terça-feira, 15 de agosto de 2017

Fragmento Teológico-Político WALTER BENJAMIN

Tradução livre do Colunista Luiz Ismael Pereira a partir dos textos em francês e espanhol: Fragment théologico-politique, tradução de Maurice de Grandillac, publicado em Oeuvres I, Paris: Gallimard, 2000, pp. 263-265; e Fragmento político-teológico, tradução de Jesús Aguirre, publicado em Discursos Interrompido I, Buenos Aires: Taurus, 1989, pp. 193-194 (N. do T.).


Só o próprio Messias completa todo o desenvolvimento histórico em que só ele redime, completa, cria a relação deste desenvolvimento com o elemento messiânico em si. Portanto, nenhuma realidade histórica pode por si própria referir-se ao plano messiânico. Porque o reino de Deus não é o telos da dinâmica história e não pode ser instalado como um objetivo. Historicamente, não é uma meta, é um termo. Por que a ordem do profano não pode ser construída sobre a idéia do reino de Deus, de modo que a teocracia não tem nenhum significado político, mas apenas um significado religioso. O maior mérito de O Espírito da Utopia de Bloch é ter negado veementemente qualquer significado político à teocracia.

A ordem do profano deve ser construída sobre a idéia de felicidade. Sua relação com o messiânico é um dos ensinamentos essenciais da filosofia da história. A partir dela se determina uma concepção mística da história, o que pode explicar o problema em uma imagem. Se  representamos por uma seta o objetivo ao qual é exercido a dynamis do profano e, com outra seta, a direção da intensidade messiânica, certamente, a busca da felicidade da humanidade livre tende a desviar-se desta orientação messiânica; mas também que outra força pode, em seu curso, favorecer a ação de outra força de uma trajetória oposta, portanto a ordem secular do profano pode promover o advento do reino messiânico. Se o profano não é uma categoria deste Reino, entretanto, é uma categoria dentre as mais relevantes de sua aproximação imperceptível. Na felicidade tudo que é terreno busca sua aniquilação e somente na felicidade é destinado a encontrá-lo. – Embora seja verdade que a intensidade messiânica imediata do coração, de cada homem interior em cada indivíduo, adquire através de infortúnio o sentido do sofrimento. Para a restitutio in integrum espiritual, que leva à imortalidade, corresponde um outra restitutio de ordem secular que leva a uma eternidade da decadência, e o ritmo dessa eternamente existência mundana transitória, transitória em sua totalidade, que o é em sua totalidade tanto espacial quanto temporal, o ritmo da natureza messiânica é a felicidade. Porque a natureza é messiânica por sua eterna e total transitoriedade.

Procurar essa transitoriedade, mesmo para esses níveis do homem que são naturais, tal é a tarefa da política mundial, cujo método deve ser chamado niilismo.[1]

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