sábado, 19 de agosto de 2017

Como cai a chuva sobre o porto.



Torna-se mais real que a coisa buscada ausente
o gesto real das mãos visíveis que buscam 
Até caminhos sem sinais súbito se obscurecem
estremecidos, revelando, deslocando assentos
e tudo quanto tenho tido: este céu alto e
diversamente o mesmo. A memória tbm acode
o navio de prata e o desembarcadouro matutino;
névoa e espuma cobrem a ribeira
e um grito espectral cruza as ilhas;
farrapos de sons tocados por uma luz distante;
fragmentos de falsa vida que a morte doura de longe
com seu sorriso triste de verdade inteira.
Em pleno porto ferido do Oceano
miro as tranças de alguma noiva imaginária pronta para descer
e penso que tudo quanto tenho tido é o não ter sabido buscar;
minha alma difundida como dourado cereal, 
aberta às transmigrações marinhas das narinas
senhor feudal de pântanos mentais à tarde
e tudo quanto sou nestes meus pensamentos
e na perda súbita de luz da nuvem alta
(e não há, penso, ternura como a que cai
como cai a chuva sobre o porto).
O segredo, a verdade, a ventura talvez,
que houvesse em não sei que que tem por baixo da vida.
Lentas chegam as gotas, as recebe o espaço
e eu me perco bizarramente entre os versos do poema
como um pingo entre os demais.
Caindo sobre o telhado a luz deixa escorregar as mãos da queda;
o esterco, o silêncio e o despertar da ganadería
que muge na umidade sob o violino do céu...
Vago pingo trêmulo, clareando pequena, ao longe,
a primeira estrela da noite.

K.M.


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