sexta-feira, 7 de setembro de 2018

BAVARDAGE?

O “falatório”, em francês, bavardage, ou ainda “tagarelice”, em português, é apresentado em Ser e tempo junto a um projeto bem preciso. Trata-se de pensar como o poder-ser (Sein-können) se realiza como temporalidade. Junto ao falatório, no entanto, o que é dito? O falatório acumula no ser-aí
uma série de dizeres dispersos e distrai esse ser quanto ao seu poder-ser mais próprio. O pensador afirma que é por evitar o retorno “à base e ao fundamento referencial” que se dá, no âmbito do falatório, um fechamento: a dispersão quanto ao sentido se transforma, então, em regra. Junto aos dizeres dispersos, o que se mostra aparece ainda como sendo a cada vez “algo que descobre”. Embora essa possibilidade, a da descoberta, seja capaz de mostrar a vocação fundamental do ser-aí como uma vocação para desvendar a verdade, os dizeres dispersos obliteram a possibilidade de um “retorno ao
fundamento referencial”.  No falatório, é criado um ciclo em que a abertura não é assinalada como o caráter próprio e originário do ser-aí... Neste movimento, a verdade, enquanto desvelamento, é ainda tida como devendo “ser sempre arrancada primeiramente dos entes (quando) o ente é retirado do velamento, (e) a descoberta em seu fato é, ao mesmo tempo, um roubo” (Idem, p. 291). Por que um “roubo”? – devemos perguntar. Roubo do véu, o falatório, que habitualmente encobre o ente para aquilo que mais particularmente lhe pertence, a saber, “o ‘ser verdadeiro’ do logos” (Idem, p. 63). No âmbito das configurações legadas por uma “metafísica decadente”, é impossível ao ser-aí realizar-se enquanto um próprio. Em outras palavras, o desvelamento, que traz um algo a ser desvelado (alethes) (idem), se realiza como  um “roubo” porque de outro modo tendemos a permanecer nos limites de uma metafísica decadente.

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