é louca, o verso
é atitude ou blefe, e por isso xeque-mate.
Ontem, brinquedo sexual imundo, perverso,
Hoje, um torpedo suicida vindo de Marte.
Na última hora, o verso devolve o cheque
ao poeta, gritando: ''MATE-SE!'', com a espada
no coração, sangrando uma liberdade medonha.
O que sobra é um rastro de sombras na escada
grunhindo gargalhadas, ejaculando peçonha
nos restos mortais desconjuntados da amada.
K.M.
Nenhum comentário:
Postar um comentário