segunda-feira, 3 de setembro de 2018

NO DIA DO TRABALHO AMERICANO



PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ
Bertold Brecht

Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis:
Arrastaram eles os blocos de pedra?

E a Babilônia várias vezes destruída
Quem a reconstruiu tantas vezes?

Em que casas da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta?

A grande Roma está cheia de arcos do triunfo:
Quem os ergueu?
Sobre quem triunfaram os Césares?

A decantada Bizâncio
Tinha somente palácios para os seus habitantes?

Mesmo na lendária Atlântida
Os que se afogavam
gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou?

O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?

César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?

Filipe da Espanha chorou,
quando sua Armada naufragou.
Ninguém mais chorou?

Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?
Cada página uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?

A cada dez anos um grande Homem.
Quem pagava a conta?

Tantas histórias.
Tantas questões.


CANTO DAS MÁQUINAS
Bertold Brecht

1

Alô, queremos falar com a América

Através do Oceano Atlântico com as grandes

Cidades da América, alô!

Perguntamo-nos em que língua

Deveríamos falar, para que

Nos entendessem

Mas gora temos juntos nossos cantores

Que são compreendidos aqui na América

E em toda parte do mundo.

Alô, ouçam o que nossos cantores cantam, nosso astros negros

Alô, escutem quem canta para nós…



As máquinas cantam.


  2               

Alô, estes são nosso cantores, nossos astros negros

Eles não cantam bonito, mas cantam no trabalho

Enquanto fazem luz para vocês eles cantam

Enquanto fazem roupas, fogões e discos

Alô, cantem mais uma vez, agora que estão aqui

Sua pequena canção através do Oceano Atlântico

Com sua voz que todos entendem.



As máquinas repetem seu canto.


Isto não é o vento nas árvores, meu menino

Não é uma canção para a estrela solitária

É o bramido selvagem da nossa labuta diária

Nós o amaldiçoamos e o elegemos

Pois é a voz de nossas cidades

É a canção que em nós fala fundo

É a linguagem que entendemos

Em breve a língua-mãe do mundo.


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