quarta-feira, 3 de abril de 2019

"Leões de chácara" das grandes finanças? Obviamente, isso não ocorreu.


Pela necessidade ideológica de se contestar o comunismo ("o totalitário", "estatizante", etc.), o capitalismo apresenta-se com uma auto-imagem fictícia de portador de um projeto sempre autenticamente liberal e antiestatizante.
O que não é comprovado pela história da economia brasileira, desde a colonização (as primitivas sociedades por ações não começaram no Estado?), feita sob a égide dos empresários estatais. Lembre-se, igualmente, que a primeira experiência bem sucedida ao capitalismo de Estado ocorreu em Portugal (séc. XVI), o que. tem peso considerável na tradição brasileira, como bem o demonstrou Raymundo Faoro em Os Donos do Poder.
A estatização pós-64 não será, portanto, errática ou inovadora. Os empresários sempre dependeram do Estado, mas o Estado sempre teve, também, intenções empresariais (e aí, a "guerra das tetas" tem sua dose de verdade...). Desde o início, 64 foi o assalto dos empresários ao poder, embora, lembra Dreifuss, "protegidos e apoiados pelas Forças Armadas". Ao que parece, reclamam, hoje, quando a intervenção do Estado não se faz em beneficio de seus interesses.5 Nesse sentido, uma tese interessante defendida por Dreifuss se refere à mudança ocorrida com o próprio empresariado. Não se trata, aqui, de uma interpretação global para 64, mas de mostrar como se firmou uma "nova ordem empresarial" com características próprias e distintas do empresário tradicional, aquele que cultivava uma olímpica distância em relação àpolítica e, supostamente, ao poder.
Se é verdade, como aponta Dreifuss, que o bloco empresarial recorreu à intervenção militar apenas para desferir o "golpe final" no Estado populista, não há como abandonar, sem maiores qualificações, a tese – a meu ver ainda válida – de que os empresários acreditavam que os militares agiriam como "restauradores da ordem" e depois desalojariam o poder em seu benefício, nu papel de eficientes "leões de chácara" das grandes finanças. O que, obviamente, não ocorreu.

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