domingo, 17 de setembro de 2017

Este agenciar a palavra coletivamente recebe o nome de impessoal

Nos encontros de Deleuze com a literatura, o autor Franz Kafka é figura notadamente marcante na composição de seus escritos. Ao tratar da ideia do impessoal no texto kafkiano, conceito importante para explicar a singularidade de uma escritura ―sem autor‖ (grifo nosso), Deleuze inspira-se nos textos blanchotianos. Blanchot (1987, p. 16) afirma que ―escrever é quebrar o vínculo que une a palavra ao eu‖, não se trata mais da relação deste indivíduo com seu eu-pessoal, mas da experiência de um sujeito que se dispersa no mundo. Diante dessa dissipação, segundo Blanchot (1987, p. 11,12,15,17), o escritor encontra em seu próprio silêncio ou isolamento2 uma 2 Blanchot trata de uma ―solidão essencial‖, uma espécie de ―recolhimento‖ como condição ou parceria inerente ao escritor de uma obra. A mesma, ―não é acabada nem inacabada: ela é uma solidão extremamente povoada (DELEUZE; PARNET, 1998, p. 14). Trata-se da abdicação do eu que aponta para um coletivo. Este agenciar a palavra coletivamente recebe o nome de impessoal: Nunca tal ou tal indivíduo, nunca tu e eu. Nenhuma pessoa participa do coletivo impessoal, que é uma região impossível de trazer para a luz, não porque oculte um segredo estranho a toda a revelação, nem mesmo porque seja radicalmente obscura, mas porque transforma tudo o que lhe tem acesso, inclusive a luz no ser anônimo, impessoal, o Não-verdadeiro, o Não-real e, entretanto, sempre presente (BLANCHOT, 1987, p. 22).

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