Dr. Alberto Timm
Os defensores da “unidade na diversidade doutrinária” geralmente divergem da posição doutrinária oficial da Igreja, e buscam no assim chamado “pluralismo teológico” (uma espécie de democracia teológica) espaço para abrigar suas teorias e interpretações doutrinárias particulares. Gerhard F. Hasel, quando ainda dirigia os programas de PhD e ThD do Seminário Teológico da Universidade Andrews (EUA), me disse certa ocasião que o “pluralismo” simplesmente não existe. É apenas um rótulo que a pessoa usa para que suas ideias sejam aceitas. Mas, tão logo isso ocorra, o indivíduo se torna intransigente, como qualquer outra pessoa, para com as opiniões divergentes dos outros. Com o passar do tempo, tenho me convencido cada vez mais da veracidade dessa posição. O conceito de “unidade na diversidade” é realmente enfatizado por Paulo em 1 Coríntios 12 em relação à “diversidade nos serviços” (v. 5) e à “diversidade nas realizações” (v. 6). Ellen White declara que “pela diversidade dos dons e governos que Ele [Deus] pôs em Sua igreja, todos alcançarão a unidade da fé” (Testemunhos para Ministros, p. 29), e que “não devemos pensar que é nossa obrigação falar exatamente as mesmas coisas, representando as mesmas coisas por meio das mesmas palavras” (Manuscript Releases, v. 8, p. 67; Ibid., v. 9, p. 26). Mas em nenhum lugar da Bíblia ou dos escritos de Ellen White existe alguma insinuação em favor de uma unidade na diversidade de crenças e doutrinas. O que a Bíblia realmente ensina é a “unidade da fé” (Ef 4:13).
Na mesma epístola que fala a respeito da “diversidade nos serviços” (1Co 12:5) e “diversidade nas realizações” (1Co 12:6), Paulo também enfatiza a unidade doutrinária. Por exemplo, em 1 Coríntios 1:10, ele exorta: “Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer.” Em 1 Coríntios 4:6, é dito: “não ultrapasseis o que está escrito”. Em Gálatas 1:8 e 9, Paulo acrescenta: “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do Céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos pregue evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.”
Lamentavelmente, a identidade da Igreja está sendo hoje seriamente ameaçada por um número considerável de pregadores e escritores que colocam a criatividade e a imaginação pessoais acima do bom-senso interpretativo. Existe uma forte tendência de se substituir a autoridade normativa da Palavra de Deus por intuições subjetivas atribuídas ao Espírito Santo (cf. Mt 7:21-23). Desconhecendo os princípios básicos de interpretação bíblica, muitos se sentem na liberdade de atribuir ao texto sagrado significados artificiais, destituídos de um claro “assim diz o Senhor”.
A genuína unidade doutrinária só pode existir entre aqueles que reconhecem e aceitam a autoridade normativa da Palavra de Deus, e a interpretam adequadamente. Se aceitarmos o princípio de que devemos viver “de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4:4), jamais isolaremos partes das Escrituras em detrimento de outras. Se concordarmos que “a Bíblia é sua própria intérprete”, jamais nos sentiremos na liberdade de impor ao texto sagrado significados artificiais, não sugeridos pelo próprio texto. Portanto, mesmo em face à diversidade de dons e serviços dentro da comunidade de crentes (ver 1Co 12), devemos zelar pela unidade doutrinária e pela lealdade incondicional ao texto bíblico interpretado corretamente. É maravilhoso saber que nestes dias finais da história humana, caracterizados por inúmeras interpretações artificiais e teorias conflitantes, “Deus terá sobre a Terra um povo que mantenha a Bíblia, e a Bíblia só, como norma de todas as doutrinas e base de todas as reformas” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 595).
Fonte: Revista do Ancião (janeiro – março de 2009)
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