segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Natureza essencialmente colaborativa

A Poíesis possui uma natureza essencialmente colaborativa, sobretudo naqueles aspectos que comprovam a dialética entre as forças políticas e econômicas de nosso presente. Daí que até etimologicamente esse termo grego signifique ''produção'' ou ''fabrico'' . Mas na verdade, o que pretendo apontar são as presenças eleitas que tantos criadores  constroem em si  próprios ou no interior de suas obras, os companheiros de viagem, professores, críticos , parceiros dialéticos e autoridades , e todas aquelas outras vozes que murmuram sob as suas, e que são capazes de conferir até ao mais complexamente solitário e inovador dos atos criativos a experiência de uma trama compartilhada e coletiva. 


K.M.

5 comentários:

  1. Por isso escritura não é só expressão ---- é uma linguagem enviesada que , pretextando falar do mundo, remete sempre a si mesma como referente e como forma particular de refratar o mundo. A escritura questiona o mundo sem se preocupar em oferecer repostas, e por isso mesmo oferecendo-as intuitivamente ; os acordes psíquicos que a escritura toca liberam a significação , como um choque de espreita, mas não fixam nenhum sentido. Nestas circunstâncias, o sujeito que fala não é pré-existente ou pré-pensante, não está centrado num lugar seguro de enunciação, como o escriba anestesiado pela Doxa, mas produz-se, no próprio texto , em instâncias sempre provisórias, como uma substância desconhecida e extremamente volátil cujo manejo requer uma incrível intensidade de concentração.

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  2. A própria escritura como inimiga N 1 da Doxa, ou Opinião Dominante (conceito de Barthes colhido em Brecht ) ; seu campo só pode ser o do paradoxo, naturalmente ; e como a Doxa está sempre recuperando as posições paradoxais , é necessário seguir se deslocando como Jack London ou Rimbaud, levando o discurso a exercer sua função crítica e utópica. Nenhuma repetição de receitas para recolocar a Roda do Dharma em movimento : o próprio impulso de nossa consciência, aproveitado iniciáticamente, nos leva ao ABERTO DO MUNDO onde o único valor estável parece ser mesmo essa linguagem indireta, telepática, auto-referencial e auto-suficiente que caracteriza o texto poético moderno (.) -----, eu disse.

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  3. Minha escrita é o termo de uma metamorfose cega e obstinada, partido de uma infra-linguagem que se elabora no limite da carne e do mundo, à medida que é expandida pela aquisição progressiva do nirvana. É o nirvana, ou o plasma, esse fogo consciencial que substitui, na consciência do escritor iniciado, as idéias e os pensamentos por idéias-palavras, pensamentos-palavras e palavras-valise e objetos parciais despedaçados dentro da mente onde a forma não mais exprime , mas ''faz '' o conteúdo.

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  4. . E essa escritura não se presta à análise tópica, como desejariam as velhas sentinelas críticas da Doxa. Podemos mostrar as técnicas que fazem um bom estilista, mas não podemos isolar aquilo que transforma um bom estilo numa autêntica escritura poética moderna

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  5. A capacidade de infiltrar-se e apropriar-se de qualquer discurso camaleônicamente, como um vírus editorial ?? Não existem aspectos secundários no método operativo do plasma, ele é uma substância viva atuando no texto. Por isso a escritura é essa ''rajada forte de enunciação ''. Um texto é realmente escritural quando nele ouvimos a voz única de um corpo, e a recebemos como um gozo : e o gozo não é analisável, nem recuperável por qualquer tipo de meta-linguagem .Ele é sentido como intensidade psíquica, como perda do sujeito pensante e ganho de uma nova percepção das coisas.

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