quarta-feira, 6 de setembro de 2017
«O Dom das Línguas».
A concepção de um Fogo transcendente e universal, do qual nossos fogos são apenas pálidos reflexos, sobrevive nas palavras 'empíreo'' e ''éter''; esta última palavra deriva de ''aitho'', ''acender'' (sánscrito indh) e, incidentalmente, não carece de interesse que ''o tigre incandescente'' de Wiliam Blake nos recorde o ''aithones theres'' dos gregos, que se referíam assim ao cavalo, ao leão e á águia. O Rig Veda (II.34.5) fala de vacas de fogo (indhanvan = aithon). Para Ésquilo, Zeus ''estin aither'' (Fr. 65A; cf. Virgílio, Geórgicas II.325); no Antigo Testamento (Deuteronomio 4:24) e para São Paulo (Hebreus 12:29) ''nosso Deus é um fogo consumidor-devorador ( Noster Deus ignis (pyr) consumens est); e a epifania do Espírito é como ''línguas de fogo'': a conexão das línguas de fogo e a de falar em ''outras línguas'' também não é fortuita, e sim dependente da doutrina segunda a qual o Fogo (Agni) é o princípio da Fala (Vac) em Brhadarannyaka Upanishad I.3.8, etc.; Agni, o mesmo que o Daimon de Platão, aquilo que ''não cuida de nada, exceto da Verdade'', pois isso é ''satyavacah'' (Rg Veda Samhita III.26.9, VII.2.3). Cf. Satapatha Brahmana X.3.3.1, «O que o ocorre com alguém que toma conhecimento direto deste Fogo? Esse alguém prontamente se torna ''eloquente'', a 'fala'' não lhe falta, jorra em abundância''. Ver René Guenón, «O Dom das Línguas».
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