terça-feira, 8 de janeiro de 2019

A idéia de evidência.

Em Meditações cartesianas, Husserl  afirma que "o conceito genuíno de ciência, naturalmente, não deve ser moldado por um processo de abstração", mas por "'imergir a nós mesmos' nos esforços científicos e operações que a eles pertencem, a fim de ver clara e distintamente o que realmente está sendo almejado" (1969a, p. 9). Isso parece próximo ao que estou recomendando. Husserl nota que aquilo que melhor identifica a ciência é que ela é um "esforço para juízos justificados", e que "o cientista pretende, não meramente julgar, mas fundar seus juízos" (1969a, p. 10-1). É certo que o ponto central da prática científica está nessa atenção contínua voltada para o potencial de fundar cada juízo a cada passo na pesquisa. Nesse sentido, "a ciência sempre pretende julgar expressamente e manter o juízo ou a verdade fixada, como um juízo expresso" (p. 11). É isso que faz de "uma prova" uma prova. Entretanto, a prova não porta seu fundamento em si própria, embora frequentemente se entenda que sim; em vez disso, essa fundamentação é uma colaboração social viva e corrente, que emerge enquanto os cientistas interagem e se comunicam entre si. Eles oferecem razões uns para os outros e uns com os outros. Sua objetividade é uma realização social e, como tal, ela pode ser estudada em seus detalhes. Husserl refere-se a tais estudos, mas são apenas alusões, e eles não são considerados como estudos mundanamente situados: "se nós avançamos dessa maneira (aqui, naturalmente, nós estamos apenas indicando o procedimento), então ao explicar mais precisamente o sentido de um fundamento ou aquele de cognição, nós chegamos imediatamente à ideia de evidência" (1969a, p. 10). Por que seria legítimo "apenas indicar o procedimento" em vez de segui-lo até aprender sobre os detalhes contingentes do lugar?

Kenneth Liberman

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