Prossigo no trabalho da razão, pontualmente,
deixado como um sedimento pela agitação das águas.
Cada um emprega o tempo como convém
mas meu tempo normalmente é escancarado
não sabendo eu onde ele começa ou onde acaba
não sabendo onde começa o trabalho, onde acaba
a agitação febril em desordem, meio distraído.
Contudo, sei como lidar com isso.
A angústia é latente e escorre em forma de febre.
Tudo está embaralhado. No instante decisivo
sempre alguma outra coisa por fazer:
começar, esquecer, nunca ''culminar'' nada
a meu ver , é o método certo
à altura dos objetos que instrumentaliza
que se assemelham ao mundo
como uma rede de ameaças sombrias.
Por isso vivo ao sabor de cada minuto.
Minha vida mistura tudo. O hedonismo.
A pirinola. O luxo. As cascas.
Odeio a angústia que: a) me cansa
b) faz da vida um fardo c) tira minha inocência.
A angústia é culpa. O movimento do tempo
exige a potência, o repouso do pensamento.
A potência está ligada ao repouso.
Culpado significa sem acesso à glória.
O que amo : as flores, o brilho do dia,
a suavidade nos ombros e colunas
e as másculas melancolias da música;
o que amava de absurdo, de bizarro,
era o brilho, o desejo de cegar.
Quanto mais louca é a beleza
maior e mais penoso é o dilaceramento.
O penar dos homens tem a vastidão da miséria
mas na glória, o penar e a angústia se consomem.
A possibilidade do desfalecimento é a base.
O riso mais tímido absorve um desfalecimento infinito.
*
Escrevo ao amanhecer. Como se o coração
fosse me faltar..... o mais amargo é para mim o mal-entendido
que desfigura a palavra ''glória''...........................................
K.M.
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