quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Cortaré con mis manos las flores de su corona...

A zorra passarada cospe música
quando, de súbito,  começa o tiroteio
e as cores estrondeiam no blecaute:
os jardins do quintal quedam humildes
e a hecatombe de penas forra o asfalto.
O comboio de veneno, doente de beleza,
encontra a loucura sã da natureza.
''Sai de mim, Demônio atemporal(!)'',
grita ela, inteira em sua nudez ----
mas a chuva é violenta, e ultrapassa
a pele invisível, que seu tato amassa
dentro de um sono sem sono, rindo à sombra
ante o lótus florido dos gestos indefesos.
Deixo o que pensam que sou entrar no recinto
e sentar à mesa do espetáculo, surpreso:
a paisagem virgem, agora, ecoa sitiada;
veredas rasgadas no mato da carne usada
um tanto de dentro, um tanto de fora,
sofrem um toque de fala e outro de intensidade
propícia à satisfação do desejo, da vaidade
chapada e previsível dos dentes inóspitos,
do egoísmo do qual sou dependente...
Nessa relação, o próximo se desumaniza
na distância com que abasteço minha vida.
Volto para casa completamente ensanguentado,
por iodo de latido e capricho envenenado.
Carne e vácuo pulsando em camadas metafísicas,
cuspindo lembranças com pasta dentrifícia.

K.M.

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