A Outra Face da Inveja (2) ..
Aqueles que são invejados entristecem-se com o
rancor que sentem à sua volta; se são orgulhosos, por receio de algum prejuízo;
se generosos, por compaixão dos que invejam. Mas depressa se alegram: se..
(..)
Filosofia e Amor são completamente Antagónicos
Entre a filosofia e o amor não há
possibilidade de convivência. A filosofia exila a mulher e a mulher exclui a
filosofia. Os filósofos são todos cérebro sem coração nem testículos. Aqueles
que tiveram mulheres e filhos são filósofos menores, em segunda mão. Os maiores
são todos misóginos.
A filosofia tem relação com a castidade: quem
se aproxima da mulher não pode alcançar o absoluto. Os filósofos foram eunucos,
como Orígenes e Abelardo; ou virgens por eleição, como São Tomás e São
Boaventura; ou eternos celibatários, como Platão, Espinosa, Kant, Schopenhauer,
Nietzsche, como todos os maiores. Quem teve mulher, como Sócrates, considerou-a
empecilho e tortura.
São antes sodomitas, como Séneca e Bacon, ou
onanistas, como Rousseau, Kierkegaard e Leopardi - em todos os casos,
antifemininos. A mulher é a vida e a filosofia uma espécie de morte; a dona é o
primado do sentimento e a filosofia quer ser racionalismo puro; a mulher é
capricho e novidade e a filosofia ordem e sistema.
No entanto, a filosofia não se pode vangloriar
de vencer, com a sua força, a tentação de Eros - é verdade, ao invés, que a
frigidez e a impotência predispõem para a filosofia. Se virem um filósofo
marido e pai feliz, desconfiem da sua filosofia - pode ser, quando muito,
professor ou vulgarizador de metafísica, mas de modo algum um criador de
sistemas.
Giovanni Papini, in 'Relatório Sobre os
Homens'
(..)
Considero fundamental o estudo, e não apenas a
leitura, de três obras para uma boa compreensão acerca do que seja a personagem
Satanás – Diabo – e em conseqüência o que seja o fenômeno do satanismo: PAGELS,
Elaine. As Origens de Satanás – Um Estudo Sobre o Poder Que as Forças
Irracionais Exercem na Sociedade Moderna. Rio de Janeiro. Ediouro. 1996;
RUSSELL, Jeffrey Burton. O Diabo – As Percepções do Mal da Antigüidade ao
Cristianismo Primitivo. Rio de Janeiro. Editora Campus. 1991; RUSSELL, Jeffrey
Burton. Lúcifer – O Diabo na Idade Média. São Paulo. Madras Editora Ltda.
2003.
Poderia colocar entre estas as obras como de
Arthur Lyon (Culto a Satã), Joan O’Grady (Satã – O Príncipe das Trevas) e o
clássico dos clássicos “O Alfabeto do Diabo” do Dr. Kurt E. Koch, mas estes
embora se revistam de grande importância podem ser contadas junto a inúmeras
outras.
PAPINI, Giovanni. O Diabo – Apontamentos Para
Uma Futura Diabologia. Edição publicada em Portugal, Editores Associados.
Coleção Unibolso.
Quero acrescentar à lista mais seleta a obra O
Diabo (1953) de Giovanni Papini (1881-1956), escritor, literato, dramaturgo,
filósofo e intelectual italiano, durante muito tempo esteve ligado às correntes
céticas de pensamento, sofreu um violento processo de conversão ao catolicismo.
A partir de então a temática da espiritualidade marcou seus escritos.
Lúcido, inteligente e inusitado, seu livro O
Diabo gravita entre a ortodoxia e a heterodoxia, Papini, apesar de católico,
põe e expõe teorias e concepções acerca do diabo que não são abordadas há muito
nos arraiais do catolicismo, pelo menos não por abordagem semelhante.
