O pesquisador norte-americano Nicholas Carr, autor do livro “A geração Superficial” explica que ao usarmos uma nova tecnologia não trocamos imediatamente de um modo mental para outro, porque o nosso cérebro não funciona como um sistema binário. Uma tecnologia intelectual, escreve, exerce sua influência deslocando a ênfase do nosso pensamento, padrões de atenção, cognição, memória. À medida que o cérebro se adapta à nova mídia, também desenvolve respostas que serão conhecidas somente em longo prazo. Deveríamos perguntar: o que ocorrerá com a forma como estamos lendo, escrevendo, pensando? Desde que os sumérios inventaram a escrita cuneiforme, possibilitando um maior controle sobre a economia, a humanidade deu vários saltos tecnológicos, criando novos símbolos e também novas concepções mentais. A linguagem e a fala são instrumentos que participaram do processo de cognição da espécie, entendida na forma de elaborar o conhecimento. Como explica Jefferson Azevedo, a história da linguagem é uma história da mente.
“- A internet e as redes sociais digitais utilizam-se de mecanismos que estimulam nosso aparato sensorial e cognitivo e, também, o sistema límbico, parte mais primitiva do cérebro, onde se originam sentimentos primários e instintivos, responsáveis pela autopreservação, como lutar ou fugir”.
Nova maneira de ler: pulando
Nicholas Carr argumenta que a internet descarrega o tipo de estímulo sensorial e cognitivo –repetitivos, intensivos, interativos e aditivos (viciantes) - que já foi demonstrado como provocadores de fortes e rápidas alterações dos circuitos e funções cerebrais. Por exemplo: como os usuários de internet leem? Simples, eles não leem. Eles permanecem 10 segundos numa página e já trocam. Carr cita uma pesquisa de uma empresa israelense que vende software para empresas interessadas em perfis de consumidores, realizada com um milhão de usuários em vários países. A maioria deles permanecia entre 19 e 27 segundo antes de trocar de página, e quando liam um artigo, no máximo duas páginas, e novamente trocavam. Trata-se de uma nova maneira de ler “por cima” e pulando. “estamos evoluindo de seres cultivadores de conhecimento pessoal para seres caçadores e coletores de dados eletrônicos”, define Nicholas Carr.
Tudo isso é muito interessante, mas na verdade é somente uma nova faceta do capitalismo, e como tal sempre tem os proprietários da tecnologia. No caso do Google, por exemplo, o criador Larry Page considera que o cérebro humano e o computador funcionam da mesma maneira. Não custa lembrar, como esclarece Fritjof Capra em A Teia da Vida que nós pensamos com emoções, baseados na experiência de vida e conectado com o ambiente. Porém, o gigante transnacional Google fatura os anúncios que os internautas ajudam a vender – quanto mais cliques, maior o faturamento. Segundo Carr na Googleplex, a sede da empresa no Vale do Silício, está sempre atrás de algoritmos perfeitos que conduzam os movimentos mentais dos usuários para determinado objetivo.
Cibernética inventada pelos militares
Também não custa recordar que a cibernética foi inventada pelos militares norte-americanos durante a segunda guerra mundial e toda a concepção de linguagem e de comandos está relacionada com a tecnologia de guerra. Última citação de Nicholas Carr:
“- Podemos supor que os circuitos neurais dedicados a vasculhar, passar os olhos e executar multitarefas estão se expandindo e fortalecendo, enquanto aqueles usados para a leitura e pensamentos profundos, com concentração continuada, estão enfraquecendo e se desgastando”.
O professor Valdemar Setzer, da Escola de Matemática e Estatística da USP é um dos maiores críticos da televisão, como veículo de comunicação, principalmente em relação às crianças e adolescentes, inclui também os jogos eletrônicos. Tem um extenso trabalho de pesquisa e divulgação sobre a influência maléfica desses meios nas mentes dos jovens. Ele insiste em uma questão fundamental: todos os meios eletrônicos, incluindo a internet, tem um efeito absolutamente garantido – aceleram o desenvolvimento, especialmente, o intelectual e o emotivo.
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