Dispostos fundamentalmente na abertura para o evento (Ereignis) os futuros são homens não determinados só pela técnica. Para se encontrar inserido na disposição fundamental o homem deve se afastar voluntariamente do absolutismo calculador, tendo como meta alcançar um saber originário e verdadeiro. O saber ligado ao evento e conseqüentemente causador do choque do ser (Seyn), para Heidegger, está absolutamente atrelado a consciência de sua história. Isto quer dizer que a partir deste âmbito histórico agregado ao saber questionador, se decide o amanhã no vigor da disposição fundamental. Entretanto, o saber histórico requerido para a melhor apreensão do evento não deve ser obtido através da constatação e descrição dos fatos, mas deve se portar como um saber ocorrido no próprio fluir da época em que os futuros devem interferir. Heidegger recupera a idéia de ocaso como um percurso em um abismo, transposto através da sabedoria do evento (Ereignis). O caminho essencial no ocaso para o futuro é tido como uma preparação ao vindouro. É na silenciosa contrição do escutar poético em que vigora a decisão para se lançar ao princípio deste percurso. .
O caminho dos futuros permite reconhecer a ameaça constante à existência como adversidades a serem superadas pela capacidade de questionar essencial no saber do evento. Desta forma, o ser (Seyn) estaria ainda distante, pois com a chegada dos futuros, um período de adaptação é necessário para que os homens entendam as bases dialéticas desse novo pensar. Sobre o ocaso transpassado pelos futuros, Heidegger afirma na obra Contribuições:
Los que van-al ocaso en sentido esencial son aquellos que pasan inadvertidos por lo que viene (lo venidero) y se inmolan a él como su fundamento invisible venidero, los encarecidos que incesantemente se exponen al preguntar.
(HEIDEGGER, 2003b, p. 319).
Os futuros atravessam o caminho na posse da disposição fundamental e suportam o choque que um novo modo de pensar proporciona. Isso se mostra mais acentuadamente quando o homem percebe se tratar de uma intervenção onde o propósito maior é preparar o solo. A configuração tradicional da existência provavelmente sofrerá alterações com a chegada definitiva dos futuros entre nós e a mudança se colocará acessível à mais pura expansão do pensamento. Os futuros atravessam o ocaso e devem sempre nutrir consigo o pensamento questionador.
A intranqüilidade de não se encaixar numa sociedade viciada está essencialmente ligada à sabedoria do evento (Ereignis), responsável pela simples intimidade com as coisas, pela consciência do débito e do abandono do ser a partir da configuração presente no período da técnica moderna e da sociedade de consumo biotecnológica. A pergunta pela essência da verdade deve ser instigada ao próprio espírito daquele que deseja se preparar melhor para a meditação acerca da experiência poética como nova possibilidade de habitar nesta terra.
K.M
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