segunda-feira, 10 de setembro de 2018

UIVO

As coisas estavam mornas,
insinuando-se em ''banho-maria'',
até que a Lua transformou
a ansiedade do poeta em névoa
entornando seus olhos no seu fantasma.
Quando os outros amantes da Lua
a contemplavam, ela minguava miseramente.
Mas os olhos do poeta a satelitizavam
até o limite, produzindo um fenômeno cultural.
Nuova Beatrice a entrar no quarto,
batendo vôo com suas fobias rasantes
sobre réstias de fala minha no lençol.
Mas a vontade de ser forte
me fazia correr através das bocas
mais estudadas do século, em busca
da verde reentrância da Lua.
Fácil não estava... o único acordo
entre nós, era o de que eu me degenerara,
e que minha feroz inocência de poeta
não servia mais como álibi.
''Outros satélites, menos improtantes,
mais sub-célebres do que eu,
caíram por você... FILHO DA PUTA!,
mas eu não: nem minhas gaivotas postais,
nem minhas cédulas comedoras-de-árvore''.
Consolava-me de sua agitação exterior
com minha enervante quietude interna,
dizendo-me que ela não sabia tudo a respeito.
e que não seria capaz de delatar, rindo,
a peleja da minha sombra com a dela
depois da meia-noite; nem poderia ver
até onde chegavam minhas antenas
na aurícula esquerda.
Ti ha no meu berretin inexpugnável
um triunfo letal, a prova de derrotas e olvido.
Ali, onde acabava o poeta, e começavam
os múltiplos tentáculos do polvo halterofilista,
a sombra do poeta armazenava suas pistas
SILENCIOSAMENTE
e comia sem queixa,
depois de uivar bastante.

K.M.

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