Para corrigir o leitor
. O contraponto entre "sabedoria trágica" e "racionalismo socrático" revela-se estratégico para Nietzsche apresentar a música e a filosofia alemãs como os precursores do renascimento da cultura trágica em oposição ao "otimismo" lógico dominante na metafísica dogmática e no realismo da ciência moderna. Dentro desta chave podemos ler no parágrafo 18 o elogio "da enorme bravura e sabedoria de Kant e de Schopenhauer" que “conquistaram a vitória mais difícil, a vitória sobre o otimismo oculto na essência da lógica”(GT, 18; KSA1, p.118). A crítica de Kant ao desmascarar as verdades eternas das categorias da metafísica dogmática como criações condicionadas pela razão e não como verdades em si, tira o véu do otimismo lógico, o qual fundamentava o realismo das ciências modernas: Se esse otimismo, amparado nas aeternae veritatis [verdades eternas], para ele indiscutíveis, acreditou na cognoscibilidade e na sondabilidade de todos os enigmas do mundo e tratou o espaço, o tempo e a causalidade como leis totalmente incondicionais de validade universalíssima, Kant revelou que elas, propriamente, serviam apenas para elevar o mero fenômeno, obra de Maia, à realidade última e suprema, [...], e para tornar por esse meio impossível o seu efetivo conhecimento [...]. (GT, 18; KSA1, p.118) Os ideais do Romantismo alemão, a estética de Schopenhauer e a herança kantiana sustentam a posição crítica da obra de juventude em relação ao otimismo lógico da ciência moderna pré-crítica. A partir desse quadro referencial, pode-se compreender que Nietzsche ao analisar a origem e a morte da tragédia grega não se limita ao âmbito da reflexão estética, pois o objetivo central do texto consiste em apresentar a tese da eterna luta entre a consideração teórica do mundo (ciência) e a consideração trágica (metafísica de artista)
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