Tendo lido diversas obras acerca do tema não
me contento com qualquer título que se propõe em discorrer sobre esta
personagem, todavia logo nas primeiras páginas percebi que tinha diante de meus
olhos uma obra singular, tanto pela pretensão, quanto por sua abordagem, e,
gostei do que me colocara a ler desde o princípio. Pois, como não gostar de um
autor cristão que ousa, logo em suas primeiras páginas, escrever tais palavras?
Ele chama-se, em hebraico, Satã, isto é, o
Adversário, o Inimigo; chama-se em grego o Diabo, isto é, o Acusador, o
Caluniador. Mas, é lícito, a um cristão, odiar o inimigo? É lícito, aos homens,
caluniar o caluniador?
Os cristãos, até à data, não têm sido bastante
cristãos para com Satanás. Temem-no, fogem-lhe ou fingem ignorá-lo. Mas se o
medo pode, uma ou outra vez, salvá-los das suas tentações, não é decerto arama
de salvação para o futuro e para o remanescente dos homens. Cristo, exemplar
divino do cristão, falou com Satã durante quarenta dias e acolheu o beijo
daquele em quem Satã se encarnara para O conduzir à morte. Ainda mais perigosa
do que o medo é a indiferença, que acaba, as mais das vezes, em cumplicidade
culposa das ofensivas diabólicas. Quem não esteja em guarda é mais facilmente
sobrepujado e capturado. Dsta vez também foi um poeta que adivinhou a verdade:
“La plus belle ruse Du Diable – escreveu Baudelaire – est de nous persuader
qu’il n’exist pas.” [1]
(PAPINI, S/D, P.13)
Talvez, não concordemos com todas as proposições
do autor, e tampouco partilhemos da credulidade que expressa acerca da
existência, poderes e possibilidades do Maligno, mas é difícil que deixemos de
reconhecer os méritos de Papini.
O texto está construído a partir da premissa
básica que afirma a necessidade a que conheçamos as informações, sobretudo
bíblicas, mas também extrabíblicas, sobre o Diabo. Deste ponto os capítulos
fluem investigando as teorias acerca de sua origem e natureza, da rebelião e
seus motivos; especula acerca do “sofrimento” de Deus pela queda de seu anjo
dileto, quais sejam as relações entre Deus e o Diabo, Cristo e Satã, como o
Maligno se relaciona com Gustave Doré (1832-1883). A tentação de Cristo. “E,
acabando o Diabo toda a tentação, ausentou-se dele por algum tempo.” (Lc.4,13)
os servos de Deus, qual sua relação com os
homens, quem são os amigos do Diabo, como o Diabo figura na Literatura, como
outras tradições religiosas vêem o Diabo – os persas, os gregos, os indianos e
os muçulmanos – quais são os aspectos e os costumes do Diabo, qual é a
utilidade do Diabo, e, qual será o fim do Diabo. Papini fecha seu livro com uma
bela peça – em três atos –, O Diabo Tentado (1950), carregada de lirismo e
fortemente influenciada pela obra do poeta inglês John Milton (1608-1674),
autor da célebre obra O Paraíso Perdido (1667).
Considero esta leitura edificante, mas cito as
palavras de C.S. Lewis (1898-1963), que considero o um alerta importante:
Há dois erros idênticos e opostos nos quais
nossa espécie pode cair acerca dos demônios. Um é não acreditar em sua
existência. O outro e nutrir um interesse excessivo e doentio neles. Os
próprios diabos (Sic) ficam igualmente satisfeitos com ambos os erros e saúdam
o materialista ou o mágico com o mesmo deleite.
(LEWIS, 1996, p. 9)
Bibliografia.
LEWIS, C.S. Cartas do Diabo ao Seu Aprendiz.
Petrópolis/RJ. Editora Vozes. 1996.
PAPINI, Giovanni. O Diabo. Lisboa/Portugal.
Editores Associados – Livros Unibolso. S/D.
[1] “O melhor truque do Diabo é persuadir-nos
que ele não existe”.
Apontamentos Para
Uma Futura Diabologia
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