UMA PAIXÃO DE PROFESSORES.
Idade Média mal conheceu as aspirações conscientes para uma reforma da sociedade civil. O mundo era organizado segundo leis eternas indiscutíveis, impostas do outro mundo pelo supremo ordenador de todas as Coisas. Todo o trabalho dos pensadores, dos grandes construtores de sistemas, não significava outra coisa senão o empenho em disfarçar, quanto possível, esse antagonismo entre o Espírito e a Vida (Gratia naturam non tollit sed perficit). Trabalho de certa maneira fecundo e venerável, mas cujo sentido Nossa época já não quer compreender em sua essência. O entusiasmo que pode inspirar hoje essa grandiosa concepção hierárquica, tal como a conheceu a Idade Média, é em realidade uma paixão de professores35.
Entre o “supremo ordenador do mundo” e os “professores” encantados pela perfeição de suas próprias concepções, resta a diferença de que, para uma mentalidade medieval, a natureza estática dos valores podia ser um dado inquestionável e, no limite, produtivo36. É nesse sentido que se pode compreender o caráter “moderno” do influxo tridentino, como reação ao mundo que florescia mais ao norte, e que fundava uma outra concepção do indivíduo.
K.M.
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