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A China e o Japão são atores geopolíticos fundamentais no continente asiático. O histórico do relacionamento bilateral é complexo, devido a guerras, à ocupação japonesa de parte do território chinês* e a desconfianças. As tensões entre as duas potências regionais continuam no século XXI, em especial no Mar do Leste da China. A relação, contudo, parece dar mostras de amadurecimento, com movimento de reaproximação, motivada por convergências em relação a temas econômicos.
Em abril de 2018, após 8 anos de pausa, foi restabelecido o diálogo econômico de alto nível** entre as duas nações. O Conselheiro de Estado e Ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, visitou Tóquio nesse mesmo mês, planejando encontros entre altas autoridades dos dois países que podem culminar em visitas recíprocas entre o líder chinês, Xi Jinping, e o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe. O Premiê japonês está interessado em aproximar-se da China no contexto de preocupações compartilhadas sobre o perigo de uma guerra comercial.
Ilhas Senkaku
O Presidente dos EUA, Donald Trump, impôs, em março de 2018, tarifas de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio, alegando questões de segurança nacional. Segundo muitos analistas, as medidas têm objetivo principal de afetar a China, que tem extenso superávit com os EUA. Para não prejudicar as relações com tradicionais aliados norte-americanos, o Presidente criou uma lista de isenções. Entre as ausências nessa lista, destaca-se o Japão. O país asiático foi desconsiderado e, em abril de 2018, a isenção foi negada, por causa do significativo déficit comercial dos EUA com o Japão. O presidente Trump admitiu mudar de ideia apenas se houver acordo bilateral com a nação asiática.
Por estarem submetidos à mesma tarifa e temerem os efeitos de uma guerra comercial, japoneses e chineses aproximaram-se. O Ministro das Relações Exteriores do Japão, Taro Kono, afirmou que “os países compartilham a percepção de que provocar guerras comerciais terá um efeito imenso na prosperidade da economia global”. Ambas as nações são contrárias ao protecionismo e defendem o multilateralismo como o caminho mais adequado para a discussão dos temas comerciais.
Apesar disso, há divergências pontuais no comércio. Os japoneses manifestam preocupação em relação ao histórico chinês sobre propriedade intelectual***, bem como sobre a falta de transparência. Essas observações, contudo, não impedem o desenvolvimento de maior intercâmbio comercial, tanto que o Japão, a China e a Coreia do Sul negociam um acordo de livre-comércio e, em março de 2018, houve a 13a rodada de negociações, em Seul. Nessa ocasião, as partes discutiram temas como comércio de bens, serviços e investimentos. A evolução das tratativas é positiva e pode impulsionar ainda mais as relações entre China e Japão.
O maior obstáculo à evolução para um relacionamento ainda mais profícuo refere-se às tensões no Mar do Leste da China. Os dois países disputam as ilhas Senkaku (ou Diayou, segundo os chineses) desde a década de 1970. A China argumenta que as ilhas faziam parte da soberania chinesa até a ocupação pelo império japonês desde 1895. Essa área pode ter reservas de petróleo e tem localização estratégica, o que motiva as tensões. Uma solução definitiva ainda não foi encontrada.
A retomada do diálogo no campo econômico é relevante para o degelo das relações bilaterais. Embora ainda permaneçam controvérsias significativas em relação a muitos temas das relações internacionais, incluindo uma disputa territorial, a aproximação econômica é positiva para o fortalecimento dos contatos em alto nível. Se houver um efeito spill-over****, os dois países poderão contribuir para estabilizar a área e evitar conflito bélico, resolvendo suas controvérsias de forma pacífica e madura.
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