quarta-feira, 5 de setembro de 2018

PEDIDOS...

PEDIDO (não aceito)

Pediram ao Diabo, conspicuamente,
para não fazer diferença de peso
nas subidas. Mas no curso da vida
aquilo era muito complicado:
os poderes espirituais (os tais)
envenenavam a impostura política
com sua turva sintaxe de marshmallow.
Além da comparsaria do Mercado
e da inflamação n olho do BOI,
agradava-me os eflúvios de Paris
ponderando o leque das reações em cadeia
com ''espírito crítico'' e esperança.
A América fora abandonada
em seu auto-exílio analfabeto
quando tudo parecia caminho
para meu jogo de corpo na floresta.
Ironicamente, eu sublevara-me
atrás das cercas, dando nome
aos outros BOIS, e perdendo-me loucamente
nos perigos da erudição...
A Polícia Política do mundo
transformara meu cartel poético
na multinacional provinciana
de todas as formas de mercado.
Agora era assim: porque a vida
mudara mais que o necessário,
e o máximo que eu podia fazer
pelos semelhantes, era comer vagens
insossas na beira do caminho.

K.M.


PEDIDO II (aceito)

Brutalmente sincero hoje:
com uma fobia de permanência
admitida em público
na egoteca profissional;
talvez segurando o riso
e as manias, ao consultá-los...
pois vossa inocência me co-move
quando intento dialogar com vós.
Livresco até a medula, agrego
desenhos fraternos à minha fala,
mas tão ressentidos, que só posso
explicá-los com breves doses
de ÓDIO, delatadas em cada presságio.
Ódio que flameja como uma pátria
nos músculos, ocultando o fervor dos dentes.
No entanto, é totalmente em vão
que me satanizam ''trozo a trozo'',
pois se me olham, em vossos olhos
advinho pedidos de ódio solidário
e propostas inseguras de vigilância.
Vontade não me falta (retruco)
de meter-vos ''en el bidon escatológico'',
fodidos ou triunfantes, com o rosto
carregado das próprias sombras. MAS...
espero um minuto, acalmando-vos
com uma pródiga cascata de sinais
nas franjas calcinadas da ladeira.
Cara a cara, lacônica é vossa coragem;
breves vossas decisões; e pobre de proteínas
os discursos que aguardamos juntos.
Falaremos às vezes de bois perdidos,
calando os que encontrarmos no caminho
com nossos fantasmas transitivos
infiltrados em cada angústia instantânea.
Na trincheira dos povos despedaçados
juntaremos todos os remendos de esperança
num canto qualquer, gulosos de toda
sobrevida que nossa carne expurgar.

K.M.

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