Eu canto esta erva que nasce comigo
neste instante liberto, e aos fermentos
do queijo, do vinagre, na secreta
floração do primeiro sêmen, canto
ao canto do leite que agora cai
de brancura em brancura aos mamilos,
eu canto os crescimentos do estábulo,
o fresco esterco destas grandes vacas
de cujo aroma voam as multidões
de asas azuis, eu falo
sem transição do que agora acontece
ao besouro com o seu mel, ao línquen
com suas germinações tão silenciosas:
como um tambor eterno
as sucessões soam, como no transcurso
do ser ao ser, e nasço, nasço, nasço
com o que está nascendo, eu estou unido
ao crescimento, ao surdo envolvimento
de quanto me rodeia, e que pulula,
propagando-se em densas umidades,
nos estames, nos tigres, e nas geléias.
Eu sou pertencente à fecundidade
e crescerei enquanto crescem as vidas:
sou jovem com a juventude de água,
sou lento com a lentidão do tempo,
e sou puro com a pureza do ar,
escuro com o vinho mais noturno
e só estarei imóvel quando seja
tão mineral que não veja nem ouça,
nem participe do que nasce e cresce.
Quando escolhi a floresta
para aprender a ser,
folha por folha,
escrevi as lições
e aprendi a ser raiz, barro profundo,
terra calada, noite cristalina,
e pouco a pouco mais, toda a floresta.
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