LUCILAÇÃO DE BENS CONVERSÁVEIS
Que meandro ou cifra conduz
vossa angélica coragem de querer-me?
Não imaginas como valorizo
vosso broto inesperado na luz baça,
que a verme toda forma falsa reduz
ante a fonte incitadora da vida.
Tenro verde alerta sobre fundo neutro,
metade Dragão, metade broto de bambu,
relinchando no pasto das coisas
desprovidas de ânsia transitiva.
Mas antes, deves fazer uma pausa
e contemplar-se a si mesma
sem a fruição cotidiana de seus atributos.
Falo de separação entre presenças contíguas
mas ocultas, não percebidas de modo algum.
Amiga, todos esses vossos ensaios
soam frágeis na esquina comercial.
Deixei-a pensando em muitas coisas
sem a segurança estatutária do status quo.
Agora, quem és tu? Coleur de yeux
entre dois escritórios de bens conversáveis?
Privação táctil sem resposta, e três segundos
de premonições errantes, com as malas
abertaS na Via de Quatri Fontane?
Quanto ardil , quantas nádegas
de Miss Universo no catecismo do conforto, SÓ
para imaginar o novo corpo
onde se esboça a lucilação da floresta.
Amiga, a rua se transforma
em atalho vegetal e visão impiedosa
e os carros passam rápidos como notícias
entre formigas demasiado óbvias,
mas o liso rosto do Dragão
mesmo assim avança como um caranguejo,
crescendo como um cogumelo proibido
entre odores de petróleo e jaZmin.
K.M.
O CÚMULO
Naquele dia, os jogadores eram
figuras rabiscadas por crianças
enlouquecidas pela LUZ.
Era o CÚMULO!, com a água
pesada de bilhões de olhos
empalidecendo um antigo pacto
de sobrevivência, nos limites da matéria.
Apenas os pilotos supersônicos
do PACTO, sabiam que
entre o Sol e a falta de ar,
a chuva cairia na hora certa,
feito menstruação lunar. Minha juventude,
apesar dos decretos dos peritos,
não cabia mais no meu corpo.
Era vida demais: uma medalha
de urânio pulsando dentro do peito,
num tempo em que os pobres
eram considerados a sujeira útil do mundo;
tempo em que os suicidas cósmicos
rasgavam o cadeado do mundo
COM OS DENTES, num deserto de papel ofício,
e encurralavam os indecisos da Bolsa
que sujavam o mundo com suas ações.
Nos sub-bastidores das ações, entretanto,
as gentilezas do fracasso sorriam-se
IRONICAMENTE, abraçando-se
com velhos músculos gastos.
E flores envelheciam em segredo
amando seivas virgens alienígenas
que borbulhavam na Sombra.
Todas as noites, uma GRANDE ESCURIDÃO,
privada de tato e sentimentos,
esbofeteava a cara do mundo.
Acabado o ''amor'', despertava-se zonzo
e desarmado, burilando as pálpebras no espelho.
''Mas se a gente se ama muito''
(repetia comigo)
''NUNCA FICA FEIO.
O rosto, os olhos, os cabelos e os músculos...
TUDO FICA INFINITO
e esse amor segue crescendo tanto
que estraçalha qualquer estrelinha
que tenta dar na nossa cara com o coração
embrulhado num saco plástico''.
K.M.
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