quarta-feira, 6 de setembro de 2017
DISPOSITIVO IRÔNICO
A máquina antropológica do humanismo é um dispositivo irônico, que verifica a ausência para o Homo de uma natureza própria, mantendo-o suspenso entre uma natureza celeste e uma terrena, entre o animal e o humano ---- e, portanto, seu ser será sempre menos e mais que ele próprio. Isso é evidente no manifesto do humanismo que é a oração de Pico della Mirandola, que continua inapropriadamente a se chamar ''de hominis dignitate , embora não contenha --- nem poderia de forma alguma se referir ao homem --- o termo dignitas, que signiifca simplesmente ''condição social ''. O paradigma que expressa é tudo menos edificante. A tese central da oração é, de fato ,queo homem, tendo sido moldado quando os moldes de criação se encontravam todos esgotados ( iam plena omnia (sic. archetipa ) ; omnia summis, mediis infimisque ordinibus fuerant distributa ), não pode ter nem arquétipo , nem lugar próprio (certam sedem ) , nem condição social ( nec munus ullum peculiare ). aliás, como como a sua criação se deu sem um modelo definido (indiscretae opus imaginis ), ele não possui propriamente nem mesmo uma face (nec propriam faciem ) e deve modelá-la a seu desejo de forma bestial ou divina (tui ipsius quasi arbitrarius honorariusque plastes et fictor, in quam malueris tute formam effingas. Poteris in inferiora quae sunt bruta degenerare ; poteris in superiora quae sunt divina ex tui animi sententia regenerari ).
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