Quando a noite chegasse ao fim
quando eu me levantasse e aceitasse
sem raiva, que tinha perdido:
que não podia salvar-me inventando uma pele
para o personagem e
entrando nele sem mais nem menos
esquecer as ansiedades do verso
que não tenho já que prender em palavras.
Minha vontade me impôs uma disciplina precisa.
Acordo depois da meia-noite, sem saber,
coberto de uma suadeira de angústia.
Lá fora o vento sopra furioso
e o céu está estrelado.
Desço até a ponta do terraço.
Engulo, na cozinha, um copo de vinho tinto.
Percebo uma dificuldade
a que nenhuma ação precisa
responde: se sofro a consequência de um erro.
É a situação do remorso.
Mas a transparência não resolveria nada
se não levasse a existência à intensidade do riso.
No riso o êxtase é solto, imanente.
O riso do êxtase não ri,
mas abre infinitamente.
A transparência é atravessada pela flecha do riso
saída de uma mortal ausência.
O amor pela flecha e o desembaraço
que nasce de um sentimento de triunfo,
quando só fosse possível manter o persoangem
num momento qualquer da noite
murmurando consigo mesmo e
cumprindo palavras e atos noturnos.
Ia ficar ali, próximo apenas para meu ouvido.
Determinados atos, cruzando previstas quinas,
tocando numa planta ou numa grade
para que o futuro seja tão irrevogável como o passado.
Agora hajo dessa maneira
para que o acontecimento que desejo
outra coisa não seja que o termo final de uma série.
Depois, saio para caminhar pela rua.
Certo de que este episódio será,
durante certo tempo, uma anedota.
K.M.
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