segunda-feira, 15 de abril de 2019

De olho na Casa Branca, democratas desafiam Wall Street



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CEOs dos bancos mais importantes dos EUA testemunham no Congresso, em Washington, em 10 de abril - AFP/Arquivos
AFP
Em campanha eleitoral e no Congresso dos Estados Unidos, os democratas desafiam constantemente os gigantes de Wall Street, proclamando a chegada de uma “nova era”, na esperança de canalizar a irritação de seu partido e de alguns de seus eleitores, um sentimento que aumentou desde a crise de 2008.
Na quarta-feira, os CEOs dos maiores bancos dos Estados Unidos foram convocados, pela primeira vez desde a crise financeira, para comparecer ao Congresso e testemunhar sob juramento.
Foi uma imagem poderosa que destacou a recente mudança no controle da Câmara de Representantes, que ficou sob controle democrata em janeiro, depois de oito anos de comando republicano.
“Esta é a nova forma. É uma nova era”, disse Maxine Waters, a primeira mulher e a primeira afro-americana a presidir o Comitê de Serviços Financeiros.
Tim Sloan, ex-CEO do Wells Fargo, testemunhou em uma audiência em março. Agora, foi a vez dos executivos do Citigroup, JP Morgan Chase & Co, Morgan Stanley, Bank of America, State Street Corporation, BNY Mellon e Goldman Sachs.
Waters entrou em contato com alguns deles no pior momento da crise, quando o sistema financeiro sofria graves problemas.
Essa rodada de interrogatórios tem menos a ver com a estabilização do sistema e mais com o impacto social de Wall Street.
“Vocês, capitães do universo, são suficientemente inteligentes e criativos e entendem este negócio tanto para ver o que podem fazer com esses cidadãos, esta gente jovem”, disse Waters.
Alguns dos democratas do comitê se concentraram em destacar a enorme distância entre esses executivos – todos homens, brancos e incrivelmente ricos – e o restante da sociedade. Para os republicanos, trata-se de um movimento apenas em busca das manchetes nos jornais.
Em uma discussão, Nydia Velázquez, uma democrata de Nova York, pressionou o presidente-executivo do Citigroup, Michael Corbat, para justificar seu pagamento em 2018 de 24,2 milhões de dólares, aproximadamente 486 vezes mais do que o do funcionário médio.
Corbat disse que esse valor foi estabelecido pela diretoria e que, se fosse um empregado médio que visse essa enorme diferença, “teria esperança, diante da oportunidade de continuar avançando”.
“Esta é a razão, pela qual as pessoas que vivem em uma bolha e em uma torre de marfim não podem entender a raiva, especialmente entre os millenials”, rebateu Velásquez.
– Contra-ataque
É esta onda de insatisfação, apesar dos números de crescimento e de emprego, que os democratas esperam aproveitar não apenas para manter sua maioria na Câmara, em 2020, como também para recuperar o Senado e a Casa Branca.
Wall Street e seus altos executivos já são uma parte-chave das campanhas presidenciais de vários pré-candidatos na disputa pela indicação democrata, liderada, até o momento, pelos “ultraprogressistas” Bernie Sanders e Elizabeth Warren.
“Nossa campanha é sobre assumir os poderosos interesses especiais que dominam nossa vida econômica e política”, prometeu Sanders.
Em outubro passado, o senador independente por Vermont – que apoia os democratas – introduziu um projeto para dividir os maiores bancos do país em unidades menores.
Há dez anos, Warren esteve profundamente envolvida no resgate e nas reformas ocorridas depois da crise financeira, o que fez da regulação de Wall Street seu principal tema de trabalho.
Warren já redigiu propostas detalhadas para desmantelar gigantes tecnológicos, aumentar os impostos para grandes empresas e reforçar as regulações financeiras.
A progressista é uma voz potente nesses assuntos no Senado, onde seu partido continua sendo minoria. Ela celebra a postura ofensiva de seus colegas.
“Os republicanos têm tentado, tão duro quanto podem, reduzir a supervisão dos maiores bancos, e os democratas agora estão lutando”, disse Warren à AFP.
“Os bancos ‘muito grandes para quebrar’ são maiores do que nunca. Têm formas de esconder os riscos em seus balanços, e pelo menos alguns deles foram pegos enganando repetidamente seus próprios clientes”, acrescentou.
“Foi assim que nos metemos em uma grande confusão em 2008, que quase destruiu a economia mundial, e é por isso que deveriam estar mais bem regulados hoje”, frisou.

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