Não menos que Hegel, o que Holderlin tentou formular foi a articulação definidora do momento criativo , do contexto temporal e do ponto no tempo no qual o poeta, o Dichter , estará pronto para a recepção de sua matéria ( onde Stoff carrega conotações mais específicas de ''motivo estético '' ou ''material ontológico poético '' ) . Será que acabaríamos entregues ao mesmo mundo das cartas de Keats, uma testemunha contemporânea de Holderlin ???? Sim e não . Leats tbm estava dedicado a identificar o momento e a descrever a circunstância concentrada do surgimento e do florescimento da criação . Mas o testemunho de Keats é essencialmente narrativo . Seu testemunho imagina e encena ; a introspecção que o caracteriza é formada por uma espécie metafórica de psicologia . Holderlin , numa estratégia típica da análise estética alemã a partir da Kritik der Urteilskraft de Kant , pretende realizar uma generalização sistemática e transformar a experiência em teoria. O espírito humano, afirma Holderlin , é ao mesmo tempo comum a todos e específico a cada indivíduo (tais dualidades ou aparentes contradições organizaram o argumento de Holderlin numa cadência voluntariamente hegeliana e dialética ) . O espírito está habilitado (hemachtigt) a reproduzir-se em sua própria encarnação pessoal e na de outros. O poético irradia em direção ao interior e ao exterior. O problema é que por meio dessa dinâmica de interiorização e exteriorização '' die Form des Stoffes identisches bleibt ''. É uma fórmula que deixa claro que nas relações dialéticas entre a criação e a recepção , a forma geradora , que modela o conteúdo , deve continuar resguardando sua identidade integral e originante . Mas é essa ''conservação de perfeita energia '' que se revela insustentável . O artista ou o poeta perceberá um conflito fundamental (Wiederstreit ) entre a identidade da obra consigo mesma e suas alterações durante o processo de expressão e recepção . A harmonia e a transformação ( como o ser e o não-ser de Hegel ) não são inseparáveis . Mas é exatamente quando o poeta ou o artista percebe esse conflito no nível mais intenso de seu desequilíbrio, quando essa divisão se torna completamente sensível (fuhlbar) que surge o momento da criatividade . É só nesse instante que o Ditcher está aberto para a Rezeptivitat des Stoffes ( recepção do conteúdo ) . É essa condição de tensão irreconciliável que, a rigor , pode dar forma ao estético . Surpreendentemente, o modelo de Holderlin antecipa ponto a ponto a identificação de Roger Session sobre a fonte da composição musical , que segundo ele consistiria na experiência imediata, para cada compositor, de ''níveis irreconciliáveis de energia '' . Se o GEIST criativo é inesgotável (unendlich ) , o que o relaciona às necessárias limitações de todos os signos articulados e executivos ???? Holderlin define a função a e finalidade da arte como die Vergegenwartung des Unendlichen (a presentificação do ilimitado, muito semelhante à filosofia blakeana do instante ) . Seu problema consiste em descobrir de que forma o que está em movimento constante , como o pensamento e os processos vitais, pode ser trabalhado como um dado ''pontual '' (mais uma vez, Punkt é um termo-chave ) . A atividade envolve uma contrariedade criativa, uma ''Entgegensetzung '' . O poeta opta livremente por opor-se aos clamores do não-finito. O que busca é uma mediação entre a identificação indiscriminada da criança com a integridade do mundo ----- recuperando em si as sugestões wordsworthianas do ilimitado ----- e a abstração voluntária que tende a adotar inevitavelmente uma forma expressiva mais limitada do ''momentaneamente eterno ''... Aliás, acredito que apenas René Char, entre todos os poetas modernos depois de Rimbaud e Mallarmé , tenha conseguido se aproximar com êxito da equivalência metafórica dessa noção intrincada mas fascinante : ''savait sourire , elle nomme, à la légère , occupe le fourneaou dans l´unité . Comment vivre sans inconnu devant soi ???................?
K.M.
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