terça-feira, 2 de outubro de 2018

15 poemas e crônicas para os amantes dos gatos

“Um gato vive um pouco nas poltronas, no cimento ao sol, no telhado sob a lua. Vive também sobre a mesa do escritório, e o salto preciso que ele dá para atingi-la é mais do que impulso para a cultura. É o movimento civilizado de um organismo plenamente ajustado às leis físicas, e que não carece de suplemento de informação. Livros e papéis, beneficiam-se com a sua presteza austera. Mais do que a coruja, o gato é símbolo e guardião da vida intelectual.”

(Perde o gato – crônica de Carlos Drummond de Andrade)

“Eu fecho meu livro “O Significado do Zen” e vejo o gato sorrindo para sua pele, e penteando-a cuidadosamente com sua língua cor de rosa e áspera.
“Gato, eu gostaria de te emprestar este livro, mas parece que tu já o leste”.
Ele me olha com seu olhar penetrante, e ronrona: “Não seja ridículo… Fui eu que escrevi!”
(Texto de: Dilys Laing)
“O gato é uma maquininha que a natureza inventou; tem pêlo, bigode, unhas e dentro tem um motor. Mas um motor diferente desses que tem nos bonecos porque o motor do gato não é um motor elétrico. É um motor afetivo que bate em seu coração por isso ele faz ronron para mostrar gratidão. No passado se dizia que esse ronron tão doce era causa de alergia pra quem sofria de tosse. Tudo bobagem, despeito, calúnias contra o bichinho: esse ronron em seu peito não é doença – é carinho.”
(texto de: Ferreira Gullar)

“Caviloso. Essa palavra saiu da moda mas deveria ser reconduzida, não existe melhor definição para a alma do felino. E certas pessoas que falam pouco e olham. Olham. Cavilosidade sugere esconderijo, cave aquele recôncavo onde o vinho envelhece. Na cave o gato se esconde, ele sabe do perigo.”

Lygia Fagundes Telles

“De todas as criaturas de Deus, somente uma não pode ser castigada. Essa é o gato. Se fosse possível cruzar o homem com o gato, melhoraria o homem, mas pioraria o gato.”

Mark Twain

“São distantes, discretos, impecavelmente limpos e sabem calar. Falta mais alguma coisa para considerá-los uma excelente companhia?”

Rainha Maria Leszcynska

“Prefiro os gatos aos cães porque não há gatos policiais.”

Jean Cocteau

“A natureza dos gatos parece fundamentar-se no princípio de que nunca é ruim pedir o que se deseja.”

Joseph Wood Krutch

“O gato possui beleza sem vaidade, força sem insolência, coragem sem ferocidade, todas as virtudes do homem sem vícios.”

Lord Byron

“O gato é o único animal que conseguiu domesticar o homem.”

Marcel Mauss

“Mas todos os gatos já não são perfeitos?”
(Sonia Hirsch)
“Dentro adoram, pode ser gaveta, armário, cesta, saco de compras e, principalmente, caixa de papelão; dentro redondo, então, é irresistível, mesmo que seja pirex ou embalagem de sushi;
fora para tomar sol, paquerar passarinho, sentir o vento passar pelo nariz trazendo histórias nos cheiros;
em cima dos guarda-roupas, das prateleiras de louça, da televisão com o rabo no meio da tela, do monitor do micro, do livro ou do jornal que a gente está lendo: domem e fazem charme;
embaixo de cama, poltrona, sofá, colcha, tapete, para dar o bote quando a gente passa;e do lençol, quando a gente quer arrumar a cama;
junto conosco na cozinha em qualquer circunstância;
longe do aspirador, do liquidificador, de qualquer coisa que faça barulho e do veterinário, que também termina em dor;
perto de parapeitos, beirais, janelas e outros lugares que deixam a gente de coração na mão;
de papo pro ar, quando faz calor, patinhas largadas ao léu;
na gente de noite,quando faz frio: por cima e por baixo das cobertas, no meio das pernas, no meio das costas, em cima da barriga, do lado do corpo, ninguém consegue se mexer: humanos cercados por gatos por todos os lados;
tomando banho em grupo, todo mundo lambendo todo mundo, com muita saliva, muito som, as orelhinhas ficam encharcadas;
no chuveiro vendo aquelas milhares de coisinhas brilhantes(1) se mexerem(2) fazendo barulho(3): três coisas que gato ama;
no bidê bebendo água corrente com a língua a mil por hora;
em cima da cristaleira paquerando a mesa do almoço, de barrigunha cheia, mas ‘Quem sabe tem uma coisinha ali pra mim?’;
mordendo as perninhas traseiras da gata: o gato, quando quer que desocupe o lugar;
correndo a mil pela casa, Tom e Jerry ao vivo e a cores, e ai dos vasos;
comendo com os olhos os pombos que passeiam displicentemente debaixo do nariz deles pelo lado de fora da rede;
caçando passarinhos no oitavo andar, vitória que só um gato muito contemplativo, calmo, concentrado e sortudo como ‘Bigode’ consegue obter sem despencar lá embaixo;
fascinados por baratas: umas delas dura duas horas e meia para três gatos. O jogo é uma espécie de futebol em que a bola está viva. Termina quando acabam as pernas. Da barata.”
(‘Os Gatos’ de Sonia Hirsch)
“Os seis gatos gentis que me deixam morar na casa deles adoraram, e eu também. Desconfiamos que até aqueles cães bonitinhos do quarto andar gostariam, se não fossem… bem, cães. Nada pessoal, mas vocês sabem como é – eles passam a vida buscando o jornal na porta, mas não há jeito de fazê-los ler as notícias.”
(Cora Rónai, falando sobre o livro ‘Os Gatos’ de Sonia Hirsch

O gato
(Vinícius de Moraes)

Com um lindo salto

Lesto e seguro

O gato passa

Do chão ao muro

Logo mudando

De opinião

Passa de novo

Do muro ao chão

E pega corre

Bem de mansinho

Atrás de um pobre

De um passarinho

Súbito, pára

Como assombrado

Depois dispara

Pula de lado

E quando tudo

Se lhe fatiga

Toma o seu banho

Passando a língua

Pela barriga

O Gatinho Ficou Livre Afinal
Rose Arouck
Ele estava ali preso dentro da caixa da virtude.
Seu medo transbordava não deixando que ele mude,
ele nem podia quase se mexer.
Pobre gatinho! Como estava a sofrer.
Tentava rasgar as paredes da caixa,
que mais e mais seu pesadelo o encaixa,
livrar-se dos laços que o prendem, para dali correr,
mas, era muito pesada
para sua pata já tão machucada.
Ele quieto e triste ficava
miando um lamento de desconsolo,
pedindo socorro,
aranhando qualquer coração.
Sempre alerta ao menor sinal
o gatinho erguia as orelhas, como um canal,
para captar as falas que lhe chegavam.
Era manso mas estava feroz
e nada podia naquela hora calar a sua voz.
Cheguei como uma pluma ao vento
e pousei no seu lamento…
Com dificuldade retirei a tampa que o prendia;
ele sorrio com um miado sem tormento
e saiu pinotando de contentamento…
Vai gatinho! Vai vivenciar uma nova era!
Sua dona senhora lhe espera…
Ela está ápta a lhe oferecer nova quimera
e lhe dará para sempre esse sol de primavera.

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